As árvores envolviam a garota como muralhas que deveriam ser temidas. O interior da floresta era guardado pela extrema escuridão da noite mal iluminada pela lua. Nem mesma a luz da lanterna do celular segurado pela mãozinha fria e trêmula de Molly era capaz de iluminar muita coisa ao redor. Nada além do tronco das árvores e do chão de terra batida e grama chegava ao seu conhecimento. O vento frio agitava seus cabelos e fazia todo o corpo tremer. A temperatura baixa não era expelida nem pelo casaco que usava. De cenho franzido, ela olhava ao redor.
Estava em alguma parte da trilha que levaria até o Everwood Hotel. O prédio estava longe o bastante — ou poderia ser uma consequência da escuridão — para que Molly não conseguisse encontrá-lo se olhasse para sua direção. Voltou a olhar para o lado oposto, o lado que a levaria de volta para a cidade. E mesmo que sua vontade fosse seguir por aquele caminho, não estava ali para ir embora, e sim, para ficar. Com extremo medo, mas ficaria. Era o mínimo que poderia fazer depois de tanto tempo sendo um fardo que todos os outros sobreviventes tiveram que arrastar. No entanto, nem mesmo toda essa força de vontade e essa coragem que a morena mentia para si mesma ter ajudavam na situação atual. Estava petrificada pelo medo de estar sozinha no escuro.
Esperava por Kai. Havia ligado para o policial depois que ela e Sam tinham saído da casa da loira. Retornou para a própria casa, onde as viaturas e a multidão continuavam aglomeradas, mas Emily não estava em lugar nenhum. Tentou ligar para ela, mas as chamadas caíram na caixa postal. Então, tentou ligar para os outros, como disse que faria. Nenhum deles atendeu também, exceto por Kai, que tinha dito estar na delegacia após ter ido embora da cena do crime da morte de Ellen. Molly explicou toda a situação para ele e, por fim, Kai aceitou ajudá-la no que estava acontecendo e se unir aos outros no hotel, onde possivelmente estavam naquele exato momento, lutando contra o assassino enquanto ela esperava no frio.
Nunca tinha se sentido tão assustada na vida, essa era uma verdade. Sozinha, no escuro, com uma floresta cercando-lhe, Molly tinha o coração na boca. A cada segundo, pensava que o assassino mascarado surgiria correndo pelas árvores e viria em sua direção, mas tentava não pensar nisso, e então ocupava a mente com outra coisa. Focava-se no clima gelado, e acabava por sentir mais frio, mas era melhor do que imaginar o maníaco vindo para lhe matar. Nossa, está frio hoje a noite... Está bem frio, meu Deus... Apenas pense no frio, Molly... Apenas pense no frio...
Estalava a mandíbula, dando pulinhos involuntários para aquecer o corpo enquanto passava a mão no que sobrou de seu braço. A lanterna do celular ia e vinha entre os dedos, como um holofote. Olhou para trás, na direção do Everwood Hotel, esperando que todos estivessem bem e que ninguém estivesse morto até aquele momento. O lado bom era que, em questão de minutos, não estaria mais sozinha e, também, que a ligação para Sam não tinha sido um truque do assassino, pois Kai alegou também ter recebido uma chamada do mascarado para o embate final, mas ignorou-a, pensando se tratar de uma emboscada.
Foi quando duas luzes fortes surgiram, vindo pela trilha. Molly abriu a boca num leve susto, recuando um passo e sentindo os galhos e as folhas raspando nas costas. Mas então os dois pontos luminosos tomaram forma, transformando-se nos faróis de uma viatura. Nervosa, deu um risinho que o policial provavelmente não enxergou e acenou com sua única mão. Logo, o carro estacionou diante de si e a janela do motorista se abaixou.
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Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...