35. Perdas e Danos

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Paul estacionou o carro na garagem e pediu que Igor  entrasse na frente.

- Vou pegar uma garrafa de champanhe no Pavilhão Anexo –  disse se virando, indo em direção aos fundos da casa.

Paul entrou no anexo e se dirigiu à pequena adega,  escolheu uma das garrafas e saiu fechando a porta de correr.

- As melhores bebidas estão aqui embaixo... – sussurrou admirando o rótulo.

A luz do holofote atrás da casa chamou sua atenção e ele desviou o olhar para lá. A garrafa de champanhe escorregou de suas mãos e se espatifou no caminho de pedras que levava até a entrada lateral. O líquido espumante se espalhou pela grama. Pálido, Paul  reconheceu Lynn caminhando pelo cascalho puxando Edward pela mão. Viu Edward puxá-la para perto de si e beija-la longamente. Quando os dois encostaram-se na parede e ele levantou a saia de Lynn, Paul cerrou os punhos e voltou correndo para a casa. Escolheu uma garrafa qualquer da geladeira e entrou na sala forçando um sorriso à Igor que o aguardava sentado no sofá.

- Vamos para a sala de jantar? – chamou ele com o rosto contorcido de maneira estranha.

- O que houve? – indagou o amigo colocando a mão em seu ombro – Parece que viu um fantasma.

Paul descontraiu os músculos do rosto, notando naquele momento que os estivera forçando.

- Estou um pouco cansado... – murmurou fazendo um gesto de indiferença com a mão.

- É melhor eu ir embora?

- Não! Não, imagina! – interrompeu Paul soltando uma gargalhada funesta. Sua intenção não era gargalhar, mas repentinamente perdera o controle sobre suas ações.

Lynn desceu para o jantar sorrindo como se nada tivesse acontecido, mas Paul sabia que algo tinha acontecido. Ela estava com um vestido leve e cabelos molhados. Apesar do que vira, não conseguia sentir raiva dela, pois há algum tempo que não se sentia  confortável dentro do seu casamento. O único sentimento que lhe apertava o coração era a decepção. Mal podia acreditar que Lynn fosse capaz de trai-lo. Durante tantos anos ela espumara de raiva de Edward e ele sempre tentara incentiva-lá a fazer um esforço para se dar bem com o pai de Cecilia... Enfim parecia que eles estavam se dando bem até demais.

A paixão avassaladora que sentia por Lynn no início da relação já estava morna há anos e o sexo entre eles não era um fator determinante no casamento tanto quanto a amizade e o companheirismo. Paul tinha consciência que se acomodara demais nesses anos todos e de certa forma, se culpava pelo que estava acontecendo. Sempre lhe pareceu claro que Lynn jamais havia superado seu primeiro amor.

Paul estremeceu quando Lynn o abraçou e beijou seus lábios. Lynn por sua vez, estranhou a atitude do marido, que geralmente era tão carinhoso com ela. De imediato associou a atitude fria de Paul à presença do rapaz ali, que provavelmente era amante dele. Lynn estava convicta que Paul e Igor estavam tendo um caso. Esqueceu totalmente de Edward diante da presença dos dois.

- Como estava o teatro? - perguntou Lynn, tentando  parecer simpática.

- Estava ótimo. Deveria ter ido, Lynn - disse  Igor, totalmente à vontade no sofá da sala.

- Mirna é uma excelente atriz... - falou Paul com um  sarcasmo que deixou Lynn intrigada.

- Está tudo bem, Paul? Estou achando você um pouco tenso.

- Deve ser a fome. O jantar já está servido? Onde está Ceci?

- Oh, Ceci não quer jantar hoje, ela está acompanhada de uma amiga que veio dormir aqui. Não saem do quarto por nada, então mandei servir um lanche para elas lá em cima.

O jantar transcorreu quase que totalmente em silêncio. Paul conversava apenas com Igor, que parecia ser o único a apreciar a comida e o vinho.

Já era meia-noite quando Igor foi embora. Por Paul, ele passaria a noite na casa, o que Lynn achou um absurdo enorme. Precisava conversar com Paul ainda naquela noite, senão iria ter uma coisa!

- Paul, precisamos conversar.

Paul estremeceu sem saber se estava preparado para o que Lynn iria lhe dizer. Não queria perdê-la. Não queria que pedisse o divórcio para se casar com Edward.

- Lynn... Podemos conversar amanhã? Eu estou excitado e preciso de você agora, amor! - falou repentinamente.

Lynn assustou-se ao ver Paul se aproximar da cama e se acomodar no meio de suas pernas, abraçando-a e beijando-a sem parar.

- Paul... espere... - protestou, empurrando o peito dele com as mãos.

- Eu te quero! Te amo!

- Paul... Precisamos conversar antes - insistiu Lynn, desviando o rosto.

- Shh... Não há nada para conversar...

- Você e Igor estão tendo um caso? - perguntou Lynn de supetão apenas com o intuito de frear os impulsos de Paul.

- O quê?! - Paul sentou-se na cama, olhando para Lynn incrédulo.

Lynn estava constrangida de ter feito aquela pergunta, mas pelo menos conseguira frustrar as tentativas do marido, cada vez mais irreconhecível em sua atitude picante. Talvez em outro momento suas investidas teriam sido bem vindas, mas o aspecto sexual do casamento havia ficado em segundo plano há muito tempo e agora parecia apenas esquisito e constrangedor. Odiava-se por querer apenas fazer sexo com Edward. Se houvesse uma forma de fundir Edward e Paul em um único homem, Lynn seria a mulher mais feliz do mundo.

- Isso mesmo que eu perguntei, Paul. Você e Igor estão  tendo um caso? - insistiu, tentando erguer o corpo sob Paul, que se afastou.

- Não! Igor é só um amigo! No começo tinha pena dele, era um menor abandonado. Depois, fomos descobrindo várias coisas em comum - explicou ele, confuso com a conclusão a que Lynn havia chegado.

- Coisas em comum? Sexualidade, você quer dizer? - acusou ela.

- Não! Arte! - exclamou ele - Se visse como Igor canta e desenha bem, ficaria impressionada! Mas infelizmente a única oportunidade que ele tem de ganhar dinheiro agora, é com seu corpo. Com publicidade, boy band e moda. Era só isso que queria falar? - concluiu, irritado.

- Sim... - disse ela, baixando o olhar em constrangimento.

- Ótimo. Boa noite, Lynn - falou Paul, levantando-se da cama e vestindo a primeira roupa que encontrara.

- Onde você vai?

- Sair. Estou precisando arejar minhas idéias.

- Paul... eu amo você! - Lynn olhava para Paul com  os olhos marejados de lágrimas. Sentia-se culpada pelas traições e, naquele momento, resolvera acabar tudo com Edward no dia seguinte para se dedicar à Paul. A ideia de perdê-lo parecia devastadora.

- Até amanhã, Lynn. Durma bem.

Lynn afundou a cabeça no travesseiro e chorou até o  amanhecer.

Garota Ingênua [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora