-Isa! Viagem de emergência do trabalho! Passarei um mês fora! – Minha mãe gritava de algum lugar da casa.
- Tudo bem! – gritei como resposta, estava no meu quarto lendo e nem ousei tirar os olhos da página.
Não era nada incomum, ela viajava de vez em quando para trabalhar, passava bastante tempo fora de casa, gostava de poder ficar sozinha. Era sexta à noite, e ela corria de um lado para o outro, enfiando roupas aleatórias na mala. Às vezes, entrava no meu quarto e logo percebia que o que procurava não estava ali, em seguida, voltava para dentro e pegava alguma peça de roupa no meu armário. Continuei lendo, não tinha nada melhor para fazer.
- Droga! Já estou atrasada! – exclamou ela.
"De novo" pensei.
O celular dela apitou avisando que o taxi chegara.
- Minha Nossa!
Ela continuava correndo, pegando os últimos itens necessários. Jogou o celular na bolsa e puxou sua mala para a porta.
- Isa! Tenho que ir! – Ela começou a gritar.
Suas malas caiam pelo caminho. Levantei-me e a ajudei com o peso, fiquei na ponta dos pés para ficar na altura de seu rosto, beijei-lhe a bochecha e desejei boa viagem. Era assim, sempre que ela precisava viajar, seguíamos essa rotina como um ritual não dito.
Ao longe, ouvi meu celular apitar, tamanha era a raridade disso acontecer que me rendi a tecnologia. Era Alice me mandando uma mensagem de texto:
Hey, Isa! Sei que você não tem saído tanto, mas eu, a Clara e um pessoal vamos naquele bar perto da sua casa. Se quiser, aparece lá umas 22h. Sinto sua falta.
Não. Definitivamente não iria. Lembrava-me que quem me convencia sempre de ir nesses encontros era Emma, sou antissocial demais para essas coisas, mas agora só queria me afastar de Alice e Clara e mantê-las seguras.
Voltei ao meu livro, mas ler estava se tornando impossível, estava sentindo uma overdose de memórias chegando e o silencio da casa estava me sufocando cada vez mais. Precisava de ar. Peguei o casaco, coloquei meu tênis all star cano alto preto surrado e sai para caminhar.
Andei pelo bairro tentando me distrair, tentava focar os pensamentos em coisas bobas como Alice e Clara saindo com os populares e indo à bares. Sem que percebesse, meus pés me conduziram até a entrada do lugar de encontro deles. A música lá dentro estava alta e o cheiro de tabaco era forte. Conhecia o lugar por causa de Laura, minha vizinha. Ela era mais velha, tinha 19 anos, apesar de aparentar ter mais, e trabalhava naquela espelunca.
Ainda era muito cedo para Alice e Clara estarem ali e pensei em entrar para tomar algo, ou apenas gastar o tempo. Sei que sou menor de idade, mas Laura nunca se importou com isso, pelo menos, não depois de nosso encontro. Foi há dois anos, antes de eu conhecer Emma, e Laura foi uma das primeiras meninas com as quais eu saí, ela é uma garota incrível, mas acabei seguindo em frente.
O bar não estava tão cheio, apenas os bêbados de plantão, os quais eu ignorei com facilidade. Avistei Laura no balcão e me aproximei:
-Eai?
-Mamãe viajou, foi? – provocou-me ela.
- Você sabe que ela não me deixaria vir aqui assim, mas só estou de passada.
- Mais uma rodada para mim! – um homem velho, gordo e vermelho gritou do outro lado do balcão.
- Um minuto. – Falou Laura enquanto se afastava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Anatomia do Cacto
RomanceEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...