Acordei no Sábado e não me impressionei ao ver o céu todo cinza. O dia estava frio e chuvoso, apesar de a semana ter sido extremamente ensolarada, isso era São Paulo. Fiquei olhando pela janela algumas gotas que começavam a cair enquanto revivia a cena de ontem na escola, o que eu tinha na cabeça?! Não esperava que fosse fazer o que fiz ou falar o que eu falei, apenas saiu, em um momento eu estava indo embora, fugindo para casa, e então, no outro, tudo aquilo saia de mim como se tivesse vida própria.
Respirei fundo e me joguei em minha cama, encarando o teto como sempre fazia. Apesar de ter dormido pouco e ter ficado a noite praticamente em claro, eu tinha dormido e aquelas poucas horas foram o suficiente para aqueles sonhos voltarem a aparecer na minha mente. Meu corpo todo tremia enquanto a chuva caía mais forte, batendo em minha janela, como na noite em que eu perdi Emma, era como se eu pudesse sentir as gotas molharem todo o meu rosto.
Começava a ficar ofegante conforme a lembrança se tornava cada vez mais nítida diante de mim, era como se eu estivesse sonhando de olhos abertos. Desesperada, em uma decisão repentina, fiquei em pé, congelada, bem no meio do meu quarto. Minha respiração continuava desregulada e eu suava frio, mas me esforcei para respirar fundo e focar em outra coisa, alguma coisa boa do meu presente, que não tivesse o fantasma da Emma.
Mesmo que eu tentasse, a única coisa que me veio à cabeça foi uma pessoa, Tessa. Sempre ela! Apesar da frustração, ela foi o suficiente para eu conseguir mudar meus pensamentos e me acalmar. Agora estava tentando entender o que estava acontecendo, como eu fizera desde o dia em que nos beijamos, eu listava em minha mente cada momento e tentava entender o desfecho de tudo, mas só não fazia sentido. Por que Tessa estava sendo tão fria? Tentava arrumar uma explicação lógica, mas nada justificava.
Me arrastei até a sala, pegando um livro para terminar de ler e me jogando no sofá para fazer isso. Laura mandara uma mensagem avisando que ficaria presa na faculdade nesse final de semana assim como James, então não teria muita coisa para fazer hoje. Entretanto, continuava inquieta, puxei meu celular e abri minha conversa com Tessa, fiquei encarando aquela tela por longos minutos calculando se deveria mandar algo ou não, mas como sempre, acabei descartando essa ideia. Olhei então para o contato de Clara, nem sabia que ainda tinha seu número, mas lá estava com uma foto nossa do ano passado, eu, ela, Alice e Emma. Sabia que não mandaria nenhuma mensagem para ela, mesmo depois da nossa conversa de ontem, mas continuei com aquela foto aberta em meu celular, sentindo seu peso cair sobre mim.
A chuva estava quase parando agora, apesar do dia continuar frio e nublado. Apesar de tudo que se passava em minha mente, não tinha esquecido o trabalho de artes que prometera fazer e que precisava entregar na segunda-feira. A chuva ter parado era tudo que eu precisava para colocar minha ideia em ação e eu precisava fazer isso hoje, do contrário, não teria tempo para terminar. Por isso, fazendo algo inédito, decidi que não ficaria jogada no sofá nem na cama, fui para o meu quarto colocar uma calça jeans no lugar da calça do pijama e um agasalho.
Precisei revirar algumas caixas e bagunçar um pouco mais os meus livros para conseguir achar o que eu precisava, mas finalmente consegui, lá estava minha câmera. Ela estava toda empoeirada e não conseguia me lembrar da última vez em que a usara, provavelmente em uma tarde em que eu passara com Emma. Ainda pensava exatamente como eu faria o trabalho, queria tirar fotos e sabia o que eu queria trazer com elas, mas não sabia exatamente como fazer isso.
Sentei-me no canto do meu quarto enquanto pegava a câmera em minhas mãos, liguei e comecei a ver as fotos que tirei, mas que nunca passei para o computador por pura preguiça. Eram muitas fotos que tinham ali, de pelo menos dois anos atrás, começando pelo natal em que passáramos juntas e logo em seguida o ano novo, outras fotos perdidas da escola ou de alguma festa em que ela praticamente me obrigara a ir. Mais algumas das tardes em que passávamos juntas e outras muitas aleatórias de momentos não tão marcantes assim. Emma era a que mais aparecia, sorrindo para a câmera quase sempre, seu sorriso genuíno que eu amava, mas que fora se apegando com o tempo.
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A Anatomia do Cacto
Roman d'amourEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...