1. an introduction

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Odiar Gerard Way não era nada difícil, se você fosse tentar me acompanhar.

Ele era alto, e famoso, e sua mãe o deixava pintar o cabelo e fazer peças de teatro com pouco sentido mas muito "conceito", como eles dizem. Ele conhecia as melhores pessoas e os melhores cantos do colégio pra foder alguém, usar alguma droga ou qualquer outra coisa proibida pela diretoria. Todos sabiam de seus desvios, e todos faziam vista grossa. Ele tinha mais influência que o capitão do time de hóquei, o McCracken, e mais notoriedade que o próprio diretor.

Merda, ele era ridículo.

E não porque ele era ator ou famosinho ou tivesse os cabelos pintados de loiro. Não era nada disso. Ele era ridículo unicamente por ser escroto. E o povo aplaudia quando ele era escroto. Ele se achava o novo Richard Gere, ele se sentia importante de alguma maneira. Mas não, ele era só mais um fodido pelo ensino médio como todos nós.

No meu primeiro dia no St. Jude Regular School, eu era do 6º ano e Gerard do 9º, e ele já fazia parte da turminha de tiranos que se diziam atores. O povo do resto do mundo — do qual eu fazia parte — sentava-se numa mesa um bocado afastada da "mesa dos atores", e não era recomendado que esse povo interagisse com os caras importantes. E as coisas deram errado aí: no primeiro intervalo (tínhamos aula em tempo integral, então eram três intervalos) eu havia esbarrado em Gerard no corredor, e lá ocorreu o primeiro atrito. Eu, um garoto mirrado e tímido, havia praticamente atropelado o garoto mais velho e popular, e que odiava ser tocado fora dos palcos. O quase namorado dele na época, um cara chamado Jeff, havia me empurrado no chão e me xingado, e Gerard havia repetido suas palavras e me dirigido um olhar de superioridade enquanto eu levantava meu corpo frágil do chão de linóleo. Escroto.

No 9º ano, quando as crianças estavam se tornando adultos e queriam ter um caminho para seguir, falávamos um bocado sobre o futuro e o colégio abriu vagas para pequenos trabalhos na estrutura do St. Jude. Eu não gostava muito de aparecer, então preferi ir pelo caminho do rádio, mas Gerard ficou sabendo. Um de seus amigos me ameaçou para não xingar a turma de teatro em nenhum momento, senão o time de hóquei iria me visitar. O medo não me dominou; pelo contrário, uma força me fez lutar contra esses putos populares.

Eu comecei a falar mal dele no rádio do colégio, coisa que nos rendeu alguns dias de discussão na sala do diretor. Eu dizia apenas o óbvio: que Gerard era prepotente e arrogante, e era grande azar dos mais jovens ter que estudar com um repetente que não tem a mínima vergonha de ter reprovado quando poderia ter estudado ao invés de usar drogas ou transar despreocupado, como não era muito bem visto no meio no qual estávamos inseridos — um colégio católico. Mas eu pouco me importava, também. Meu medo era que ele reprovasse de novo e fosse parar na mesma turma que eu.

Esse ano, temos um acordo silencioso, e provavelmente haverá uma trégua entre os "o Gerard é um drogado metido a artista" e os "o Franklin é um arrogante metido a repórter". Estou ficando falado no colégio e isso com certeza não é bom, não pra mim, que sempre quis desaparecer completamente no meio da multidão estudantil. Mas o principal motivo para a trégua não era a interferência dos professores; era uma amizade que eu havia feito no ano anterior que acabava por nos deixar próximos mesmo que nas férias.

Eu era o melhor amigo de Michael Way, irmão mais novo de Gerard, então ele tinha que me tratar civilizadamente durante um tempo.

Não que isso diminuísse o ódio. Nós nos odiávamos, e isso era difícil de esquecer, mas fingíamos bem na casa de Gerard, quando a gente acabava se esbarrando. E todos os efeitos estranhos, dos quais eu lembro ter falado em algum momento, começaram naquele 2º ano do Ensino Médio, quando Mikey se tornou meu melhor amigo.

E não era um estranho bom. Era um estranho ruim.

The Radio Guy Hates The ActorOnde histórias criam vida. Descubra agora