Abri os olhos e encarei o teto branco acima de mim. A luz do Sol entrava pela janela da sacada e, mesmo precisando de um momento para me situar, sabia que estava deitada no sofá em minha sala. Minha cabeça latejava confirmando que eu com certeza tinha enchido a cara no dia anterior. Lentamente, me sentei enquanto começava a me lembrar dos meus últimos dias, o funeral do meu pai, Cami... Respirei fundo sentindo aquilo doer tanto quanto aquela ressaca. Resmunguei baixinho após minha inútil tentativa de ficar em pé, caindo novamente no sofá logo em seguida.
Estava prestes a me deixar levar novamente, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas, quando as lembranças da noite passada começaram a chegar, lentas, mas todas ali. Minha respiração parou instantaneamente e provavelmente meu coração também. Olhei para minha mão mal enfaixada confirmando que a memória era real, eu beijara Isabelle. Instintivamente, levei os dedos aos meus lábios, sentindo minha boca, como se o beijo ainda estivesse ali e, se antes meu coração parara, agora ele batia com todas as forças.
"- O que foi?
- Desculpa... Quero dizer, você está bêbada.
- Eu não deveria ter te beijado? Você... Não queria?
- Não é isso. É que... Não deveria ter sido assim. Você está bêbada e..."
Cobri o rosto com as mãos conforme os detalhes ficavam mais claros, o que Izzy não sabia é que eu não estava tão bêbada assim, apenas... Muito triste. Eu me lembrava claramente de tudo e não me arrependia, é claro que o álcool dera uma boa coragem, mas tinha tomado aquela decisão conscientemente. Entretanto, estava claro que não era isso que Isabelle queria, não estava? "Você está bêbada", ela ficara repetindo, e mais uma vez eu estragara tudo com bebida!
Isabelle era a melhor pessoa que eu já conheci, ela merece alguém melhor do que eu, precisava acreditar nisso ou do contrário eu surtaria. O jeito como ela me olhara ontem, como ela colocou sua mão gentilmente em meu rosto, fazendo aquele choque percorrer todo o meu corpo... E quando minha boca encostou na sua e tudo soou certo. Isabelle me beijara de volta, ela correspondera a cada gesto meu e pela primeira vez em muito tempo eu senti que tudo ficaria bem, de um jeito que eu nunca sentira com ninguém, nem mesmo com Cami.
Mas eu tinha que ter bebido! E ter feito isso tudo errado! Izzy com certeza iria embora agora, para sempre, me afastaria o máximo que pudesse e com razão. Respirando fundo, ainda escondendo meu rosto nas mãos, estava prestes a me jogar de vez no sofá e deixar todas aquelas lágrimas escorrerem livremente, quando eu ouvi o barulho de uma porta abrir atrás de mim. Claro, Isabelle ainda estava lá!
...
Ainda deitada na cama de Tessa, respirei fundo. Não conseguira dormir nada e agora assistia ao Sol nascer e invadir o quarto aos poucos. Passara a noite pensando no nosso beijo e em como poderia ser sua reação ao amanhecer, provavelmente já tinha calculado todas as possibilidades e eu, definitivamente, não estava pronta para nenhuma delas, mas, lá no fundo, eu sabia qual eu mais queria que acontecesse.
Preferiria ter passado a noite na sala com ela, mesmo sabendo que eu não conseguiria dormir de qualquer jeito. Queria estar perto dela caso ela acordasse e ficasse mal de novo, queria estar perto dela pelo simples fato de estar, porque eu não queria ver Tessa me afastar como ela com certeza faria agora, caso ela se lembrasse do beijo.
Passara a noite criando e detalhando essa utopia em que o Sol nasceria e quando eu entrasse na sala, Tessa já estaria acordada, sentada no sofá. Ela me olharia com aqueles olhos cinza e, como nos livros, eu magicamente saberia que ela se lembra de tudo e que o sentimento é recíproco, ela não se arrependeria de nada. Então nós nos beijaríamos mais uma vez e viveríamos felizes para sempre. Simples assim. Sem grandes empecilhos e sem calcular muito os problemas externos.
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A Anatomia do Cacto
RomanceEm algum cemitério da capital de São Paulo, uma menina despede-se pela última vez de sua melhor amiga, o amor de sua vida. Seu coração está quebrado, vazio. A culpa a consome. Izzy não sabe o que fazer, para onde ir, de repente ela está completament...