father (demi lovato)

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Primeira semana das férias de Julho. Estava parada no meio da minha sala usando meu agasalho mais antigo e destruído, a "roupa de faxina". Encarava toda a bagunça que tinha espalhada naquela casa, as caixas da mudança, papéis, documentos... Dei um gole na minha xícara de café e respirei fundo, era hora de arrumar aquilo.

Liguei minha playlist que misturava umas músicas Rock anos 80 com algumas músicas de Kpop, era uma mistura estranha e inesperada, mas gostava de variar. Colocando o volume alto comecei tirando as caixas vazias dali. De tão alta que estava a música, eu quase não ouvi a campainha tocando. Parei onde estava e desliguei o rádio para ter certeza. Tocou mais uma vez, enchendo o ambiente com aquele som irritante. Quem seria? Algum vizinho reclamando da música alta? Mas estávamos no meio da semana e era hora do almoço. No lugar de criar teorias, decidi abrir de uma vez.

Assim que vi quem era minha respiração parou. Provavelmente meu coração também, minha vontade de gritar e chorar se misturava com uma alegria que eu não sentia em meses.

- Camila. – Finalmente consegui dizer.

Parada em minha porta, usando um jeans escuro rasgado e dobrado no calcanhar, uma blusa básica azul e all star branco estava Camila, minha ex-namorada, a menina que eu mais amei e precisei deixar quando fui expulsa de casa. A garota que passou a faculdade se escondendo comigo, fugindo comigo e cuidando de mim.

- Tess! – Ela pulou direto num abraço, envolvendo-me forte como se tivesse medo de me perder de novo.

Não tinha notícias dela desde que vim para São Paulo, logo após me refugiar em sua casa. As lembranças eram tantas que eu nem percebi quando meu rosto ficou encharcado de lágrimas. Nos soltamos por um instante para que ela pudesse entrar e eu fechar a porta. Cami também chorava muito e eu ainda não conseguia acreditar em meus olhos.

- Como... ? – Não consegui terminar de formular a pergunta.

Camila sentou no sofá me chamando para sentar do seu lado. Assim que o fiz, ela respondeu:

- Foi quase impossível! Sua mãe é louca! LOUCA! Ela contou essa história maluca de que você estava fervendo de febre no baile e estava alucinando, por isso fez o que fez. – Em algum momento a mão de Camila segurou a minha e entrelaçou seus dedos nos meus, como um antigo hábito, senti sua mão quente na minha, como eu sentira falta dela! – Não tentei interferir, para ser sincera fiquei com um pouco de medo dela depois... Você sabe... Daquele seu último dia em casa... Mas eu precisava falar com você de algum jeito! Precisava saber que você estava bem! O seu número não funcionava e eu não tinha ideia do seu endereço, passei semanas arrumando um jeito de falar com seus pais para conseguir alguma informação. – Cami parou e respirou fundo, parecia ter algo errado, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela continuou: - Nenhum deles me disse nada, na verdade, acho que eles não queriam me ver nem pintada.

A emoção de ter Cami no meu lado me enchia de uma sensação estranha, parecida com esperança, era como achar o que eu passei esses últimos meses procurando, ela iria acabar com a minha solidão. Entretanto, ao mesmo tempo, doía olhar para ela e viver tudo de novo, todos os momentos ruins, todo aquele ódio.

Percebi que Camila estava com dificuldade de continuar a história, pois ela não conseguia mais parar de chorar.

- Ei, - Tentei chamá-la, puxando-a para um abraço. – está tudo bem, você está aqui agora. Na verdade, como você conseguiu meu endereço?

Ela respirou fundo e me encarou, aquilo era um olhar de pena? Definitivamente tinha algo errado.

- O que foi que aconteceu?! – Senti minha respiração parar enquanto via Cami chorar cada vez mais.

A Anatomia do CactoOnde histórias criam vida. Descubra agora