O clima na residência das Brammall-Hayes ficou pesado. Sem a presença de Emily, que havia saído a algum tempo para entregar seus currículos, e de Archie e Molly, que também haviam se retirado após a saída de Emily com a desculpa de que Molly daria mais uma volta pela cidade com o garoto, Jordana era a única presente no lugar.
A casa estava silenciosa, não fosse pela voz grave do homem que aparecia na tela da TV, dizendo para uma dama que ela estava resplandecente naquela noite, enquanto Jordana assistia ao programa com desinteresse, de braços e pernas cruzadas sobre um dos sofás, os olhos fixos na tela e a face com uma expressão de fúria incessível.
Ela sempre fora dessa forma, dona de um temperamento elevado, e suas brigas no colégio eram grande prova disso, incluindo a que teve com Susie Weigert e Colby Ross quando as coisas ainda eram normais. Ali, relembrando do fato, sentia-se extremamente culpada por ter socado a loira naquela tarde, pois sabia que não existia forma pior de se despedir de alguém do que quando estava brigado com essa pessoa. Tudo bem que o clima mudou, elas começaram a se falar e a história do soco foi esquecida, mas logo voltaram os problemas entre as duas e a última vez que Jordana conversou com Colby foi ao discutirem intensamente sobre a possível culpa de George Smith em relação aos assassinatos. Já a última vez que a albina viu Colby, foi quando sua cara começou a ser estampada nos noticiários, com a notícia abaixo dizendo que o Carrasco havia feito uma nova vítima. "Remorso" era a palavra que a descrevia naquele dia, sete anos antes.
Mas o enredo havia mudado, e agora uma sequência estava sendo rodada. Novo jogo, novas regras, era o que dizia a si, e consequentemente, a história também era outra. De fato não prestava atenção no que passava no aparelho de TV, perdida em devaneios profundos e assustadores, tentando pensar em alguma explicação plausível para o que vinha acontecendo desde que chegaram. Quatro corpos e uma ligação, era o que sabia. Tinha quase certeza de que outras pessoas já começavam a receber ameaças, mensagens, ligações... Tudo o que um dia aconteceu consigo. Mas naquela época ela era uma mera antagonista no horror vivido, e sabia que os antagonistas eram os primeiros a serem mortos. O problema era que, agora, se via como uma protagonista.
Em outras palavras, viveria o horror sem, de fato, poder interferir, o que por um lado achava muito pior. O simples pensamento de que poderia ter sido morta sete anos atrás já a fazia arrepiar. Uma sensação de angústia lhe preenchia. Lembrava-se de todas suas quase mortes e o pescoço já começava a comichar ao se lembrar da forca ao redor de sua garganta e o medo de entrar em banheiros sozinha novamente. Foram muitas e muitas ameaças por um longo período, e teve sorte de sair viva daquilo. Mas agora tudo havia mudado, e sentiria na pele o que Emily havia vivido naquela época, vendo todos caírem ao seu redor, sem ser atingida por nada, sofrendo silenciosamente.
Realmente achava que estava acontecendo de novo. O fato de não ter admitido em voz alta era porque estava assustada demais para tal. Não queria acreditar, e pensava que mentir para si mesma ajudaria de alguma forma, mal sabendo que estava apenas prolongando o horror, tornando-se cada vez mais exposta e desprotegida. Um palheiro pronto para ser queimado pela simples chama de um pequeno e miserável fósforo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...