24 floors (the maine)

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"Eu não preciso de ajuda, eu não preciso de ajuda, eu não preciso de ajuda". Ficava repetindo isso para mim mesma em minha cabeça. Depois de discutir com Jem tudo que eu queria era provar que ele estava errado, e daí que eu não como direito, ou prefiro ficar em casa? É claro que eu estou cansada, completamente exausta, passei as últimas semanas estudando o dia todo. E talvez eu tivesse desistido de algumas coisas, mas todo mundo faz isso nessa fase da vida, antes de ir para a faculdade todo mundo fica meio perdido sobre o que quer.

Eu não preciso de ajuda, é claro que, às vezes, eu sinto falta da Emma e isso pode me deixar bem triste, ela era minha melhor amiga, a melhor pessoa desse mundo. E eu também posso estar meio abalada por tudo que minha mãe falou e fez, ou melhor, com tudo que ela não falou e não fez, mas é porque ela é minha mãe. Talvez eu esteja me sentindo completamente sozinha e jogada no meio do meu buraco negro, mas é só porque o silêncio dessa casa está ensurdecedor.

James dormira aqui, entretanto, foi diferente dessa vez. Um silêncio estranho prevaleceu no final de semana e eu não sabia direito o que aquilo queria dizer, tinha receio de que ele voltasse a se irritar comigo ou que eu o chateasse de algum jeito com minhas palavras e atitudes, por isso não sabia o que falar. Jem, em contra partida, parecia apenas aéreo, como se alguém o tivesse prendido em uma bolha, ele estava apenas existindo ali. Mantivemos as falas básicas, dizendo o mínimo possível.

Quando ele foi embora, não consegui parar de pensar em como Jamie deveria me odiar agora, Jem só estava preocupado, assim como Tessa, mas, por algum motivo, isso não parecia certo, eu não deveria ser esse peso todo na vida deles, eles mereciam ser mais felizes que isso. Queria conseguir ser alguém melhor, realmente queria, mas não era tão simples assim.

No fundo de minha mente, conseguia ouvir essa voz dizendo que a única solução era mantê-los longe, mesmo assim, não era isso que eu queria. Queria que existisse um jeito de conciliar essas duas coisas, que eles não tivessem que lidar com o meu peso, mas sem eu ter que me afastar. Infelizmente, eu ainda não tinha essa resposta.

Eram os últimos dias de aula, mas eu mal saíra da cama. Não atendia o meu celular há dias e não me lembrava exatamente a última vez em que comera. Minha casa ficava fechada a maior parte do tempo, impedindo que os raios de sol realmente entrassem, era difícil dizer se era manhã, tarde ou noite.

Sempre que possível, minha mente me lembrava daquela estúpida prova de física. O professor deveria estar nas nuvens com o meu fracasso, talvez ele até escrevesse no final "eu avisei". Sabia que isso era loucura, mas a ideai de repetir o ano também era e mesmo assim ela estava acontecendo. Minha cabeça estava dando voltas, tinha perdido a noção de tempo então não tinha ideia se estava acordada a dias ou apenas algumas horas, mas decidi que era um bom momento para fechar os olhos, eu precisava fugir dessa realidade.

...

Mais uma vez eu estava naquela droga de rua, andando em direção a aquele estúpido prédio. Emma estava bem na minha frente, eu tentei correr, mas, dessa vez, na direção oposta, eu precisava fugir dali, ir para qualquer outro lugar. Já sabia qual era o final daquilo, sabia que falharia de novo, e não conseguia mais viver aquilo.

Entretanto, fora tudo em vão. Em um piscar de olhos, estávamos paradas no topo do prédio nos encarando. Emma estava sem expressão, congelada no lugar, como uma boneca.

- EMMA! – Chamei.

Ela continuou exatamente do mesmo jeito. A chuva forte caía e nos encharcava, mas ela parecia não notar, tentei chamá-la mais uma vez enquanto meu corpo começava a tremer de frio, mas a Emma Boneca continuou me encarando completamente imóvel. Hesitante, dei um passo em sua direção, tinha algo errado ali, o céu estava completamente preto assim como o horizonte, a única luz do lugar vinha de pequenas lanternas no chão, o resto do mundo estava apagado.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora