Mais uma vez estava parada na esquina daquela rua. Clara, Alice e Emma estavam em minha frente, nós nos despedíamos e cada uma ia para o seu lado, mas eu seguia Emma. Eu sabia o que ia acontecer, já tinha vivido isso tantas vezes...
Sabia que precisava andar mais rápido, mas não conseguia. Estava parada no telhado de novo, me perguntando por que eu não percebi antes, onde eu tinha errado. Eu gritava para Emma agora, mas era em vão. Eu pensava no que eu poderia ter feito de diferente, em como eu poderia ter a chamado para ir à minha casa, ou para tomar um sorvete, qualquer coisa que a desviasse desse caminho.
Agora ela estava lá, minha voz não saía e Emma continuava o seu caminho, mais um passo e ela cairia. De repente, eu finalmente conseguia correr, não tinha mais uma força invisível me segurando, minha voz saía.
- EMMA!
Estava quase ao seu lado, mas gelei, no lugar de Emma aparecia outra pessoa, ao invés de ter seus longos cabelos loiros, no lugar dos seus olhos castanhos, tinha um longo cabelo ruivo e ondulado, olhos cinza me encaravam. Sentia um novo desespero crescer em meu peito ao ver Tessa em minha frente. A chuva que caía se tornava mais real, eu percebia como tudo estava molhado e escuro agora, crescia um buraco negro embaixo daquele prédio e Tess estava prestes a cair ali, eu precisava fazer algo.
- TESSA! – Gritei enquanto esticava a mão e me jogava em sua direção, mas já era tarde demais.
Tessa caía e era engolida pelo buraco negro, eu gritava e chorava, mesmo assim, eu não podia fazer mais nada. A chuva estava mais forte agora, enchendo meus ouvidos, gelando todo o meu corpo, escurecendo o mundo inteiro.
...
Izzy e eu ficamos mais um tempo na sacada, apenas olhando para o céu. Em algum momento peguei sua comida e a levei até ela, a qual, após enrolar muito, ela comeu. Mais tarde naquela noite, quando o ar começou a esfriar, entramos e Isabelle se jogou no sofá, se aconchegando no meio das almofadas e apagando quase em seguida.
Tirei seu prato e limpei a cozinha, voltando para a sala e a observando por um momento, ela parecia tão tranquila, mas cansada. Seus olhos ainda estavam inchados e vermelhos, me doía pensar em tudo pelo o que ela tinha passado e como Izzy tentava se manter aqui. Gostaria de poder ajudar mais...
Voltei a terminar o que estava fazendo antes dela chegar, escrevendo o final dos meus relatórios, ajeitando os documentos do meu pai e as contas do mês. De repente, ouvi Izzy começar a falar sozinha, chamar por Emma desesperadamente. Corri para o seu lado, apesar disso, ela continuava dormindo profundamente.
- Iz...? – Arrisquei chamá-la.
O rosto de Isabelle se contorcia e ela parecia estar tendo um pesadelo. Coloquei a mão em seu ombro:
- Izzy! – Eu a balançava de leve, mas ela continuava dormindo.
Agora ela gritava, me impressionei ao ouvir o meu nome.
- Isabelle! - Izzy se debatia enquanto eu tentava segurá-la. - Ei! Eu estou aqui! IZZY!
Iz abriu os olhos e me encarou, ofegante e assustada, desesperada.
- Tess? – Ela disse, rouca.
- Oi. – Sorri.
Isabelle continuou me encarando, como se não conseguisse acreditar no que via. Estiquei meus dedos e sequei suas lágrimas. Estava ajoelhada no chão, ao lado do sofá, de frente para ela, seus olhos azuis estavam nos meus.
- Eu estou aqui. – Repeti.
Ela esticou a mão e segurou a mim, ainda ofegante. Me levantei e me sentei ao seu lado, puxando-a para mim, beijei sua bochecha:
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A Anatomia do Cacto
RomanceEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...