house of cards (bts)

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Avistei o Sol nascer no horizonte. Terminava de ler o livro que tinha em mãos e o repousava ao meu lado. Meus olhos estavam pesados e sentia um cansaço extremo. Pude ouvir através da porta fechada de meu quarto um movimento na sala, devia ser professora Tessa. Esfreguei os olhos tentando inutilmente despertar o corpo, por fim fui ao seu encontro.

Ela estava sentada com uma expressão cansada no rosto, arrumara o cabelo longo e ruivo em um coque bagunçado. Agora calçava os sapatos meio sem jeito.

- Good morning, sunshine. – Tentei soar descontraída.

- Ai, minha cabeça. – Foi tudo que eu tive como resposta.

Fui até a cozinha preparar o café, coloquei a jarra e uma caneca na mesa/bancada que dividia a cozinha da sala.

- O café está na mesa. – Anunciei.

Apesar disso, peguei uma caixinha de achocolatado para mim na geladeira. Tessa me encarava:

-Sério? – Ela perguntou e começou a rir.

- O quê?

- Achocolatado?

- Sinto muito Srta. Adulta! – Tentei caçoar dela como defesa, mas também ria da situação. – Posso ter 5, 17 ou 50 anos, achocolatado sempre será A Melhor Bebida do Mundo! – Terminei com ar triunfante, como se tivesse acabado de declarar uma das soluções dos "problemas do milênio".

Não conseguíamos parar de rir, era tudo tão bobo.

- Tudo bem, mas a Srta. Idosa aqui continuará com uma boa xícara de café.

- Então temos um problema. - Declarei. – Não tenho muita certeza sobre a parte do "boa". Não tenho o costume de fazer café.

Nesse meio tempo Professora Tessa decidiu experimentar aquela substância preta bizarra a qual eu decidi chamar de café.

- Tudo bem, acho que ficarei com o achocolatado.

Com essa declaração voltamos a rir uma da outra, aquele café estava definitivamente horrível, não precisava provar para saber. Só faço café para minha mãe quando não tenho escolha e ela basicamente só se importa com a cafeína da mistura.

E naquele momento tudo soou certo. Tessa estava rindo, o sorriso mais lindo que eu já vi, diferente da noite anterior, quando ela parecia querer desaparecer do mundo. Repousamos nossos copos na bancada, mais dois utensílios para eu somar a pilha de louças para lavar. Ficamos assim, em silêncio, ela de um lado da bancada e eu do outro. Seus olhos, agora mais cinzas do que nunca, me encarando.

De repente me senti nua ali. Era como se Tessa pudesse ver através de mim, como se ela pudesse decifrar as minhas olheiras profundas, os traços de quem acordou chorando. Era como se ali, naquele momento, ela pudesse enxergar toda a bagunça que havia em mim. Era como se ela pudesse enxergar, através de mim, a noite em que Emma foi embora.

Por fim desviei o olhar, mas não consegui sair de onde estava. Professora Tessa deu a volta na bancada e parou do meu lado, esperando o meu olhar encontrar o dela, mas eu continuei imóvel.

- Quando foi a última vez que você teve uma boa noite de sono, Isabelle? – Falou Tessa, séria.

Permaneci como estava, sem mexer um único músculo, sem falar uma única palavra. Não queria responder a essa pergunta, não queria falar sobre isso, mas por que ela insistia tanto?

- Sei que você não quer falar sobre isso, mas você precisa. Quero dizer, isso pode te ajudar, Isa.

Continuei parada, entretanto, agora eu precisava fazer um esforço enorme para não chorar. Droga! Eu não podia chorar, não na frente dela.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora