A janela aberta à direita de Peter deixava que o rapaz tivesse uma boa visão de todo o quarto, que era tão branco quanto a esclera de seus olhos. A luz entrava de forma fraca, de modo que partes mais baixas estavam impossíveis de ser iluminadas, criando uma espécie de nuvem negra que se destacava em relação ao restante do cômodo. Do lado paralelo à janela, estava a porta, circundada por paredes brancas e lisas. A mesma era feita de vidro e deslizável, dando-se para ter uma boa visão de uma grande bancada de madeira do lado de fora do quarto, onde algumas enfermeiras estavam dispostas. E diante de Pater, havia a maca retangular que sustentava o corpo ainda desacordado de Garrett.
Peter estava parado ao lado dele, com os braços apoiados na beira do colchão, apenas encarando-o. No ombro de Garrett, estava a grande bandagem tampando seu ferimento: um tiro de pistola, desferido por Emily na noite anterior. O curativo tomava toda a extensão do ombro largo do tatuador, chegando quase ao cotovelo, tendo que deixá-lo sem camisa para análises futuras do local, exibindo o peito um pouco cabeludo de Garrett. Da barriga para baixo, um cobertor fino e verde o tampava, sendo possível ver, por baixo dele, as pernas esticadas do paciente. Os olhos fechados do moreno deixavam-no com uma expressão calma, como se estivesse somente dormindo, a cabeça virada um pouco para o lado.
No braço esquerdo de Garrett, uma agulha fina interligava-o a um saco de soro, pendurado ao lado da maca por um suporte metálico. Ali, uma enfermeira uniformizada injetava algum tipo de medicamento no saquinho pendente através de uma seringa. O soro translúcido tornou-se amarelo por alguns segundos, então voltou a ficar transparente.
Peter deu uma olhadela para ela assim que a mesma se virou, pegando os itens deixado sobre a mesinha ao lado e preparando-se para sair. No entanto, ao notar a forma como foi encarada e perceber o estado parcialmente catatônico do rapaz, disse enquanto dava um sorriso com o canto dos lábios, não chegando a mostrar os dentes:
— Não se preocupe, ele vai ficar bem.
Levantando os olhos, Peter sorriu para ela, e então a mulher saiu dali, deixando a porta aberta ao passar para o outro lado e adentrar mais a fundo o hospital.
A enfermeira estava com razão ao notar as feições do estagiário, afinal, mantinha um pouco de suor na testa e os olhos marejados de quem se vê rodeado pela desorientação. Aquilo tudo era causado pela preocupação por Garrett. Haviam se tornado melhores amigos a apenas alguns anos, pouco tempo, quando o tatuador se mudou para Oakfield. De qualquer jeito, o nível da amizade apenas decolou com o passar dos dias e agora Garrett tornara-se uma das poucas pessoas pelas quais Peter dava toda a sua confiança e lealdade, mesmo que as leves discussões acontecessem casualmente. Tudo isso poderia ser causado pela personalidade fácil de se apegar do rapaz, mas ele não via problema naquilo.
Poderia, naquele momento, estar odiando Emily pelo que havia feito, mas, por algum motivo, compreendia a história dela e não a culpava — talvez por causa de sua inocência em excesso, coisa que o afligia constantemente. Peter muitas vezes era dado como idiota por aqueles que pouco o conheciam. "Perdoa fácil demais" diziam uns, "É facilmente manipulável" falavam outros. Mas o moreno, por sua vez, estava pouco se lixando para isso. Sua vida não poderia estar melhor, se não fosse pelo assassino em série que agora matava seus amigos, e nunca teve problemas com se importar demais com os outros.
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Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...