O ano novo passou antes que eu pudesse perceber, tive que passá-lo como sempre, com meus familiares paternos, pelo menos James estava lá. Antes era estranho lidar com essas pessoas que eu via praticamente uma vez por ano, mas agora se tornava algo completamente banal, como se isso fosse apenas mais uma obrigação na minha vida, eu precisava beber água, eu precisava me alimentar, eu precisava respirar e eu precisava lidar com essas pessoas todo dia 31 de dezembro.
Jamie não saiu do meu lado a noite inteira, não apenas por ele andar extremamente preocupado comigo, mas também porque sua mãe não achava "chique" surtar perto de terceiros e eu, no caso, era um "terceiro".
- Ela está louca, Isabelle! Completamente LOUCA! Ela quer me prender em casa e só me deixar sair quando eu aceitar ir para a faculdade!!! – Ele dissera para mim baixinho, quase num sussurro, temendo que sua mãe ouvisse e aparecesse, apesar de ela estar longe de nós e as conversas altas serem o suficiente para abafar nossas vozes. – Ela não pode fazer isso! Quero dizer, é contra a lei não é?
- Que lei, Jamie?
- Eu sei lá!!! Eu estou desesperado, Isabelle!
- Não se preocupe, eu te protegerei! – Falei e passei minha pequena mão em suas costas, era irônico pensar que uma pessoa tão pequena quanto eu poderia fazer algo por alguém tão grande e forte como ele.
- Você é incrível, Pequena. Minha super-heroína, não esqueça de pegar a capa.
- O uniforme já está por baixo da roupa.
Fora uma longa noite, tentei focar todas as minhas poucas forças em Jem, porque se eu me distraísse por um minuto, ela voltava a minha cabeça. Desde o natal, fizera o possível e o impossível para manter Tessa longe, eu não a ignorei, mas também não falei tanto assim com ela. A distância física que eu lutava em manter estava se tornando cada vez mais palpável, precisava fazê-la se tornar algo real e cada vez maior, entretanto, era extremamente difícil quando tudo que eu queria era estar com ela.
Estávamos no meio do mês de Janeiro, mamãe viajara para a Índia e estava completamente empolgada com isso, me mandava fotos o dia todo e falava sobre a cultura diferenciada, era sua primeira vez nesse país. Encarava o teto do meu quarto agora enquanto uma playlist de kpop tocava alta pela casa, algumas tinham um ritmo exageradamente animado, o que destoava completamente do meu estado de espírito, mas algo em mim insistia em ouvir cada vez mais.
Esperava a campainha tocar avisando que Jem chegara, ele disse que tinha notícias "incríveis" para mim e fazia questão de só contá-las ao vivo. Apesar de despertar minha curiosidade, minha empolgação era quase zero, ainda não sabia o que faria com minha vida de agora em diante, estava formada no ensino médio, mas não tinha certeza sobre meu interesse em carreiras para seguir, ou cursos para estudar. E eu realmente não tinha ideia em como eu conseguiria salvar Tessa de mim, tinha essa ideia meio formada em minha cabeça, mas faltava alguma coisa para fazê-la dar certo de verdade.
Além disso, usando meu convênio, consegui entrar na fila de espera de três psicólogos e já tentara ir em dois diferentes, mas que apenas não deram certo, a primeira, uma mulher loira na faixa dos 40 e poucos anos, até parecia legal, mesmo assim, não consegui levá-la a sério, por isso, me recusei a continuar depois da segunda sessão. O segundo, um homem moreno de 30 e poucos anos, simplesmente me irritou muito com um simples "boa tarde". Talvez eu estivesse tendo tanto trabalho porque ainda não aceitasse precisar de ajuda, sabia que isso iria requerer um esforço meu também, mas escolhi que focaria esse esforço em outro profissional.
Ouvi a campainha tocar abafada pela música alta, pensei em gritar por cima disso tudo que a porta estava aberta, evitando assim que eu precisasse levantar, mas então me lembrei de como Jem sempre implicava por isso. Respirei fundo e coloquei meus pés no chão, faria esse esforço por ele.
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A Anatomia do Cacto
RomanceEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...