Underwater (monsta x)

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Um minuto se passou antes de eu me arrepender daquela mensagem, o que eu tinha na cabeça?! Tessa agora queria saber onde eu estava, mas ela não podia me ver assim, ela não podia me achar. Com um movimento rápido fiquei em pé, encarando a ponta dos meus tênis all star preto cano alto, eles estavam encharcados assim como tudo em mim, minha camiseta preta estava grudada no meu corpo, assim como minha calça jeans escura. Sentia uma poça em minhas meias e o meu corpo estava simplesmente todo gelado e molhado. Tremia incontrolavelmente, mas talvez não fosse só pelo frio.

Ainda assistia às gotas de chuva caírem e se espatifarem no chão, o céu ficava ainda mais escuro com a chegada da noite, sendo iluminado apenas algumas vezes por relâmpagos. A cidade ao longe continuava intacta, prédios e casa com as luzes acessas, provavelmente com famílias ou amigos, ou apenas pessoas vivendo suas vidas normalmente. Eu já não tinha mais ideia de como era esse sentimento, como era estar em casa, aquecido, com pessoas que você ama e que te amam de volta com você. Para mim, tudo que eu tinha era aquele apartamento escuro, frio e silencioso.

Não tinha ideia de quanto tempo se passara desde que eu chegara, mas Tessa não podia me achar aqui, ela não podia me ver assim! Eu estava completamente quebrada e vazia, não conseguia ver algum momento em que eu não estivesse mais. Eu precisava salvar as pessoas de mim, Jem e Tessa não mereciam isso, eles provavelmente já até me odiavam a essa altura, por ter sumido e por ter agido de forma tão estúpida.

Eu precisava ir embora. Para sempre.

...

Estacionei na frente do prédio e entrei correndo. Apesar de não ter ficado embaixo da chuva por muito tempo, parecia que eu tinha acabado de entrar em uma piscina, de roupa e tudo, a tempestade continuava e no rádio já anunciavam as áreas em risco de alagamento. Não sabia ainda se Izzy estava aqui, chovia demais para eu conseguir enxergar qualquer coisa lá fora, mas, se ela estivesse, ela estaria no telhado e, por isso, subi correndo, pulando de dois em dois degraus até o topo.

Quando finalmente fiquei de frente aquela grande porta de metal, precisei parar para recuperar o fôlego, meu corpo estava sendo movido por adrenalina naquele momento. Com um tranco a porta se abriu e tudo que consegui ver foi Isabelle parada bem na borda. Minhas pernas ficaram moles e o chão sob meus pés pareceu se abrir em um buraco, senti uma onda gelada passar por mim, mas sabia que não era culpa da chuva. A ideia dela caindo dali fez com que um choque me atingisse, me trazendo de volta a realidade e ao que eu precisava fazer.

Eu precisava tirá-la dali, mas como?! E se eu me aproximasse e ela pulasse? E se ela me visse e surtasse? Talvez ela me odiasse agora. Arrisquei dar pequenos passos em sua direção, o som dos meus pés na água sendo abafado pela chuva. Lembrava-me de como tinha sido a primeira vez em que a vi, como ela estava exausta e cansada, e sozinha... Lembrava-me de como tinha sido acordar em seu sofá sem entender direito o que tinha acontecido, do toque leve de sua mão na minha, de como ela aparecera em minha casa depois do meu pai morrer para me ajudar a melhorar, mesmo que ela não se aguentasse em pé... De como sua boca encostou na minha... Lembrei-me de quando ela me puxou para a sala do teatro só para roubar um beijo meu, de como seus olhos brilhavam e de como ela sorria de verdade.

Estava a apenas alguns passos dela quando decidi chamá-la.

- ISABELLE! – Precisei gritar para ser ouvida por cima do barulho da chuva.

Izzy se virou assustada, quase escorregando no processo. Minha respiração parou por um segundo, ela estava encharcada, o cabelo caía no rosto, as roupas grudavam no corpo, ela estava pálida e seus lábios estavam levemente roxos, Izzy não conseguia parar de tremer.

- O que você está fazendo aqui?! Não era para você estar aqui! – Izzy falava desesperada, completamente perdida. – Você não pode me ver assim!

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora