Sai da escola sentindo o meu corpo todo tremer, andava devagar, hesitante. Queria continuar ali, queria estar do lado de Tessa, mas sabia que isso não seria possível. Finalmente, consegui andar até a rua, era só seguir pela calçada que logo estaria em casa, mas parei por um momento, olhando para a escola atrás de mim. Eram poucos os alunos que ainda não tinham ido para casa, nenhum deles olhava para mim. Minha ansiedade era palpável e mal sabia como respirar, continuava sentindo meu corpo tremendo e essa estranha vontade de gritar ou vomitar.
Comecei então a ir para casa, deixando pouco a pouco a ansiedade sair, porque ela já não cabia mais dentro de mim. Meus passos lentos e hesitantes logo se tornaram passos largos e rápidos. Por fim, antes que eu percebesse, eu estava correndo o mais rápido que eu podia até em casa. Não parei para olhar as árvores, nem se Laura estava no trabalho, não parei nem mesmo quando eu senti minhas pernas arderem e minha visão embaçar, continuei me forçando a ir cada vez mais rápido.
Só parei quando finalmente entrei em meu apartamento e tranquei a porta. O suor escorria pela minha testa e sentia minha camiseta encharcada, estava ofegante e cada músculo de meu corpo queimava. Larguei minha mochila em um canto qualquer junto com os meus tênis, andei mais um pouco antes de simplesmente me deixar cair no chão no meio da sala. O que foi que eu fiz?
Não tirava esse pensamento da minha cabeça, a pergunta ficava se repetindo incessantemente. A frustração era imensa, como eu podia ter feito isso de novo? Como eu poderia ter machucado alguém assim de novo?! Estava tão irritada agora que lágrimas escorriam pelos meus olhos, eu queria muito poder socar algo, mas não tinha energia para sair do chão. Entretanto, sentia tudo aquilo subir por mim, cada momento em que nós arriscamos, eu sabia o que estava em jogo, eu deveria ter impedido isso. Gritei com todas as forças que eu podia, deixando-me chorar até soluçar. Estava tudo acontecendo de novo, eu estava machucando as pessoas ao meu redor de novo!
Olhei para o meu celular que eu tinha deixado cair ao meu lado, eu poderia mandar uma mensagem para ela, ou até mesmo ligar, eu deveria fazer isso, eu queria, precisava saber se estava tudo bem, mas como?! Como eu poderia me aproximar dela?! Eu não podia mais fazer isso, não podia mais deixar essas coisas acontecerem.
Senti aquele buraco negro aumentar, saber que eu nunca mais teria Tessa por perto me destruía, mas sabia que esse era o melhor que eu podia fazer por ela. Voltei a encarar o meu celular, eu precisava saber se estava tudo bem, mesmo com o corpo dolorido e a visão embaçada, me sentei e segurei o pequeno aparelho em minhas mãos. Ainda estava com a respiração desregulada e ainda sentia lágrimas escorrerem pelos meus olhos, eu só odiava muito toda aquela situação.
Não tinha conseguido escrever nada quando, de repente, ouvi a campainha tocar. Olhei para a porta surpresa, não podia ser ela, podia? Não tinha novas mensagens e nenhuma ligação perdida. Apesar de uma parte em mim querer muito encontrar Tessa do outro lado da porta, a outra parte queria que fosse qualquer um, menos ela, porque ter que olhar em seus olhos agora e dizer o que eu precisava dizer seria horrível e eu não estava pronta.
A campainha tocou mais uma vez, insistente, respirei fundo e me levantei, sentindo meu corpo mais pesado que o normal. O meu rosto inchado de chorar, minhas roupas grudadas em meu corpo por causa do suor, aquele buraco negro assumindo o controle, eu estava péssima.
- Tessa. – Falei assim que abri a porta.
Ela estava calma, olhava para mim com um quase sorriso no rosto, o qual foi mudando completamente ao me ver:
- Izzy? – Ela falou, sua preocupação aparecendo em cada detalhe seu. – Ei! Está tudo bem!
Eu queria conseguir falar alguma coisa, qualquer coisa, queria perguntar o que tinha acontecido afinal, se ela estava bem, mas eu apenas travei. Tessa entrou e fechou a porta atrás de si, me abraçando logo em seguida, como eu iria afastá-la? Como eu olharia em seus olhos e diria para ela ir embora?!
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A Anatomia do Cacto
Любовные романыEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...