4. Revelação

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A caminhada foi lenta e cansativa. Edward não olhou para Lynn nem por um momento e a garota não ousou abrir a boca. A casa da fazenda onde Lynn morava era enorme e podia ser vista a distância. Não era apenas uma simples casa de fazenda, era esplêndida e toda em estilo vitoriano, bem ali, no meio daquele monte de natureza. Edward ficou impressionado com a casa  quando chegaram à porta de entrada. Bateu duas vezes e esperou que abrissem.

A velha cozinheira saltou para fora e abraçou Lynn com entusiasmo e preocupação.

- Oh, menina, por onde esteve? Seu pai está uma fera! – exclamou a mulher jogando as mãos para o alto num gesto peculiar – Vamos entrando.

Edward entrou também ao notar que o convite para entrar o abrangia tanto quanto a Lynn quando a velha lançou-lhe um olhar mal encarado.

- Elizabeth! – gritou Hellen abraçando a garota e logo em seguida levando as mãos à boca ao avistar Edward.

- Hellen? – exclamou ele com os olhos saltando das órbitas de tanta surpresa.

- Oh, que bom que você a encontrou, Edward – balbuciou Hellen com lágrimas nos olhos abraçando o irmão.

Edward sentiu aquele desconforto familiar explodindo no peito e pensou que desta feita ele teria mesmo um ataque do coração se permanecesse naquela casa por mais tempo.

- Hellen, eu tenho que ir... – resmungou ele afrouxando o colarinho e soltando-se da irmã.

- Mas... – fez Hellen parando ante a chegada do marido na sala.

- Edward... – disse o cunhado apertando as vistas – Onde encontrou essa destrambelhada?

Edward enfiou as mãos trêmulas nos bolsos da calça e baixou o olhar. A testa estava pingando de suor.

Lynn olhava para os pais e para Edward com espanto, sem entender nada, aliviada ao mesmo tempo por não terem percebido nada do que havia se passado. Queria perguntar o que estava acontecendo, de onde seus pais conheciam Edward, por que tanta familiaridade com ele. Os pensamentos de Lynn foram interrompidos pelo barulho abafado do corpo de Edward caindo no chão.

- Oh, Céus! Me ajude aqui, Allan, Edward desmaiou!

- Vocês vieram a pé, Elizabeth? - perguntou Allan se ajoelhando para erguer o rapaz.

- Si-sim...

- Por isso! Esses moços da cidade mal agüentam uma caminhadinha mais longa.

- Edward foi criado no campo como eu e você, Allan!

- Seu irmão é mais da cidade que do campo, Helen!

"Irmão" - aquela palavra rodopiava pela cabeça de Lynn como um peão... "Edward é meu tio, o irmão da mamãe de quem papai falava mal e que viera roubar as terras do vovô!", gritou Lynn para si mesma em pensamento.

Lynn observava Edward deitado em cima do sofá, inconsciente, com os botões da camisa abertos, sem sapatos. Mal descobrira que o amava tanto e já sabia que aquele amor era impossível em todos os sentidos.

- Lynn, já tomou café? - perguntou Hellen.

- Sim, mamãe.

- Ótimo. Seu pai quer que eu a leve na cidade para comprar as coisas do enxoval.

- Oh, mamãe, essa história de novo? Não quero me casar com Henry!

- Será melhor para todos, Elizabeth. Você não poderá fazer coisas erradas por aí com outro homem!

- Não fizemos nada!!

Allan se aproximou de Lynn e segurou-a apertando seu braço com força. Ele a sacudia enquanto falava:

- Só há uma forma de você se livrar desse casamento! É fazendo o exame de virgindade, Elizabeth!

- Não! Eu não quero! – gritou ela assustada, percebendo que sexo com Edward fora um grande erro. Se ao menos não tivesse sido tão precipitada, poderia fazer o teste e livrar-se do casamento. De um jeito ou de outro Edward não a levaria para a Nova Iorque, tudo havia sido em vão.

- Não quer porque já não é mais virgem! Por isso vai casar! – concluiu Allan.

Lynn estava perdida. Não havia esperança nenhuma para ela, pensou em suicídio.

Allan deu dois tapas, nada suaves, na face de Edward, que abriu os olhos atordoado.

- Acorde, seu frouxo! – exclamou Allan – O doutor já te examinou, fique tranqüilo não é grave.

O pai de Lynn soltou uma gargalhada cáustica e virou-se para Hellen.

- Lynn, traga um jogo de lençóis limpos pro seu tio, ele vai passar a noite aqui – disse Hellen sentando-se à beira da cama de Lynn, onde Edward estava deitado.

Sentindo as pernas bambas ela obedeceu.

- Lynn, quem é? – perguntou Julie puxando-a pela manga da blusa.

- É... nosso tio... – balbuciou ela sentindo o peso das palavras sobre a sua cabeça.

Julie arregalou os olhos, admirada.

- Ele é bonitão!

- Cale a boca, Julie, ele é nosso tio! – exclamou Lynn cerrando os punhos sem perceber.

- Credo, Lynn, você é muito careta...

Lynn fitou a irmã mais nova sair da rouparia saltitante. Sentia a cabeça rodopiar, e sentia-se constrangida pela maneira como reagira ante o elogio da irmã mais nova à Edward. Respirando fundo e pisando firme ela se dirigiu de volta ao seu quarto imaginando se a ideia da mãe era deixar ela e Edward passarem a noite no mesmo quarto. Isso a fez quase rir consigo mesma. Espantando esses pensamentos com uma cara séria, Lynn voltou ao seu quarto, onde Allan e Edward permaneciam em trégua.

Garota Ingênua [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora