space (seventeen)

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- Srta. Laura? Srta. Laura? Você está me ouvindo?

Concordei com a cabeça rapidamente. Parecia ser a centésima vez que o médico repetia a mesma explicação de como Izzy havia se envenenado com aquele remédio. Ele repetia a mesma série de perguntas tentando descobrir exatamente o que tinha acontecido, e eu mantinha todas as respostas iguais, genéricas e sem informação alguma, além do que eu sabia ser relevante.

Sabia que Isabelle se meteria em uma baita encrenca se sua mãe descobrisse, sem falar da preocupação. Tinha em mente que isso não ajudaria em nada, Izzy já tinha se afastado demais de nós e essa era minha chance de tentar recuperar algo. Não falaria nada comprometedor antes de falar com ela, e essa era a minha decisão final.

- Doutor? – Felizmente, uma enfermeira o interrompeu. – Ela acordou.

Meu coração deu um salto no peito e eu segui o médico até o quarto de Izzy.

- Srta. Isabelle, como você está se sentindo?

- Bem... Eu acho. – Izzy falou com certo receio na voz.

- Tudo bem. – O médico falava enquanto a examinava e fazia anotações. – Precisaremos ficar de olho em você ainda, mas por enquanto é isso. Deixarei vocês duas a sós.

Assim que entrei no quarto me dirigi para o lado da cama de Izzy e, ignorando o fato de que ela estava deitava numa cama de hospital, a abracei o mais apertado que pude.

- Isabelle, o que você tem na cabeça? – Queria ficar brava com ela e mostra-lhe como tinha sido irresponsável, mas ao vê-la ali, só conseguia pensar em como eu era grata por ela estar viva.

- Eu... Eu sinto muito. Eu... Eu... – Isabelle colocou as mãos no rosto como se quisesse sumir dali.

- Izzy? – Sentei-me ao seu lado e segurei uma de suas mãos, tirando-a de seu rosto. – Sua mãe não sabe de nada, falei que você comeu algo e que lhe fez mal, então decidi passar uns dias com você.

- Obrigada. – Foi tudo que ela disse.

Isabelle não me encarava, apenas olhava para baixo, em silêncio.

- Isabelle, por quê? Por que você desistiu?

- Eu... Eu não sei. – Pude ver seus olhos brilharem e uma lágrima escorrer. – Quero dizer, são esses pensamentos, eles não param, Laura. Não param!

- Hey, está tudo bem...

- Não. – Ela me interrompeu. – Não está, La. Você não vê? Não está nada bem!

- Isa, - Levantei seu rosto delicadamente a fim de olhar em seus olhos que nunca estiveram tão azuis. – por favor, deixe-me te ajudar, por favor.

As lágrimas continuavam escorrendo por sua face e, em algum momento, pela minha também.

- A culpa é minha, Laura. EU a matei. Ela está morta e a culpa é minha!

- O quê? O que você quer dizer?

- Emma! Ela está morta e a culpa é minha! Eu não consigo parar de pensar nisso, ela estava tão mal e eu não percebi... Eu estava lá, ela estava bem na minha frente... Eu tentei, eu juro que tentei! - Agora Isabelle caía em lágrimas, mal conseguia falar. – Eu tentei, mas ela simplesmente continuou andando. E eu não fiz nada!

- Hey! – A abracei mais forte, dessa vez, ela retribui o abraço e deitou a cabeça no meu ombro, molhando-o de lágrimas. – A culpa não pode ser sua, Isabelle.

- É sim...

- Izzy... Ela estava quebrada, mas ninguém conseguiu ajudá-la. E ninguém é "culpado" por isso. Na verdade, se quiser culpar alguma coisa, culpe o mundo, porque foi ele quem a machucou, foi a vida, não podemos proteger as pessoas de se machucarem. E sinto muito, mas Emma não quis ser salva, Izzy, e isso não pode ser culpa sua.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora