Garota Ingênua [COMPLETA]

19. Escândalo

Lynn e Paul concordaram em se casar depois do nascimento do  bebê para evitar uma superexposição de Lynn na mídia numa fase tão complicada  da gravidez. Lynn resolveu romper definitivamente a amizade com Jessica depois  de saber que fora ela a responsável pela distribuição de suas fotos para que  ela terminasse com Paul.

Ela  agora estava entrando no nono mês de gravidez e resolvera não aceitar mais  trabalhos. Recebeu vários convites para fazer comerciais de cosméticos, devido  ao rosto bem desenhado que estava a cada dia mais radiante e maravilhoso. O  apartamento em que viveria com Paul após o casamento estava sendo reformado e  todos os dias, pelo menos por algumas horas, Lynn ia até lá para ver como  estava ficando.

Há dias uma famosa grife de roupas para gestantes lhe  procurava para acertar um contrato. Lynn estava indecisa porque a proposta era  tentadora. Se aceitasse, poderia ficar um bom tempo sem precisar trabalhar e  poderia cuidar do seu filhinho como uma boa mãe que se preze. O fato das fotos  sensuais terem vazado para a imprensa haviam aumentado muito as ofertas para  ensaios mais ousados e após o nascimento do bebê, Lynn já tinha uma lista  enorme de interessados.

Depois  de uma semana, Lynn decidiu aceitar fazer as fotos. Seu advogado preparou o  contrato e acertaram o cachê. Naquele meio tempo, Paul fazia o papel de  empresário, mas ambos haviam conversado sobre a necessidade de Lynn ser  empresariada por outra pessoa, alguém que pudesse se dedicar exclusivamente a  sua carreira.

Ao  término das fotos, Lynn chamou um táxi, pois Paul estava em Londres, fazendo  um trabalho por lá. Sentia-se muito cansada, e enquanto aguardava, resolveu  comprar o jornal para ver as fotos da festa de casamento de uma modelo com  quem fizera amizade e que ela não pudera ir.

Lynn  folheava as páginas do jornal com pressa, procurando as fotos da amiga, quando  viu uma foto sua. A chamada da matéria lhe saltou aos olhos como uma bomba:

"ÍCONE  DA BELEZA ADOLESCENTE GRÁVIDA DO PRÓPRIO TIO"

Lynn  sentiu  o chão fugindo de seus pés. Subitamente tudo ficou escuro e ela deixou o corpo  escorregar para dentro daquele torpor irresistível. Desmaiou no meio da rua,  tendo que ser socorrida pelo próprio jornaleiro que chamou uma ambulância.

*

Edward abriu as janelas do quarto e olhou para a linda  vista do litoral de Valência, na Espanha. Há meses atrás saíra dos Estados  Unidos; chegara à conclusão de que precisava de um tempo para si mesmo,  precisava esquecer Lynn. Há três semanas que não pensava nela, e sentia-se  menos culpado por seu relacionamento com ela. Não pensava em se envolver com  ninguém tão cedo. Esquecer que tivera nos braços alguém como ela era uma  tarefa difícil, pois o que tiveram havia sido a coisa mais intensa que ele já vivera. Volta e meia ele se pegava imaginando o que ela estaria fazendo;  o que estaria usando.

Nesse dia, porém, ele se sentia mais bem disposto que o  normal. Sentia-se revigorado e livre de todos os tormentos dos últimos meses.  Sentia que poderia seguir em frente tranqüilo, e talvez até encarar Lynn como  o que ela era, sua sobrinha.

Edward pegou uma maçã na fruteira em cima da mesa de  madeira e foi para a varanda. Na rua transversal à sua havia um grupo de  homens uniformizados se preparando para trocar a propaganda de um outdoor, num  ponto em que ele tinha ampla visão. Ele sentou-se na cadeira de vime e ficou  observando enquanto o grupo retirava um anúncio envelhecido da Gucci. Desde  que deixara Ohio que ele não tinha contato nenhum com o mundo da publicidade.  O sol estava radiante e o tempo era fresco. Resolveu que ficaria ali  assistindo os homens montando a nova propaganda, chegou a discutir consigo  mesmo qual seria o anúncio que substituiria o anterior, talvez Prada, ou  Dolce e Gabana, ou quem sabe fosse um simples anúncio da Coca-cola...

Por uma hora ele ficou observando enquanto os homens  retiravam o pôster antigo. Cansado de assistir à monotonia do trabalho alheio,  ele entrou e foi ler um livro que havia lhe sido recomendado há um mês e que  ele enrolara todo esse tempo para começar a ler. A história era sobre um  pintor que enlouquecia ao se apaixonar por uma condessa e só conseguia pintar  o retrato dela. Depois de cinquenta páginas de pouca ação, Edward se levantou para  olhar os homens trabalhando. Haviam posto somente a primeira metade do novo  anúncio. Era da revista People, e a frase começava com "Ícone da Beleza  Adolescente", no final do que já estava pronto ele podia ver um par de joelhos  e braços nus numa foto em preto e branco. Instantaneamente se desinteressou  pela propaganda. Essas revistas de fofoca eram um lixo e só havia matérias  sobre a vida pessoal dos famosos, desvendando, normalmente, algum podre dos  artistas.

Edward saiu de casa e, vestindo uma bermuda e uma regata,  foi dar uma volta pelas vizinhanças, já estava quase na hora do almoço e ele  estava discutindo consigo mesmo sobre almoçar no Avianti ou no Mc Donald's, duas escolhas diametralmente opostas, mas era como se sentia.  Optou pelo Mc Donald's, por fim, pois não queria ter que esperar até que seu prato ficasse pronto no restaurante chique, tendo que aturar os garçons puxando conversa o tempo todo, e voltou para casa tomando um sundae de morango.  Passando pela rua do outdoor ele viu que os trabalhadores arrumavam as coisas  para ir embora. Edward olhou para cima e sentiu o estômago embrulhar.

O pôster novo estava pronto e ele entrou em choque quando  viu uma enorme foto de Lynn grávida. Suas mãos gelaram e ele começou a suar  imediatamente. Largou o sundae no chão sentindo-se fraco. Não havia dúvidas de  que aquela era a Lynn, e ele reconhecia claramente o toque artístico do  fotógrafo da Viper's. Depois de engolir a seco várias vezes e esperar a  respiração normalizar e o coração voltar a bater compassadamente, Edward  desviou o olhar do cartaz e correu para casa. A primeira coisa que fez ao  chegar foi ligar para Josh Viper.