symphony (Clean Bandit feat. Zara Larsson)

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Primeiro dia de aula, era oficial, o segundo semestre do ano começava, mal terminara a primeira aula e eu já não aguentava mais. Conversara com James ontem até tarde da noite e, apesar do cansaço, não conseguira dormir muito, Tessa simplesmente não saía da minha cabeça.

Ouvi o sinal tocar e senti um calafrio passar pelo meu corpo. Assisti o professor sair da sala e eu sabia que a qualquer momento agora ela entraria ali. Fiquei imaginando como seria isso a semana passada inteira, ela falaria comigo ou ela fingiria que nada aconteceu? Ela me ignoraria? O que eu faria? Eu precisava decidir como eu agiria, independente de qualquer coisa.

Então ela entrou. Seu cabelo estava meio preso num rabo, mas com algumas mechas caídas, ela vestia uma calça jeans clara com uma camiseta preta e uma camisa xadrez preta e vermelha aberta por cima, os traços vermelhos da roupa destacavam mais o ruivo de seu cabelo, fazendo-o parecer fogo enquanto o tom preto da roupa destacava os traços mais escuros de seus olhos cinza, ela estava mais linda do que nunca.

Como de costume, Tessa foi direto até sua mesa colocar suas coisas antes de olhar para a sala de verdade, continuava me perguntando o que fazer. Estava sentada no lugar de sempre, no fundo, perto da parede, mas eu não sabia como agir, eu não a queria distante, nem por mais um dia que fosse, eu não agüentava mais isso.

Tessa então começou sua aula e foi como um clique em minha cabeça: "Você não pode fazer isso com ela", começou o pensamento que não saíra da minha cabeça, "você não pode destruir a vida dela assim". Após horas conversando com James e muitos pacotes de bolacha Negresco e achocolatado, cheguei à conclusão que não iria desistir, prometi isso a Jamie, mas eu me recusava a arriscar seu emprego. Por mais que ele falasse comigo, esses pensamentos não saíram de mim, eu não queria mantê-la afastada, mas como eu podia fazer isso com ela?

Olhava para Tessa e eu sabia pelo o que ela tinha passado para chegar ali, o que de fato aconteceu para ela acabar trabalhando nessa escola, não seria tão simples apenas sair, ela dependia do salário. Deixei minha cabeça cair na mesa, encima dos meus braços, escondendo o meu rosto, "conversa com ela" James dissera inúmeras vezes ontem, "eu acho que vocês duas precisam sentar e conversar sobre isso ao invés de ficarem deduzindo coisas sobre a outra!". Talvez ele tivesse razão, apesar disso, não conseguia parar de pensar em Tessa dizendo que isso é um "erro".

Fechei os olhos e respirei fundo, ainda escondendo o rosto. Eu ouvia sua voz enquanto ela dava aula e como um flash em minha mente começava a passar o beijo de novo, de noite quando ela estava bêbada e de manhã, quando eu não consegui mais me segurar, como ela sorrira quando minha boca estava na sua. Senti que uma lágrima teimosa escorreu pelo meu rosto e o desespero me invadiu, ela não podia saber que isso me machucava, ela já tinha problemas demais.

Limpei o rosto meio sem jeito tentando mantê-lo escondido nos meus braços, respirando fundo mais uma vez, arrisquei olhar para ela, ainda com a cabeça apoiada na mesa, e foi nesse exato momento em que meu olhar cruzou com o seu. Coincidentemente, decidi olhar para Tessa no mesmo momento em que ela decidira olhar para mim. Paralisei onde estava e a encarei de volta, ela estava claramente cansada, como se não tivesse dormido a noite, ou talvez tivesse chorado muito há pouco tempo. Eu queria perguntar como ela estava, queria saber como foram suas últimas duas semanas, se sua mãe voltara a encher ela, e se ela sentia falta de seu pai. Queria puxá-la para fora daquela estúpida escola e dizer bem alto como eu me sentia, deixar claro que eu não queria desistir, que eu não acho tudo isso um "erro" e que nós podíamos lidar com os problemas que aparecessem!

Entretanto, naquele breve momento em que nossos olhares se cruzaram foi como se nada tivesse acontecido, como se ela nunca tivesse me beijado, como se ela nunca tivesse salvado minha vida, como se ela nunca tivesse ficado bêbada e dormido no meu sofá. Foi como se os momentos em que nós sabíamos que estávamos ultrapassando algum limite, quando ela segurava minha mão ou quando nós só estávamos próximas demais, fossem nada.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora