Bónus 1 - Sophia

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Eu e o Zack tínhamos passado grande parte da manhã na biblioteca. Embora eu já a conhecesse de trás para a frente e já tivesse lido muitos dos livros que ali estavam, era completamente diferente quando eu ali estava com ele.

O Zack gostava mesmo de ali estar, rodeado pelos livros. Ele falava animadamente de cada um, retirando-o da prateleira e fazendo-me uma rápida descrição do seu conteúdo, além de me dar a sua opinião. Na maioria das vezes ele apanhava sempre um livro que eu ainda não tinha lido, mas já chegou a acontecer ele agarrar num que eu já conhecia, mas ele falava tão distraidamente que eu não tinha coragem de o parar.

Entrar ali era normal e comum para mim, mas entrar ali com ele era como entrar num universo completamente diferente, um que eu nunca imaginara puder existir.

- Começo sinceramente a achar que já leste todos os livros que aqui temos. – comentei enquanto me ria, ao vê-lo arrumar um livro no seu lugar.

- Bem, ter um pai que trabalha no palácio tem as suas vantagens. – ele andou ao meu lado, até pararmos perto do grande globo no canto.

Andei devagar até ele, passando levemente a mão pelo objeto e começando a girá-lo vagarosamente, observando todo o mundo a mover-se.

- Gostava de ser uma ave e puder voar... - sussurrei – Se eu fosse uma, fugiria daqui... - afastei a mão do globo e puxei mais a manga do meu vestido para baixo, para esconder as marcas ainda visíveis nos meus pulsos.

- "Ser ou não ser, eis a questão" – ouvi-o dizer atrás de mim, e sorri levemente ao reconhecer a citação.

- "Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas, com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações, e em luta pôr-lhes fim?" – recitei mais um pouco do monólogo, vendo um pequeno sorriso surgir-lhe no rosto, enquanto me encarava com os braços atrás das costas.

- Não sabia que recitavas Shakespeare. – ele disse, aproximando-se ligeiramente.

- Nem eu, mas já li o "Hamlet" tantas vezes que acabei por decorar aquele monólogo inteiro. – dei de ombros, como se não fosse nada de importante, mas pelo olhar que ele me dirigiu, percebi que para ele era importante.

- Muitos dizem que Shakespeare não deve ser lido, mas visto.

- Sim, mas por agora contento-me em ler. Apetece-me ficar aqui sempre, ou então ser mesmo uma ave e fugir para algum lado. – apontei com o olhar para o globo, e depois afastei-me para os sofás, sentando-me num deles e sendo seguida pelo Zack.

- Fugir não é uma opção. – ele disse, sentando-se ao meu lado – Não passaste por momentos bons, isso já todos sabem, mas tenta animar-te, tu e a Mia já estão a recuperar e aquele idiota está preso. Eu sei que não há nada que possamos fazer para corrigir o passado, mas o que tu podes fazer é escrever um novo futuro para ti.

Fiquei a pensar durante algum tempo nas palavras dele.

Eu sei que ele tinha razão, eu não podia fugir, muito menos pensar nisso.

Mas custa imenso passar nos corredores e ouvir as empregadas a sussurrarem umas para as outras o quão "pobrezinha" eu sou, além dos olhares que todos me lançam de lado enquanto eu passo.

Ainda me lembro do dia em que o Rixon se trancou comigo no meu quarto. Eu pensei mesmo que ele estava arrependido e que me tinha vindo pedir desculpas, mas fui incrivelmente estúpida e ingénua ao achar que ele ia mesmo fazer isso.

Ainda me lembro do medo que senti quando o vi avançar na minha direção, da minha aflição quando comecei a pensar no que ele me poderia fazer, da surpresa que tive ao ver a Mia a entrar no meu quarto e tirar o Rixon de cima de mim e no quão assustada fiquei quando vi que ela se tinha magoado a sério.

O Príncipe e a PopstarOnde histórias criam vida. Descubra agora