Diminui o passo quando ao longe pude ver uma menina pequena encolhida abraçada a uma lápide. Isabelle. Ao me aproximar percebi que seus olhos estavam fechados e ela chorava sem parar, senti meu coração partir com aquela cena. Izzy estava apenas com uma blusa e parecia estar congelando, seu pequeno corpo tremia descontroladamente. Agachei-me com cuidado ao seu lado e coloquei minha mão de leve em seu ombro, temendo sua reação ao me ver:
- Iz?
Ela abriu os olhos de repente. Seus olhos mais azuis do que nunca me encarando, assustada por ter sido pega de surpresa.
- Laura? – Ela falou rouca.
Nos encaramos por um momento em silêncio, não tinha ideia do que Isabelle estava pensando, seu rosto parecia ter congelado.
- O... O que você está fazendo aqui? – Izzy falou baixo enquanto secava os olhos com força, sem soltar a lápide.
- Izzy, você não parece estar bem... Vem, nós precisamos ir. – Falava devagar e com cuidado, Isabelle parecia mais perdida do que nunca e ainda temia sua reação com a minha presença. – É hora de ir para casa.
De repente, Isabelle soltou uma risada sarcástica:
- "Bem"?! Eu nem sei mais o significado dessa palavra! E que casa? Aquele lugar vazio e morto?! Pra que eu tenho que ir pra lá?! NÃO TEM NINGUÉM LÁ! NÃO FAZ DIFERENÇA! – Izzy começou a aumentar o tom da voz enquanto falava, ela estava completamente alterada, parecendo se irritar cada vez mais.
- Iz, eu sei que não é fácil, mas...
- AH! VOCÊ SABE?! CLARO QUE VOCÊ SABE! CONTE-ME COMO FOI PARA VOCÊ VER A MELHOR PESSOA DA SUA VIDA SE MATAR DIANTE DOS SEUS OLHOS E VOCÊ NÃO CONSEGUIR FAZER NADA! ABSOLUTAMENTE NADA! E ENTÃO, SEMPRE QUE VOCÊ FECHA OS OLHOS, É ISSO QUE VOCÊ VÊ, ESSA CENA, TUDO DE NOVO. TODAS AS VEZES. – Isabelle parou por um segundo para respirar fundo antes de continuar. - Você não consegue mais dormir, nem descansar, porque o medo de viver aquilo tudo de novo é grande demais, mas ficar acordado é ter que lidar com a realidade e isso só traz dor... ME DIZ COMO VOCÊ SABE!
- Isabelle...
- ALIÁS, POR QUE VOCÊ ESTÁ AQUI?! VOCÊ NÃO TEM DIREITO DE ESTAR AQUI!!! – Os olhos de Isabelle estavam mais vivos do que nunca, suas bochechas estavam vermelhas por causa do frio e ela estava ofegante de tanto gritar. Ela estava completamente furiosa, irritada de um jeito que eu nunca vira antes, mas eu sabia que não era porque eu estava ali, ela estava irritava por ter que estar ali, porque agora, esse era o único jeito que ela tinha de ver Emma e, mesmo assim, ela não conseguia vê-la.
- Iz... – Tentei me aproximar dela, precisava fazer algo, era horrível assistir toda aquela dor a destruindo assim.
Entretanto, Isabelle me afastou com os braços e recuou, se arrastando no chão.
- SAI DAQUI! EU NÃO QUERO VOCÊ AQUI! EU NÃO QUERO VOCÊ! EU QUERO A EMMA! VOCÊ NÃO ENTENDE! EU PRECISO DELA...
Isabelle agora voltava a chorar freneticamente, lágrimas escorriam encharcando seu rosto.
- EU PRECISO DELA! EMMA!
Izzy parara ao lado da lápide de Emma e gritava seu nome agora, ela começara a arrancar a grama do chão e tirar a terra dali, como se, se ela cavasse o suficiente, ela conseguiria encontrar a sua Emma ali, saudável e feliz.
Não conseguia conter minhas lágrimas, não tinha ideia de que Isabelle segurava tanta dor dentro dela, todos os dias. Aquilo deveria ser exaustivo, como ela conseguia? Não me importei se ela não me queria ali, ela estava machucada e precisava de ajuda.
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A Anatomia do Cacto
RomanceEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...