-Emma? Emma?! – chamei pelo o que parecia ser a centésima vez, quando ela finalmente olhou, seus olhos castanhos brilhavam. – Estava perdida na Emma City? – Falei rindo.
Emma abriu um sorriso sem graça, como se pega em um momento íntimo e inesperado. Era um daqueles dias em que nós fugíamos para o pátio de trás de um daqueles prédios de gente rica do bairro. Costumávamos apenas nos jogar na grama e ficar lá a tarde toda.
- Só estava... Pensando. – Foi o que ela respondeu.
Levantei meu corpo e me encostei em uma árvore próxima para que pudesse olhar Emma enquanto falava. Emma andava muito distraída ultimamente e estava muito difícil entender o que estava errado. Seria algum problema em casa? Com ela? Algum namoradinho novo?
- Pensando... – Saboreei um pouco a palavra. – Você anda pensando muito esses dias, posso até ver a fumaça saindo de suas orelhas, se continuar assim vai dar tela azul. – Tentei tirar uma risada dela, mas tudo que consegui foi mais um sorriso tímido.
Estávamos apenas nós duas porque Clara e Alice de fato moravam em prédios de gente rica e, apesar delas gostarem de sair com a gente, nesse caso, elas sempre arrumavam uma desculpa para pularem fora. Emma e eu já nem nos dávamos o trabalho de chamá-las mais.
- É só... As coisas estão meio estranhas. Quero dizer, só estou me sentindo meio estranha, acho que é só cansaço.
Olhava para ela ali, deitada no meio de uma coberta verde de grama, o Sol de fim da tarde deixando seus cabelos ainda mais loiros. Queria me aproximar dela e abraçá-la, dizer algo legal que a fizesse se sentir bem, queria que ela me falasse o que estava acontecendo, mas não queria insistir, talvez fosse apenas cansaço.
- Não foi aquele seu namoradinho babaca te enchendo de novo, não foi? Porque, sério, estou louca para você me deixar dar um chute no saco dele.
Agora ela abria um sorriso genuíno.
- Não... Primeiro, EX-namorado, e o nome dele é Octávio.
- Octávio, Otário, Namoradinho Babaca... Que diferença faz?
Emma se levantara também e me olhava, rindo de verdade.
- Você não precisa chutar o saco dele, já falei. Mas agradeço a oferta.
Ela voltou a se deitar, mas dessa vez no meu colo. Fiquei brincando com suas mechas de cabelo e desejando poder viver esse momento para sempre. Uma parte de mim gritava para que Emma me amasse como eu a amava, mas outra parte gritava para eu apenas calar a boca, porque viver sem ela seria difícil demais, então não poderia arriscar.
Fiquei olhando para ela, e ela para o céu. Imaginava como seria se eu colocasse meus lábios nos dela, qual seria o gosto de seu beijo? Talvez morango, como sua bala favorita que ela sempre tem no bolso. Qual seria sua reação? Ela me beijaria de volta ou iria embora para sempre?
Talvez fosse melhor só imaginar por enquanto.
...
O sol nascia e eu tinha passado a noite em claro. Sai da cama e comi qualquer coisa na cozinha, não tinha energia no meu corpo para viver o dia, mas Laura logo apareceria e eu precisava ficar bem.
Sentia meu rosto inchado, amassado e melecado de lágrimas, meu corpo dolorido e minha mente cansada. Precisava de um banho quente e longo, tinha que mostrar que estava bem. Decidi então que essa era minha missão da manhã.
Minha mão latejava me lembrando da estupidez da noite passada, precisaria dar um jeito nela antes de Laura aparecer. Tomei banho e me troquei, parei por um momento e encarei aqueles cortes, de alguns começava a sair sangue novamente, mas outros pareciam mais cicatrizados. Com a outra mão peguei a caixa de remédios e procurei por algo que pudesse limpar isso, não teria jeito, precisaria fazer um curativo ali, a situação não estava muito bonita para ficar a mostra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Anatomia do Cacto
عاطفيةEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...