secret love song, pt. II (little mix)

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A semana que se seguiu passou como um borrão para mim, me hospedara na casa de Camila e usara suas roupas já que não tinha arrumado uma mochila antes de sair de São Paulo. Não saíra de dentro da casa nem uma única vez, não podia correr o risco de esbarrar com minha mãe ou qualquer conhecido, era perigoso demais.

- Eu preciso voltar para São Paulo. – Falei certa noite, quando estávamos prontas para ir dormir. – Eu sei que se não fosse por você, nesses últimos dias, a única coisa que entraria no meu sistema seria bebida, e eu agradeço por você cuidar de mim, mas eu preciso voltar.

- Tudo bem, Tess. Mas você não precisa ter pressa, você sabe disso, não sabe? Meus pais se mudaram de vez para o Canadá, a casa é toda minha.

Ela fez uma dancinha da vitória e eu me esforcei para abrir um sorriso.

- E por que você ficou? Não era seu grande sonho ir para lá também?

Camila deu de ombros como se não quisesse falar muito sobre o assunto.

- Ah... Você sabe...

- Não sei não!

Tínhamos acabado de dividir um brigadeiro de colher que fizemos mais cedo, estávamos apenas jogadas em seu quarto como fazíamos quando éramos mais novas, falando sobre vários nadas ou sobre nossos pensamentos mais profundos.

- Por sua causa, Tess... – Ela respondeu meio tímida. – Eu precisava te ver mais uma vez, precisava saber que você estava bem.

Senti-me abraçada ao ouvir isso, mas com uma pontada de culpa:

- Você não pode parar sua vida por minha causa! – Rebati.

- Eu não parei minha vida!

- Você ficou aqui todos esses meses... Sozinha... Por mim.

- Mas se não fosse por isso...

- Eu sei! Desculpa, pareci ingrata agora. Eu sei. Só, me prometa que assim que eu voltar para São Paulo amanhã, você colocara essa estúpida casa à venda! E vai se mandar para o Canadá com os seus pais! Do jeito que eu bem conheço o Seu Jorge, ele já deve ter um emprego para você lá. – Falei rindo um pouco no final, que saudades eu tinha daquelas pessoas, principalmente dos pais de Camila que sempre me acolheram tão bem.

Rindo um pouco também Cami respondeu:

- Ele definitivamente já tem um emprego para mim lá! E não chame essa casa de estúpida! Ela guarda boas lembranças, também.

- Tudo bem. – Levantei as mãos, mostrando que me rendia. – Mas me prometa que você seguirá seu sonho! Nós podemos manter contato agora, você tem o meu número que funciona e o meu endereço.

- Prometo, Tess.

Ficamos nos olhando com um sorriso meio infantil no rosto, era esquisito que tudo estivesse tão diferente, mas igual. Lembrava-me das tardes em que passávamos nos refugiando aqui na época do ensino médio, do dia em que estava quente demais para ficarmos na rua e estávamos deitadas no chão. Naquele dia eu já sabia que estava apaixonada por Cami, mas pensava que ela não tinha ideia, sem falar que ainda estávamos dentro do armário para o mundo todo. Por isso, Camila estava disfarçando falando de um dos garotos da sala, mas naquele dia eu tinha bebido um pouco e minha coragem estava maior que o comum. Assim que ela perguntara minha opinião, eu respondi que realmente não dava a mínima para ele, porque outra pessoa já tinha me conquistado. A curiosidade dela foi tanta que ela se levantou num pulo no mesmo momento e começou a pedir que eu contasse quem era, lentamente, me levantei também e a encarei, seus olhos verdes fixos em mim, respirei fundo e falei sem desviar o olhar "você". Lembro-me dela congelar por um momento, absorvendo o que eu tinha falado, e eu apenas parara, tentando entender o que eu tinha acabado de fazer, mas antes que qualquer uma pudesse dizer algo, Camila se aproximou e me beijou, deixando-me ainda mais surpresa.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora