Capítulo 48

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Continuo recostado no sofá e encarando o homem deitado na cama. Eu realmente não sabia que aqui em nosso quintal, tinha uma casa bem menor, que geralmente ficam os empregados que cuidam de tudo em tempo integral, mas como eles não dormem aqui, a casa está vazia, limpa e mobiliada. Confesso que se eu soubesse da existência dela, eu ficaria aqui ao invés da casa grande. Eu deveria ter explorado mais o quintal enorme da mansão.

O homem que ficou desacordado bastante e até me deixou meio preocupado, acorda bastante assustado. Pulando da cama e fazendo uma pose de proteção ou ataque, com as duas mãos abertas frente ao corpo, sera que ele pensa que é um ninja ou coisa do tipo? Começo a rir por isso. O que chama a atenção dele para mim.

- Você ... - Aponta para mim e vem andando em minha direção. Fico de pé, sem entender bem o que ele vai fazer, mas entendo bem quando ele me da um soco, não forte o suficiente no rosto - Isso é por me desmaiar e por namorar minha menininha.

- Justo - Comento mexendo o maxilar para ver se ta tudo em seu devido lugar. Preciso entender a fixação que esse povo tem em me dar socos. Devo ter o rosto bem convidativo a isso, única explicação plausível.

- Falando nela, onde ela está? - Pergunta olhando para todos os lados e cruzo os braços. Reparando agora bem, percebo que além da magreza, tom de pele e cor dos olhos, mais nada lembra a fadinha. Acho que alguns jeitos e trejeitos, que mais fazem lembrar ambos. 

- Primeiro eu quero saber o que está fazendo aqui - O encaro sério - Para saber se você é confiável ou não - Não revelo nada do que aconteceu. Primeiro preciso saber o que aconteceu a ele, para depois contar a nossa atual situação. O que não vai ser nada fácil.

- Ela está bem? - Seu olhar cansado cai sobre mim.

- Sim - Não minto, pois sinto que está e ele sorri aberto, aliviado - Como posso saber que você é quem diz ser? - Minha pergunta parece pegar ele de surpresa. 

Mesmo acreditando nele, ando tão desconfiado ultimamente. Ele fica quieto por intermináveis minutos e já começo a achar que ele é algum tipo de meli que vira outra pessoa, ou que se transfigurou com magia; Logo ele começa a mexer na gola do casaco e puxa algo.

Vejo o relicário que segura e agora estende em minha direção, pego, mas ele demora bastante a soltar, como se eu fosse apenas pegar e sair correndo, levando para longe dele seu objeto de apresso. Essa família tem certa fixação por colares pelo que pude perceber. Quando abro a peça cor de ouro velho, abro um sorriso automaticamente. Vejo uma moça, ao que parece sentada em uma cadeira e observo bem suas feições, ela é uma versão um pouco mais velha da minha fadinha. Cabelos longos e platinados, pele bem branca e os olhos bem brilhantes, cinza, mas o que me chama atenção é a pequena garota em seu colo. Como a foto é de mais perto e da cintura para cima, só da para ver o rosto dela, os grandes olhos castanhos que amo, o cabelo loiro um pouco mais escuro que recentemente e a pele mais bronzeada que a da mãe.

- Isso prova algo? - Pergunta e me faz sair do transe. Olho para ele assentindo e dou outra olhada na foto. Por Richard, que saudade da minha fadinha - Elas se parecem bastante, não é? - Assinto.

- Toma - Entrego a ele, que pega e volta a por no pescoço - Agora, comece a explicar o motivo de não estar morto, como todos achavam - Peço e ele suspira longamente, antes de sentar ao pé da cama. Sento no sofá e espero que comece a falar.

- Talvez você não acredite em mim. Ninguém nunca acredita mesmo - Da um risada sem humor olhando pro lado - Eu tinha ido em uma viagem, em busca de alguns objetos que costumava colecionar. Esse era bem raro e chamou logo minha atenção - Lembro das tralhas dele que a fadinha mantinha no estúdio - Eu não sabia que aquela viagem de fato era a minha ultima - Para de falar, parecendo lembrar com dor sobre o que aconteceu - Não sei bem, até hoje o que aconteceu. Em uma hora eu estava indo para o hotel e na outra eu estava sendo encontrado, dentro de uma vala, todo ensanguentado e quase morto. Fiquei internado em estado grave por dois meses e só consegui tanto tempo assim, pois o homem que me encontrou, conseguiu vender um objeto que estava comigo e pode pagar pelo atendimento. Fiquei em coma todo esse tempo e ninguém sabia quem eu era, tinham levado meus documentos e qualquer coisa que pudesse me identificar. Eu era um ninguém.

Quinze minutos para meia-noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora