Aaron
Após ela colocar o cachecol e sair, me levanto, ainda mancando. Coloco meu casaco e outra luva, sempre levo duas, você nunca sabe quando vai precisar. Ela segue em direção a floresta, o que me faz pensar que ela é muito suspeita.
Fiquei tentando entender ela desde que cheguei aqui, ela me viu na floresta e quando eu pensei que havia morrido. Acordo em uma cama, com as feridas tratadas e com uma blusa que não era minha. Quando vi ela dormindo, sentada e com a arma em mãos, foi até engraçado. Pois não combinou nada com ela esse estilo malvada, ela parece toda delicada igual essas fadas ou anjos que tanto mencionam em contos e lendas, mas que não 'existe'. Eu não acredito nisso, não depois de passar na televisão que haviam encontrado uma sereia e depois que levaram ela pro acampamento, para entregar a seu pai, o Tritão, eu passei a acreditar que todos os monstros que de fato as pessoas dizem, podem existir. Mesmo que eu não tenha visto ou tenha provas.
Outro fato que me intrigou, foi o dela não exalar cheiro algum, não que ela não cheire a algo. É que cada espécie tem seu cheiro habitual, humanos, caçadores e monstros. Cada monstro um cheiro, de acordo com sua espécie e o cheiro dela é diferente, um que eu nunca senti. Eu e um amigo caçador, Gabriel, depois de muito treinar e creio que fazer parte da legião dos dez, acabamos desenvolvendo a habilidade de rastrear monstros através do cheiro, ele não se empenhou tanto em desenvolver essa habilidade, preferia correr atrás de mulheres. Já eu, consigo discernir qual monstro é, apenas chegando perto e isso me ajuda bastante, pois já sei o perigo que o monstro representa, antes mesmo de ser atacado.
Após constatar que ela não teve nada a ver com o ataque ao dragão ontem e deixar ela sair, para ser empregada da madrasta, procurei em suas coisas algo que mostrasse que ela não era quem diz ser. A unica coisa que achei foi um fundo falso no chão, com pouquíssimo dinheiro e nada mais, nem documentos eu achei.
Me escondo atrás de barril, assim que ela entra em um galpão ao lado do estábulo e olha para trás, vendo se a algo errado. Ela entra e vou atrás, mancando, o que torna as coisas mais difíceis e demoradas. Entro pela brecha deixada entre a porta meio aberta e me escondo atrás de uma pilha de coisas velhas. Ela começa a tirar a roupa, sem nem ao menos olhar em volta para vê se esta sendo observada. Ela usa aquelas calcinhas maiores, tipo cueca box, coloca outra calça, porém mais colada e logo um sapato. Mesmo que não me interesse em nada por ela, devo dizer que ela tem um belo corpo, é bem magra, mas tem uma barriga bem chapada. Coloca os fones e fecha os olhos, ela só vai dançar. Eu suspeitei dela atoa. Ela realmente não representa perigo algum.
Olho outra vez e ela estranhamente parece flutuar enquanto dança, muito estranho. Ela se movimenta como se nada pudesse para-la e também canta, mas parece que sem perceber, pois esta muito centrada no mundo em sua mente. A melodia que sai de sua boca e os passos que faz, parecem sincronizar perfeitamente. Chego a conclusão que ela é apenas uma humana, com habilidade em dança e por isso, volto ao quarto dela, amanhã preciso ir embora.
Entro no local quente, ao contrário do frio que faz do lado de fora e guardo todas as minhas coisas. Amanhã irei antes dela acordar, creio que vai ser como um agradecimento por salvar a minha vida. Sou um caçador sim, porém sei agradecer quando necessário. Não perdemos tempo com o que enfraquece humanos e monstros, o amor. Por isso somos mais fortes, pois nada nos prende aqui e nos impede de fazer algo. Nada para sofrer ameaças e nada que nos façam temer, nem a morte. Somos fortes. Deito logo após escovar os dentes e me enrolo na coberta, meu corpo esta moído, dores em todos os lugares e mais ainda nas marcas das garras. Minha poção de cura acabou e a pomada apenas inibi a dor, mas o efeito não dura tanto. Pego no bolso o colar que ela me deu como prova de garantia, parece ter muito valor para ela, levanto a mão e ele balança frente ao mesmo rosto. Por isso mesmo que ireia levar comigo, para não correr o risco dela abrir a boca logo depois. Quem sabe algum dia eu mande ele para ela por correio, mas tenho certeza que não farei isso.
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Quinze minutos para meia-noite
FantasySiga meu Instagram para saber mais sobre meus livros: @melpimentelautora * Ella, uma jovem que enfrentou a perda de seus pais, encontra razões para seguir em frente nas memórias que a mantêm viva. Vivendo com uma madrasta e suas filhas, Ella se esfo...