Garota Ingênua [COMPLETA]

39. Decisão

Lynn abriu os olhos desejando que os últimos acontecimentos tivessem sido apenas um terrível pesadelo. Lentamente as imagens ao seu redor foram tomando forma e Lynn reconheceu Paul. Ele tinha os olhos marejados de lágrimas e a olhava resignado. Estava sentado em uma poltrona ao lado de sua cama. O coração de Lynn deu uma cambalhota ao vê-lo e ela se odiou com todas as forças. Acima de tudo, Paul era seu amigo, e ela o havia traído descaradamente. Ela jamais se perdoaria, então não poderia esperar que Paul o fizesse.

- Paul... – sussurrou ela, insegura sobre o que deveria dizer. Não tinha certeza se ele sabia da gravidez, mas imaginava que já o haviam informado no hospital.

- Lynn... você está bem? – indagou ele serenamente, inclinando-se para frente no assento.

Lynn assentiu com a cabeça e sentou-se na cama. Não aguentava mais ficar deitada. Assim que levantou, um forte enjoo a fez lembrar-se de sua indesejada gravidez. Paul entregou um saquinho de plástico para que Lynn vomitasse porque não daria tempo de levantar-se e caminhar até o banheiro.

- Oh, céus... Que inferno! - esbravejou Lynn fechando o saquinho rapidamente com cara de repulsa - Paul, me leve embora daqui, por favor!

- Amanhã de manhã você terá alta, Lynn. Você bateu a cabeça quando desmaiou na rua e o médico acha melhor passar a noite aqui em observação – replicou ele baixando o olhar para as próprias mãos enquanto pensava no que iria dizer em seguida e em como iria dizê-lo – O médico me contou que você está grávida... – disse ele finalmente, melhor que fosse objetivo ao invés de ficar enrolando.

As mãos de Lynn ficaram instantaneamente geladas e ela correu a mão direita pelos cabelos nervosamente. Tinha esperanças de que ele não soubesse. Teria sido tão melhor. Ela poderia resolver tudo, sem que ninguém precisasse ficar sabendo de nada, e depois poderia reconstruir o seu casamento com Paul. Prometera a si mesma que não voltaria a se encontrar com Edward. Já sofrera demais se relacionando com ele, e já magoara Paul o suficiente por causa de sua impulsividade. Sua relação com Edward sempre esteve fadada ao insucesso, ela só precisava aceitar o fato. Os dois eram tóxicos um para o outro.

- Paul, sobre essa gravidez... – começou ela, hesitando - Eu vou interromper e nada me fará mudar de ideia. Não quero essa criança! – seus olhos encheram-se de lágrimas enquanto falava, sentia-se uma imunda, inescrupulosa e cruel, e essa criança só serviria como um lembrete de tudo que havia feito à Paul, jamais conseguiria conviver com o símbolo da sua traição - Quero fazer isso depressa, assim que sair daqui. Hoje mesmo, se possível.

- Lynn... Não quero me meter em sua vida, você faz o que achar melhor. Só acho que Edward precisa saber dessa criança e vocês têm que decidir isso juntos – exclamou Paul abanando a cabeça.

A menção à Edward foi como um bloco de gelo descendo por sua garganta até seu estômago. Havia sido tão egoísta e desleal, e Paul sabia de tudo. Ela mesma havia tratado de destruir o próprio casamento. Lynn se sentiu ainda pior e odiou ainda mais a situação em que se colocara. Acima de tudo, odiava a si mesma. A culpa era como um bloco de cimento em seu peito, comprimindo-a e cortando sua respiração. Paul até já começara a se referir a "sua" vida ao invés de "nossa" vida como sempre fora.

- Não! - exclamou entre lágrimas - Edward nunca irá saber. Nunca! Se não haverá criança, por que diabos ele precisa saber? – gritou Lynn começando a ficar histérica. Toda a sua vida estava indo ralo abaixo. E a culpa era inteiramente sua.

- Eu não sei, Lynn. Apenas penso que é o certo – respondeu Paul espalmando as mãos no ar – Não é justo o que está pensando em fazer. Não entendo o que a motivou a sair com Edward, ficar grávida e querer tirar o filho dele. Não entendo o que se passou entre vocês ou por que ainda insiste em odiá-lo. Mas também não quero que me explique. Só estou dando-lhe um conselho, como amigo.