Após a saída de Megan, a companhia de Peter no apartamento de Garrett se estendeu por bons minutos. A vontade do estagiário em se certificar de que o amigo estava bem era enorme e absoluta. Sentia-se mal em ter de abandoná-lo ali, por assim dizer, mesmo que, segundo o tatuador, ele ficasse bem sozinho. Não era como se estivesse completamente debilitado, afinal. Conseguia andar, mover um dos braços, se cuidar, e como já estava de noite, não tinha muito o que fazer para precisar de ajuda o tempo todo. Tudo acontecia perante muita dor, mas se ficasse quieto, Garrett passaria a noite bem.
Retornando a encarar a janela e a rua, Peter manteve-se sério ao observar seu carro estacionado metros abaixo. O som da TV ligada era o único existente, pelo menos até o momento em que Garrett, incomodado por manter o amigo preso ali, disse:
— Eu não estou tão mal assim. — Peter virou o corpo em sua direção, surpreso pela repentina fala. — Pode ir embora, se quiser. Eu vou ficar bem.
— Eu posso passar a noite aqui, se você quiser — respondeu ele. A preocupação de Peter para com Garrett era admirável. Ele realmente presava pelo outro.
— Não, não... — resmungou, balançando a cabeça de um lado para o outro. — Eu já abusei demais da sua boa vontade, Pete. — Riu de lado para passar uma certa confiança, uma prova de que estava bem. — Eu consigo me virar daqui em diante. Provavelmente não vou levantar mais... Só para ir no banheiro, talvez. Mas você não precisa ver isso.
Peter riu, saindo da janela e ficando na frente da cama, com as mãos nos bolsos. Ele pensou por alguns instantes se era mesmo uma boa opção deixar Garrett sozinho ali. Para falar a verdade, estava precisando de um bom banho e algumas horas de sono.
— Certo — disse, finalmente, após uma boa encarada nos curativos sob a camisa do moreno, que formavam uma protuberância no ombro esquerdo.
Garrett sorriu de lado. Nunca gostou de ficar na mão de alguém, depender de outra pessoa. Para o tatuador, era ruim, principalmente quando não tinha maneiras de retribuir o favor. Isso explicava não somente a extrema confiança em si mesmo que tinha, como também as muitas vezes que parecia estar sendo rude com alguém, quando, na verdade, apenas não queria incluir os outros em alguma coisa que poderia fazer sozinho. Mas o que Garrett não sabia, era que ele sempre estava retribuindo esse tipo de favor, especialmente quando se tratava de Peter, pois ele nunca imaginaria que seus pequenos conselhos e puxões de orelha traziam, sim, algum tipo de ajuda para o amigo.
— O seu remédio para febre está no criado-mudo — avisou Peter, sério, apontando para o móvel logo ao lado do rapaz. — Coloquei algumas garrafas de água no frigobar, e tem também uns petiscos, se tiver fome.
Garrett riu da forma como ele falava. Peter era quase como uma segunda mãe.
— Certo, mamãe — disse, irônico. — Fez tudo isso porque me ama?
— Só para ver o meu filhinho desvariado bem — respondeu, ainda mais irônico, arrancando uma série de risadas de Garrett.
Após cinco ou seis segundos rindo juntos, os dois finalmente pararam, olhando um para o outro. Naquele instante, Garrett pensou que seria o momento certo para um bom agradecimento. O estagiário precisava, depois de tudo.
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Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...