Pronta para sair de casa, Emily apressou-se para o segundo andar. Agasalhada até o pescoço, a sobrevivente não estava disposta a passar frio. O clima nada estável de Oakfield mais uma vez mostrava as caras, com a queda brusca da temperatura surgindo pela noite, da mesma forma como se lembrava de acontecer a sete anos. E se aventurar no exterior da residência realmente seria um trabalho do qual estava sendo obrigada a fazer, pois seria quase impossível que fosse fazer aquilo por vontade própria.
O motivo era por ter sido chamada, momentos antes, para ir ao hospital de Oakfield, onde Molly estava internada após ter sido mais uma das vítimas dos ataques do Carrasco. A situação em si já era alarmante, mas o fato de Molly continuar viva era o bastante para Emily se sentir mais aliviada. Além disso, a culpa lhe consumia por ter duvidado da garota dias antes, quando a acusou verbalmente de ter orquestrado o caso de Megan e Linda no supermercado. De certa forma, para Emily essa era uma das piores situações que poderia ocorrer, quando ficava certa o bastante de que tal indivíduo era o assassino, mas depois — quase como se o próprio mascarado tivesse ouvido —, essa pessoa era brutalmente assassinada ou atacada, provando o contrário e deixando para aqueles que duvidaram de sua inocência nada mais do que o forte peso na consciência.
Após receber a ligação de um dos médicos do hospital, provavelmente o responsável pelos cuidados de Molly, Emily sentiu-se ainda mais chateada consigo mesma, pois, pelo jeito, Molly havia dado o número da sobrevivente para as chamadas de emergência. Em outras palavras, era para Emily que teriam de ligar caso alguma situação inesperada acontecesse, como uma piora no estado de Molly ou, até mesmo, sua morte. Mas até onde sabia, isso estava longe de acontecer. Molly estava bem, como lhe foi avisado ao telefone, o sangramento foi contido dias antes e agora ela só precisaria ficar algum tempo em repouso no hospital até que os ferimentos tivessem cicatrizado, para então ser colocada de volta no mundo real — dessa vez com metade do braço faltando.
Um braço dilacerado por um moedor de carne; Emily mal podia imaginar o que poderia ter acontecido se os policiais não tivessem chegado durante o ataque, em que estado o corpo de Molly seria encontrado. Tirou o pensamento da cabeça com uma piscada forte, continuando a subir os degraus da escada. A conversa com o médico em si seria algo sobre alguns medicamentos que deveriam ser comprados com antecedência para o tratamento de Molly fora do hospital, e que por serem de tarja preta, necessitariam de uma receita médica.
Nada demais, dizia a si mesma. Mas antes de sair, achou sensato avisar quem ainda estava na casa. Ellen já havia sido alertada na sala de estar, e agora a missão era encontrar Archie. Dessa forma, chegou ao segundo andar e deu uma olhada ao redor, seguindo caminho até um dos quartos ao fundo do corredor, onde o garoto fora deixado. Com a bolsa balançando no ombro, colocou-se diante da porta e, numa intromissão não muito pensada, apenas girou a maçaneta e abriu caminho.
Parou no mesmo instante com um susto forte, sentindo o rosto queimar. Emily sentiu-se extremamente estúpida por não ter batido antes, vendo-se diante de uma cena não muito convidativa aos olhos. O próprio Archie deu um pulo no lugar, estalando os olhos e deixando em aparência os olhos vermelhos de tanto chorar e as lágrimas que lavavam as bochechas. Parado ao lado da penteadeira, o rapaz largou imediatamente o pedaço de lâmina de barbear que usava para abrir os cortes em seu pulso, deixando-a cair na madeira, onde uma pequena poça de sangue se formava.
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Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...