Dando um bocado na torrada, Molly a mastigou com calma. Continuava no mesmo estado catatônico de sempre. Era desse mesmo modo que ficava depois que alguém morria. Era o período do choque inicial, acompanhado da tristeza prevalecente e a incoerência do fato de que aquela pessoa já não mais estaria entre eles. Fazia apenas algumas horas desde que Max tinha sido dado como morto, então era de se esperar que Molly ainda estivesse daquele jeito, perdida em seus pensamentos. O lado bom era que ainda não se arrependia de ter jogado as drogas fora. Sentia-se mais leve e livre, na verdade. Então, a única coisa ruim era realmente a sensação de saber que um de seus amigos estava morto.
Sentada numa das cadeiras da mesinha de canto, Ellen estava do mesmo jeito. Havia acabado de chegar do hospital, e continuava com uma sensação estranha pelo corpo. Tinha pena por Owen, e um certo desconforto ao pensar que Max estava morto. Era sempre horrível saber que alguém tinha morrido, ainda mais por assassinato. Lidou com poucos casos de morte de pacientes em toda a sua carreira. Normalmente, eram suicídios, o que não aliviava a gravidade da situação, mas diminuía um pouco o peso.
— É normal dizer que estou acostumada com tudo isso? — perguntou Molly, sem encará-la. — Alguém morre, a gente fica em choque, chora em alguns casos, conforta os mais próximos da vítima, pensa que tudo vai ficar bem, até que uma nova morte acontece e tudo se repete. Já se tornou um ciclo.
— Não, não é normal estar acostumado — respondeu Ellen de imediato, ainda com uma torrada intocada nas mãos. — Mas infelizmente é o que foi adaptado à nossa nova realidade. E isso é horrível.
— Isso afeta todo mundo, ainda por cima. O assassino fez uma lista excepcional só com pessoas próximas umas das outras. — Suspirou fundo. — Às vezes acho que essa era a intenção: nos deixar morbidamente acostumados com tudo isso. Nos fazer saber que estamos ferrados, que não temos chance.
— Eu não acredito nisso — indagou Ellen, olhando para ela com seus grandes olhos verdes. — Acho que temos chance, sim. Só precisamos ser espertos. Ele não é invencível, só é... um grande filho da puta mal amado que está a procura de um pouco de atenção.
Molly engoliu em seco. Achava estranho desferir xingamentos contra o assassino, mesmo quando ele não estava próximo, como se isso fosse atraí-lo ou coisa assim.
— E isso vai ser muito difícil. Vencer ele, digo — disse Molly. — Espero que realmente tenhamos a chance.
— Vamos ter. Eles sempre dão essa chance, a do embate final, em que todos têm a mesma chance um contra o outro.
— E como isso acontece? — perguntou a morena, curiosa, olhando para a loira.
— Ele vai fazer alguma coisa que vai nos forçar a nos unir. Aí, tudo se desenrola. A máscara cai, todo mundo fica espantado, ele, com certeza, vai conseguir matar alguns, mas no final, vai acabar perdendo.
— Acha mesmo isso?
— Prefiro acreditar que sim. É sempre a mesma historinha. "Dessa vez eu te pego", "Agora eu te mato", "Você vai morrer", "Sem chances para você"... Mas no final, ele sempre perde. É igual a história daquela galera da cidadezinha das montanhas, Ashville.
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Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...