misery (the maine)

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Domingo foi um longo dia. A cada 10 minutos eu olhava para o meu celular em uma esperança inútil de receber uma mensagem de Isabelle. Afinal, o que eu esperava? Uma carta de amor?! Ela tem 17 anos e é minha aluna. Não é como se ela tivesse "sentimentos" por mim. Não importava o que aquela Laura tinha dito, Izzy não tinha sentimentos por mim.

Continuei com a velha rotina, organizei aulas, provas. Fiz algumas pesquisas, mais uma dezena de coisas de adultos. No final do dia tirei uma folga para assistir How I Met Your Mother, mas meus pensamentos não saiam de Isabelle. Tinha alguns flashes da noite passada, lembrava-me de desistir e ir até o bar, lembrava-me que estava tão cansada que me recusei a me importar com as conseqüências.

Tinha a vaga lembrança de alguém me tirando da mesa, a voz parecia ser de Izzy, mas estava tão bêbada que tive medo de confiar nos meus conceitos, fazia mais sentido ser apenas um desejo, um sonho meu. Sabia que tinha vomitado, e sabia que ela estava do meu lado nesse momento, mesmo que eu tenha tentado afastá-la, ela se aproximou e me impediu de cair.

Felizmente, apesar da dor de cabeça que tive, lembrava-me claramente da conversa que tivemos à noite. A imagem de Isabelle chorando e gritando enquanto dormia se repetia na minha cabeça. "A insônia costuma não respeitar minhas vontades", ela havia dito. Em minha mente, suas sonecas diárias na escola começaram a fazer sentido.

Fiquei pensando na Isabelle de sábado de manhã, esforçando-se fortemente para mostrar que estava bem, entretanto suas olheiras e o cansaço tatuado em cada parte de seu corpo não mentiam. A sensação de sua pequena mão na minha tirava meu foco, sua mão preocupantemente machucada.

Não conseguia! Precisava de Isabelle, precisava olhar para ela e saber que está tudo bem, porque essa sensação de que alguma coisa estava terrivelmente errada não parava de me atormentar. Quando deixei sua casa de manhã não pude evitar um olhar por sobre o ombro, uma vaga esperança de que ela me chamaria de novo. Não aconteceu, é claro.

Pensava em como ajudá-la. Só queria que ela soubesse que está tudo bem, queria me desculpar por ter sido tão insistente, não era justo forçá-la assim. Queria que ela soubesse que não foi por mal e que, daqui para frente, respeitaria suas vontades. Considerei ir até sua casa dizer isso, mas seria informal demais, eu era sua professora e não podia me esquecer disso. O jeito era engolir a ansiedade e esperar até segunda-feira.

...

O sol nascera em algum momento. A sala já estava iluminada e não tinha a menor ideia de quanto tempo se passara. Estava zonza e minha barriga se revirava com a falta de alimento e o excesso de pílula. Só tive tempo o suficiente de virar o corpo antes de passar mal e colocar tudo para fora. Entretanto, não tinha vontade de levantar, não estava pronta. Queria continuar ali, queria continuar escondida.

Arrastei-me para o lado. Tudo girava. As imagens de Tessa e Emma apareciam e sumiam em minha mente.

Tomei mais pílulas, até apagar.

...

Finalmente tinha conhecido a grandíssima professora Tessa. Talvez fosse pessoal, mas não tinha ido com a cara dela. Não que ela não parecesse legal, só... Não parecia boa o suficiente. Talvez Izzy precisasse de mais tempo e Tessa não estava ajudando.

Era segunda-feira de manhã quando meu celular tocou:

-Alô?

-Laura? Tudo bom? É a Dona Lucia, mãe da Isabelle...

-Ah! Oi, tia, tudo bem? – estranhei tal ligação repentina a essa hora da manhã.

-É, sim... Está tudo bem aqui. Sabe, eu estou viajando e a Isa está sozinha em casa. Por algum motivo ela não me mandou nenhuma mensagem ontem e estou meio preocupada...

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora