12. Recomeço

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A fazenda dos Parker ficava num local ermo, entre Lima e Delphos em Ohio. O aeroporto mais próximo ficava em Dayton. Lynn embarcou num trem logo cedo e a viagem foi horrível. Sentia como se os órgãos tivessem saído do lugar. Ainda estava toda dolorida da surra que levara de cinto e enjoou quase o trajeto todo. Depois de horas exaustivas ouvindo o barulho das rodas rolando pelo trilho finalmente chegou à Dayton. Não pretendia passar a noite no local, queria pegar o primeiro vôo para Nova Iorque e esperava consegui-lo. Teve dificuldade em chegar ao aeroporto, não conhecia a cidade nem de passagem, mas depois de pedir informações pelas ruas conseguiu se localizar.

O vôo ainda demoraria duas horas para sair e Lynn permaneceu sentada no banco de espera o tempo todo. Não sentia fome nem cansaço físico, somente emocional. Queria embarcar logo no avião para poder encontrar Edward. 

Em contraste com a viagem de trem, viajar de avião foi tranqüilo e silencioso. Ela ouviu desatentamente às instruções da aeromoça, apoiando a cabeça na diminuta janela enquanto observava a cidadezinha ficando para trás.  Lynn não sentiu medo algum de voar e as quase cinco horas de vôo passaram num piscar de olhos, uma vez que ela finalmente conseguiu dormir um pouco. Desembarcou do avião e entrou no aeroporto caminhando apressadamente, embora com hesitação e deslumbramento. Por todos os lados havia homens e mulheres bem vestidos ou não, levando malas ou não, andando de um lado para o outro, fazendo check in, comprando passagens, conversando, tomando café nas lanchonetes, olhando revistas e jornais e alguns chorando na despedida de um parente ou amigo querido. 

Um funcionário vestido em um terninho azul com um sorriso largo no rosto informou-lhe que esperasse por sua bagagem na esteira à sua esquerda. Lynn ficou admirada com as malas que saíam de trás de uma cortininha no final da passarela, mas ela não tinha nenhuma bagagem. Trazia consigo apenas uma bolsa de mão, com uma muda de roupas e todo o seu dinheiro. Não tinha escova de dentes, nem calcinhas limpas, seu vestido era fino e ela começava a sentir frio. Tia Linda havia lhe dado um casaco antigo de tricô que fora dela quando mais moça e Lynn se apressou a vesti-lo.

O primeiro passo para fora do aeroporto teve um impacto enorme em Lynn. A cidade era movimentada e diferente de tudo que ela já tinha visto em Lima e Delphos, nem mesmo na sua breve passagem por Dayton ela vira tamanha confusão. Toda aquela urbanização fazia sua cabeça doer. As pessoas se esbarravam e empurravam a todo o momento e Lynn começava a sentir-se indefesa em meio a toda aquela gente estranha que a olhava como se fosse um ET. Talvez por causa de suas roupas que contrastavam loucamente com o que as outras pessoas usavam, cores escuras e sombrias, de corte reto e elegante. Lynn usava um vestidinho que agora lhe parecia tolo e infantil, com estampa de flores amarelas sobre o fundo branco e um casaquinho verde musgo de tricô bastante rústico e surrado. O barulho do trânsito era insuportável, e o cheiro de fumaça dos escapamentos e cigarros a deixavam nauseada. Lynn tirou o chapéu de panamá da cabeça embaraçada, sentindo-se ridícula. Correu para a calçada e imitou o gesto de uma pessoa que acabara de conseguir um táxi. Um carro amarelo ovo parou na sua frente e quando ela ia entrar uma mulher obesa carregando sacolas de compras a empurrou dizendo que ela tinha chamado o carro primeiro. Lynn se afastou amedrontada, quase perdendo o equilíbrio, e repetiu o gesto para chamar atenção de outro táxi. Dois carros pararam dessa vez e os motoristas saltaram para discutir sobre quem iria levar a passageira. Um executivo bem vestido perguntou a Lynn com um sorriso se ela iria precisar dos dois táxis, ela respondeu que não sentindo as bochechas corarem e o problema foi resolvido.

Ela se acomodou no banco de trás do veículo, incerta sobre o que fazer.

O motorista tinha a pele parda, sua barba era rala e ele usava um turbante colorido na cabeça e falava de maneira confusa. Lynn tirou um pedacinho de papel da bolsa e mostrou ao motorista dizendo "aqui", como se estivesse em outro país. Os novaiorquinos eram muito diferentes do que ela esperava. No banco traseiro havia uma caixa de hambúrguer vazia e um jornal amassado datado de dois meses atrás. O carro arrancou bruscamente, jogando Lynn para trás. O trânsito era confuso e os motoristas todos pareciam estar com pressa e com raiva.

Garota Ingênua [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora