Prólogo - Cinderela

3.9K 359 67
                                    

" - Mamãe, por favor. Não me deixe - Digo em meio a fungadas. Devido ao choro que desce em excesso.

- Meu amor - Sua voz sai fraca e baixa - Eu não irei ... te deixar. Eu ... irei estar com ... você sempre - Diz pausadamente devido a dificuldade.

- Você não pode morrer - Falo por fim, sentindo tudo a minha volta ruir.

- Eu não irei. Estarei sempre ... ao seu lado - Falo e começo a fazer que não.

- Eu não sei o que farei sem você. Eu estou com muito medo.

- Vou lhe contar um segredo ... que ajudará você a passar por todas as provações que a vida apresentar. Tenha coragem ... e seja gentil. Onde existe gentileza, existe bondade. E onde existe bondade, existe magia - Diz piscando e dando um sorriso fraco. Sua pele pálida e seus cabelos antes platinados e cheios de vida, agora são cascatas longas e brancas sem vida, me fazem ter certeza de que em breve ela se vai. Suas forças não são mais as mesmas. Ela decidiu ficar na terra, por isso esta doente e prestes a ir embora para sempre.

- Eu prometo .... "

Acordo assustada e me sento rápido. Suando e respirando fundo, as lembranças estão se tornando pesadelos. Que todos os dias que fechos os olhos, voltam para me assombrar. Sempre a mesma parte, a que mais sofro. Pois pouco depois, ela deu seu ultimo suspiro.

Levanto do chão e passo a mão na testa. Acabei dormindo em frente a lareira, o que ao me cheirar, constato o leve cheiro de fumaça impregnado em mim. Ando em direção ao celeiro, o lugar que eu tenho que chamar de 'quarto'. Uma pequena parte nos fundos dele, separado em dois cômodos. Um banheiro somente vaso e uma banheira com chuveiro. Um quarto, com minhas coisas do meu antigo quarto, coisas minhas antes de papai morrer.

Afago meus braços assim que saio pela porta da cozinha. Antes de seguir para onde durmo, passo na lavanderia e pego uma das cobertas grossas que estão para lavar, a minha já esta bem surrada. A noite esta fria e nem minhas poucas roupas de frio dão conta. A iluminação da madrugada faz com que tudo fique mais sombrio, porém me trás certa paz. Essa é a hora em que posso fazer o que quero e não o que os outros querem. Posso ser eu mesma.

As vezes eu até penso em ir embora, mas lembro de tudo que tenho aqui. Lembro que tudo isso foi de meu pai e mãe, que também seria meu, mas ele decidiu casar novamente. Segundo ela disse, todos os bens dele, são dela. E no testamento, só dizia que poderia pegar e administrar o que de fato é meu. Depois dos meus 25 anos ou caso eu me case, o que é meio impossível. Então ainda terei de ficar nessa vida, até lá. Papai sempre foi ciumento e deixava claro que queria que eu casasse só depois dos trinta, acho que por isso a idade avançada para receber minha parte. Ele devia imaginar que seria sempre sua menininha e que também estaria comigo sempre, mas não foi o que aconteceu.

Apesar de tudo, eu tenho de agradecer a Clarisse, minha madrasta. Pois segundo ela me disse, se não ficasse com minha guarda, eu teria de ir para algum orfanato qualquer e seria muito pior, que eu deveria ser eternamente grata a ela pois decidiu me acolher e eu sou muito grata, por isso apesar de tudo, eu tento dar o meu melhor. Aqui pelo menos eu tenho um teto, algumas roupas que minhas irmãs postiças não usam e comida. Não muita, mas o necessário para viver. Comidas normais e nada dessas que elas geralmente comem quando saem, lasanhas, pizzas e o meu preferido, chocolate. Coisas que só tive o prazer de experimentar, quando papai ainda era vivo, ou quando algumas senhoras das feiras, que são gentis comigo, me oferecem.

Apesar de tudo que aconteceu e acontece, procuro sempre me manter positiva. Vê o lado bom das coisas e como minha mãe pediu, ser sempre corajosa e gentil. Mesmo que todos os dias elas tentem ferrar com minha vida e psicológico, não me deixo abater. Sei que elas são apenas pessoas frustradas e não podem ver a felicidade de outras pessoas, mesmo que em pequenas coisas.

Quinze minutos para meia-noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora