Um assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna.
Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...
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"Velho amigo, o que você procura? Depois de tantos anos fora você volta Com as imagens que cultivou Sob céus estrangeiros Longe de sua própria terra." - George Seferis
A decisão começou um ano antes da coisa realmente acontecer. O quarto dos dormitórios foi um companheiro muito bom durante os cinco anos que passaram juntas, dormindo e vivendo nele, criando memórias. Mas assim que o quinto e último ano começou a se aproximar, as garotas perceberam que teriam de começar a organizar a vida quando saíssem da Universidade. Por isso, a ideia de se mudar para o Michigan surgiu, pensando, cada uma, que teriam melhores chances de emprego. E realmente tiveram, pois moraram lá por um ano e sete meses.
Uma delas seguiu dando aulas eventuais em escolas de ensino médio, procurando saber mais, se adaptando, aprendendo e crescendo no cargo para tornar-se uma professora de Língua Portuguesa, como estudou para ser. Os olhares dos mais jovens eram inevitáveis. Todos sabiam, mesmo que muito pouco, quem ela era. Isso foi crescendo e crescendo. Demônios do passado foram surgindo e lhe apavorando 24hrs por dia. O que era um simples mal estar transformou-se numa luta constante para manter a sanidade e não surtar com os alunos dentro da sala de aula.
A outra estudou medicina veterinária, aprimorando e deixando seu amor por animais crescer. Com ela não foi diferente. Pensou que conseguiria passar por tudo aquilo, mas a cada dia isso tornava-se mais difícil de ser verdade. Os olhares de estranheza lhe percorriam no local de trabalho, a pequena clínica em que trabalhava. Imaginava se acontecia o mesmo com os outros sobreviventes, mas nunca conseguiu ligar para eles ou voltar a contatá-los - talvez tivesse medo do que descobriria, e sentia que devia se distanciar daqueles eventos, mesmo que isso significasse se distanciar de boas amizades. Na época, parecia uma boa ideia. Agora, via como era absurda.
Precisavam se ver livre daquilo tudo. Estava impossível viver num mundo onde a pessoa que era não passava de um simples pensamento na cabeça dos outros. Era difícil suportar as notícias nos jornais e programas televisivos. A mídia parecia não se importar com as consequências do que faziam, e simplesmente traziam todo aquele assunto a tona ano após ano... "Aniversário de um ano do massacre do Carrasco de Oakfield!", "Aniversário de dois danos do massacre do Carrasco de Oakfield!", e assim sucessivamente, até que sete longos anos se passaram desde que elas deixaram a cidadezinha.
Mas o passado nunca morre. Ele sempre está lá para te assombrar, independente do quanto tente acordar de tal pesadelo. Por isso, em vez de fugir ou se esconder, tomaram a decisão de enfrentar. Tiveram a ideia de dar de frente com esses demônios, sendo perturbadas por essas imagens e lembranças horríveis.
Agora, Jordana Brammall e Emily Hayes estavam sentadas nos bancos de couro do carro comprado, o mais barato encontrado, seguindo a 50km/h pela rodovia que as levaria de volta para Oakfield, a sede de seus pesadelos e ruínas.
Nunca pensaram que algum dia voltariam para lá. A ideia que tiveram quando se livraram da cidade, sete anos antes, era de que sairiam sem olhar para trás, abandonando lá todas as desgraças que aconteceram durante aquelas semanas de setembro, quase como se fossem alvos de um coador, deixando em Oakfield toda a carga ruim. A única coisa que não planejaram, era que esse coador, talvez, estivesse furado.
