37. De novo não!

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Edward olhou para a garrafa de whisky que há várias semanas servia de enfeite no bar e sentiu-se tentado a ceder. Precisava relaxar um pouco e só uma bebida forte era capaz de acalmá-lo na ausência do corpo de Lynn. Era apenas mais uma noite em que estava só, sem a filha, e obviamente sem o amor da sua vida. Ele pegou um copo do armário superior e colocou em cima da bancada de mármore preto. Quando destampou a garrafa, o odor forte do álcool atingiu suas narinas e sua boca salivou. Fazia muito tempo que ele não bebia. Após colocar uma dose no copo, Edward enroscou a tampa no gargalo novamente e recolocou a garrafa em seu lugar, pois pretendia tomar apenas aquela dose e nada mais. Só queria sentir-se um pouco melhor. O primeiro gole desceu por sua garganta provocando uma leve ardência. Ele estalou os lábios e girou o copo entre as mãos. Não queria pensar mais em Lynn. Tomou outro gole. Sua vida parecia ter se transformado completamente a partir do momento que a conheceu. Quando colocou o copo nos lábios novamente, notou que já estava vazio.

Edward pensou por um momento, convencendo-se sobre a necessidade de outra dose. Ele podia parar quando quisesse, estava no controle da própria vida. Conseguia refrear os seus desejos. Mas apenas outra dose não faria mal.

Ele bebeu avidamente a segunda dose, depois a terceira. Finalmente decidiu que já era o bastante e recolocou a garrafa de volta em seu lugar, em seguida levou o copo até a pia.

A bebida havia enevoado sua mente de forma familiar. Já sentia-se mais calmo.

Sentou-se em uma poltrona confortável e seus pensamentos vagaram. Por que Lynn havia posto um ponto final na relação deles tão abruptamente? Não conseguia se lembrar de ter feito algo diferente que pudesse tê-la contrariado ou magoado.

Não tinha compromisso no dia seguinte, não precisaria acordar cedo. Estava sozinho. Sua força de vontade rapidamente se dissipou e ele pegou a garrafa e foi para a poltrona.

Lynn o havia usado e agora estava descartando-o como um objeto qualquer. Seus pensamentos se tornavam mais confusos a cada gole. Edward não queria perder novamente o controle diante da bebida, mas isso não parecia mais possível. Ele havia deixado Ceci em casa há apenas duas horas atrás e Lynn fora tão seca, tratando-o como um estranho. Esquivara-se de seu toque e recusara-se a conversar com ele à sós.

Embora algo houvesse mudado em Lynn com relação às visitas dele à filha, Edward percebia nitidamente que o comportamento dela se refletia em Ceci, que aparentava adquirir novamente a introspecção em sua presença que recentemente se esvaíra devido ao bom relacionamento dos pais.

Edward sentia como se a filha estivesse se afastando dele novamente e essa dor combinada com a confusão que lhe abatia com relação à Lynn faziam seu coração comprimir-se no peito.

Ele abriu a porta do freezer procurando por gelo, mas já não havia mais nenhum.

A campainha soava sem parar ou era sua imaginação?

Cambaleando, Edward foi até a porta e, para sua surpresa, era Lynn. Tudo que ele menos queria era que ela o visse daquele jeito. Merda. Lynn o empurrou, abrindo passagem, enquanto ele tentava manter o rosto neutro e o olhar sóbrio.

- Estou tocando essa maldita campainha há séculos! Que bonito! Você voltou a beber! – exclamou com semblante de nojo.

- Lynn... não estou bêbado, apenas um pouco tonto – disse ele de forma pouco convincente - Você quer fazer sexo?

Edward enlaçou-a pela cintura e tentou beijá-la. Lynn afastou-o com as mãos, o cheiro de bebida lhe causava repulsa e revirava-lhe o estômago.

- Não posso acreditar! - exclamou Lynn, notando a garrafa de whiskey aninhada nas almofadas da poltrona.

- Eu te quero! Quero fazer sexo com você sem qualquer sentimento, prometo, apenas sexo... – sussurrou ele no ouvido dela.

As palavras foram como uma faca afiada rasgando dolorosamente seu ego e seu coração. Embora houvesse lutado para manter a relação com Edward, deixando claro que não havia volta para o que os dois tiveram no passado, ouvi-lo falar daquela maneira a surpreendera e a fizera sentir-se sem valor.

Ela havia jurado jamais se permitir ser humilhada por Edward novamente. Aquele homem já lhe causara problemas demais. Não sabia sequer o que estava fazendo ali, nunca deveria ter vindo. Ela o empurrou, fazendo com que ele caísse sentado no sofá.

- Eu vim aqui para dizer que o que aconteceu entre nós jamais se repetirá novamente, entendeu? - ela apontou o dedo na cara dele, tremendo, mas ele parecia incapaz de focar o olhar nela - Oh, eu estou perdendo tempo aqui. Você não pode mesmo estar prestando atenção em nada desse jeito! – exclamou ela exasperada.

- Lynn... Eu sinto sua falta... – balbuciou ele.

Por que ela havia vindo? Por que teimava em cometer o mesmo erro com Edward? Já era hora de esquecê-lo.

- Você me dá pena, Edward! Eu tenho nojo de você! Eu amaldiçoo cada instante ao seu lado ou próximo de você! Coitada de Ceci por ter um pai assim! Você é uma vergonha para ela! - falou Lynn, saindo do apartamento e batendo a porta, com lágrimas nos olhos.

Ela se arrependeu instantaneamente das palavras duras, mas não podia engoli-las de volta. Ela apressou o passo, odiando-se por ter saído de casa para isso.

Os carros passavam velozes pelas ruas, e, felizmente, ninguém parecia reconhecê-la enquanto corria esbarrando nos outros sem prestar atenção ou pedir desculpas. Não sabia para onde estava indo, apenas queria fugir.

Sentia-se péssima pelo que havia feito. Fora incapaz de controlar seus impulsos. Fora até a casa de Edward para terminar o relacionamento extraconjugal que mantivera com ele recentemente, mas vê-lo daquela forma a decepcionara profundamente. O fato de ele a ter feito sentir-se envergonhada foi o que desencadeou sua reação explosiva. Ela fora incapaz de ajudar Edward quando ele mais precisava.

Ao invés de fazer o certo, o bem, ela simplesmente ignorara a situação real e deixara-se levar por emoções fúteis e momentâneas. Sentia-se um lixo. Sentia repulsa de si mesma, tanto quanto por Edward. Suas mãos tremiam e ela sentia o calor subindo pela garganta. Esforçou-se para segurar a convulsão prestes a sacudi-la, mas foi em vão. Suas pernas dobraram e ela caiu ao chão, vomitando. Sua cabeça doía, como se estivessem batendo nela com um taco de baseball. Luzes brancas pipocavam à sua frente, mas ela sabia que não eram os flashes das câmeras fotográficas. Ela ia desmaiar. A vista foi ficando escura, ignorando os esforços dela para se manter consciente. Perdeu os sentidos no momento em que alguém perguntava se ela precisava de ajuda.

Garota Ingênua [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora