OITO MESES DEPOIS
Passou pelo casal que chorava como loucos e seguiu adiante. Queria não se aproximar de qualquer fonte de tristeza naquele momento. A única coisa que gostaria de sentir, era alívio.
Emily seguiu adiante, caminhando pelo pátio de concreto que se estendia até onde os olhos alcançavam, acabando num grande prédio ao longe. Ao redor, cercas de metal envolviam toda a prisão, com arame farpado criando uma camada perigosa sobre o ferro e impedindo que qualquer prisioneiro tentasse uma fuga. Seu objetivo, no entanto, ficava longe das extremidades do local, e se mostrava a alguns metros, onde uma fila de pessoas entrava aos poucos e lentamente num pequeno ônibus branco, enquanto um policial conferia os documentos entregues para si e liberava a passagem para cada um deles.
A sobrevivente enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo beje que usava, deixando que os saltos estalassem no concreto. Fazia frio e os cabelos eram constantemente levados pelo vento, batendo no rosto de maneira violenta. As luzes dos holofotes nas extremidades do terreno chegavam a cegar de tão fortes que eram. Atrás de si, mais uma ou duas pessoas seguiam o mesmo caminho depois de passar pela portaria, o que provava que havia chegado atrasada. Por sorte, não perderia o show.
Acabou ficando no fim da fila. Emily esperou pacientemente atrás de um rapaz alto e barbudo, já sentindo seu RG e CPF dentro do bolso do sobretudo. Não tinha pressa alguma, desde que tudo se desenrolaria independente de qualquer coisa. Mas não pôde negar que encheu-se de ansiedade quando chegou sua vez e entregou os documentos para o policial.
— Emily Hayes — disse ele, ao ler suas informações pessoais, checando tudo e riscando um dos nomes na lista do caderno em suas mãos. — Pode ir.
Após pegar os documentos de novo, Emily subiu no ônibus, passando pelos degraus de ferro e seguindo pelo estreito corredor entre as poltronas. Preferiu ficar sozinha — tanto que não trouxe ninguém consigo — e sentou-se ao fundo, do lado direito. O banco de couro esfriou suas costas e Emily se pôs a olhar pela janela, na direção do presídio iluminado ao longe. Não podia ver o local em que aconteceria a execução, então parou de tentar.
Lembrava-se do casal chorando na entrada. Eram os pais de Sam, sabia Emily. Havia pesquisado a fundo sobre a vida da assassina durante todo aquele tempo. Inclusive, acabou tomando um café com os pais da moça, onde eles se desculparam intensamente pelas ações da filha e alegaram nunca ter sabido da condição sobre qual Sam vivia. Emily não os culpava. Era difícil controlar um filho psicopata, podia ter certeza, e chegava a ser compreensível a dor que eles sentiam. Acabou que eles se despediram e nunca mais voltaram a se falar. Naquele momento, decidiu nem cumprimentá-los. Seria difícil explicar que estava ali para assistir — com bastante prazer — a morte de sua filha.
Se livrou do pensamento quando o ônibus começou a andar, dando um tranco. Havia apenas uma dúzia de pessoas ali dentro, todas isoladas em bancos distintos, não conversando. Sentiu curiosidade em saber o motivo de estarem ali. Não conseguia reconhecer nenhuma delas, mesmo que todas claramente lhe conhecessem, mas achava que, pelo menos, uma parte delas era parente das vítimas do massacre e, assim como ela, estavam ali para se livrar daquele peso da tristeza.
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Hello There 2
HorrorUm assassinato sempre muda uma cidade, já um massacre deixa uma marca eterna. Sete anos após o término do infame massacre que abalou a cidade de Oakfield, uma dupla de sobreviventes da onda de mortes retorna à cidade a procura de um recomeço em sua...