CAPÍTULO 37

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Boa leitura!!!



Meus fins de ano sempre eram deprimentes. Minha família não era do tipo que se reunia ao redor de uma mesa grande e farta para comemorar juntos qualquer data que fosse. Meu pai era um homem muito ocupado e quase nunca estava presente nesses momentos em que se espera afeição e confraternidade. Era muito comum que eu arrumasse uma pequena mochila e me esgueirasse pelas ruas geladas e cobertas de neve para a casa da minha avó, onde sempre era quente, aconchegante e tinha um cheirinho delicioso de comida. A velha senhora sempre me dava alguns cascudos por escapulir de casa em uma noite tão fria, mas depois bagunçava meus cabelos e me oferecia um lugar confortável entre as almofadas espalhas em frente à sua pequena lareira, enquanto me fazia comer quantidades absurdas de comida e resmungava sobre o quanto estava magro, estalando a língua em desgosto e afirmando que se meus pais não me alimentassem corretamente iria arrancar seus ânus com as próprias unhas. Era nesses momentos em que eu me sentia totalmente despreocupado com relação a qualquer coisa, ouvindo a conversa descontraída dos meus tios e tias e saboreando aquele gostinho de amor que vinha em qualquer coisa que estivesse comendo.

Mas nesse fim de ano eu não me sentia deprimido. Nenhum pouco deprimido na verdade. Mesmo que ainda não estivesse sentado à uma mesa grande cercada de familiares calorosos ou mesmo diante da lareira da vovó enquanto a ouvia reclamar, eu não poderia desejar modificar exatamente nada do que acontecia naquele momento na minha vida. Não conseguia deixar de querer que tudo estivesse correndo da forma que estava.

Eu tinha a plena certeza que todos ao meu redor estavam cansados de ter que ver o sorriso idiota que permanecia aberto em meu rosto, mas eu não podia fazer nada a respeito disso porque eu simplesmente não conseguia parar. Quando meu olhar vagava pela sala de estar espaçosa e cálida e caía em Jungkook, toda e qualquer defesa que poderia existir no meu organismo se desfazia em grandes fragmentos de nada. Automaticamente estava lá, tolamente pendurado no meu rosto, o sorriso imenso que era tão presente em mim que seria estranho se me vissem sem ele.

Jungkook não me dava muitas opções, mesmo que não estivesse fazendo nada de especial. No entanto, o nada especial dele era a coisa mais especial que eu já vi e isso só podia ser os sintomas do amor se agravando, porque eu me lembro de sempre ter sido um bobo por ele, mas agora estava absurdo. Enquanto ele se mantinha firme sobre os joelhos fincados sobre o tapete felpudo e claro que cobria o piso, eu me maravilhava apenas por observar sua expressão mais linda que deixava seus olhos grandes concentrados e brilhantes ao mesmo tempo que sua boquinha se mantinha entreaberta desleixadamente, pendurando os enfeites natalinos na enorme árvore, segurando os pequenos objetos cintilantes com uma delicadeza que eu nunca havia visto em ninguém. Seus dedinhos clarinhos erguiam os berloques diante dos olhos e os colocavam em seu devido lugar, quase que milimetricamente calculados para que a decoração ficasse perfeita apenas como o seu senso de perfeição podia deixar. Jungkook seria o funcionário do mês em qualquer lugar que trabalhasse, porque era com perfeccionismo que ele agia com as coisas que importavam ou lhe eram interessantes.

E vendo cada movimento seu atentamente, eu me derretia inteiro. Porque ele era a pessoa mais linda que eu já tive a chance de ver em minha vida. Porque tudo nele me fazia suspirar apaixonadamente como se fosse a primeira vez. Porque ele não fazia ideia de que era totalmente encantador assim e isso o deixava ainda mais incrível, embora eu torcesse para que ele tomasse cada vez mais consciência do quão incrível era. Eu sabia que Jungkook não era perfeito, mas ele seria perfeito enquanto quem o enxergasse fosse eu.

Jungkook era perfeito porque eu o via através dos meus olhos.

Naquele momento, tive uma pequena recaída de culpa, onde tive vontade de estapear minha cara imbecil ao me perguntar como tive a coragem e a audácia de levantar a voz para aquele anjinho por causa de um episódio ridículo de ciúmes infundado. Mesmo que, muito provavelmente, Jungkook já tivesse desconsiderado esse assunto, eu me pegava pensando nisso às vezes, como quando fitava seu rostinho angelical e inocente tão distante de qualquer negatividade, de qualquer coisa ruim. Quando o via sendo tão ele, livre de todo pessimismo, de toda maldade e tudo que era pesado demais para passar pelos filtros eficientes do seu cérebro perfeito. Em momentos assim eu começava a pensar que deficientes éramos nós, considerados neurotípicos, porque como podia ser ele se tudo o que passava na sua cabecinha era puro? Se, mesmo que aprendesse de tudo um pouco, ainda seria incapaz de entender o humor ácido, o sarcasmo, a ironia, a mentira, a soberba, a vaidade, a maldade em si? Como poderia ser ele se sorria tão sincera e inocentemente para um mergulhador qualquer enquanto eu ruminava idiotices em minha mente e tentava monopolizar seus sorrisos para mim? Nunca estive tão perto de assemelhar meu crânio ao de um neandertal.

Different Love - TaeKookOnde histórias criam vida. Descubra agora