ALGUMAS HORAS APÓS A MORTE DE LINCOLN DAVIS
De faróis acesos, o carro tomava caminho pela escuridão. Vermelho e brilhante, o automóvel era iluminado apenas na parte da frente pelos faróis que ele mesmo tinha. A alguns metros à frente, a estrada escura e deserta era iluminada pela luz amarelada vinda do Volvo. Os quatro pneus negros deslizavam sobre o asfalto como se ele fosse manteiga, tamanha era sua velocidade, fazendo com que a água acumulada fosse jogada para trás no momento do giro. Os limpadores de para-brisa mantinham-se em constante movimento, indo e vindo de segundo a segundo na velocidade média, expulsando dali toda a água que caía por conta da garoa que despencava no ambiente em gotas fortes e consistentes.
Dos dois lados da estrada vazia, pinheiros altos se enfileiravam por longos quilômetros, de forma que, se vistos de cima, perdiam-se no horizonte. A lua acima estava brilhante e grande, lua cheia, mas nem por isso iluminava o caminho.
Afora, o som era apenas da água caindo, do motor do carro em funcionamento e das rodas girando pelo asfalto escuro, mas dentro do automóvel era um pouco, senão muito, diferente. As janelas fechadas impediam que os barulhos do exterior entrassem, mas o ambiente não era de total silêncio, desde que o rádio ressoava uma música qualquer em um volume baixo e o motorista murmurava e imitava baixinho o ritmo da canção.
Sozinho no carro, o homem tinha os dedos grudados no volante, trêmulos pelo nervosismo. A música tocava apenas para tentar lhe alegrar e lhe distrair um pouco, mas não adiantava de muita coisa, desde que sua situação não mudaria de nada e, muito menos, seus sentimentos naquele momento.
Uma luz repentina lhe comprometeu a visão. Estreitou os olhos por alguns segundos, a face inteira imersa pelas sombras do carro escuro, e levantou o braço direito. Os dedos tocaram o retrovisor e com um único movimento ele foi ajustado, o espelho mudando de posição e tirando a luz de seus olhos. Naquele instante, o reflexo assustado de Robin Ritter apareceu ali, iluminado pelo farol de um carro que surgiu-lhe por trás.
Tirando a luz da face, tornou a atenção para frente e, momentos depois, o segundo carro aumentou a velocidade, aproximando-se de si. Estando em uma linha reta, o automóvel não hesitou em ultrapassar-lhe, passando logo ao lado para, em questão de segundos, desaparecer na escuridão adiante.
O sobrevivente do primeiro massacre de Oakfield, temeroso, aumentou a velocidade mais um pouco. Quanto antes chegasse, melhor seria. O ponteiro no painel beirou os oitenta quilômetros por hora. Robin engoliu em seco. Inquieto e nervoso, a camisa social de pano fino que usava parecia ferver a cada segundo, formando grandes manchas de suor na altura do pescoço e das axilas. Suava frio.
Robin estendeu o braço na direção do banco do passageiro, remexendo-a sobre ele, a procura do aparelho celular. Com a palma aberta, apalpava uma parte do banco, sem tirar os olhos da estrada para evitar um deslizamento ou perder o controle. Não conseguia encontrar. Dessa forma, desviou a atenção da estrada por alguns segundos, olhando para o assento. E lá estava ele, em uma das extremidades do couro, jogado fora de seu alcance. Estendeu mais o braço, inclinando o torso, e voltou a olhar para frente quando agarrou o aparelho, trazendo-o para mais perto de si entre os dedos, tornando a ficar ereto no banco, agora com uma das mãos apoiada sobre o volante, e não agarrando-o.
Repentinamente, uma placa passou como uma sombra à direita da estrada, um vulto rápido e verde. Robin, com seu instinto ágil, já havia reparado nela antes e foi capaz de ler o que ali havia escrito antes que ela ficasse para trás. Em letras grandes e brancas, estavam as palavras: "Oakfield — 20Km".
Suspirou profundamente, pensando duas vezes no que iria fazer.
As notícias sobre a onda de mortes na cidadezinha e o retorno de Emily e Jordana haviam atingido grande parte do país, e para o rapaz não tinha sido diferente. Duas sobreviventes voltam para sua cidade natal, de onde saíram sobrevivente um massacre, e novos corpos começam a aparecer. Para Robin, não havia coincidência.
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Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...