Garota Ingênua [COMPLETA]

46. Dia de tempestade

Lynn percorreu todos os ambientes da gigantesca mansão, enquanto Ceci fora para o pátio brincar com os cachorros que há muito tempo não via. Sentia-se desconfortável por estar sozinha naquela casa, sem Paul ao seu lado, sem sua rotina normal. Alguns repórteres a cercaram na saída do hospital e Lynn prometera dar uma entrevista exclusiva sobre sua gravidez no próximo final de semana. Lynn sentia-se num beco sem saída. Teria que afirmar perante a imprensa que seu casamento já havia terminado quando engravidara, iriam começar especulações da imprensa sobre seu relacionamento atual com Edward. Se sofresse um aborto espontâneo como o médico falara, tudo seria mais fácil...

Da janela, Lynn observava melancólica a filha que corria alegre pelo pátio, cercada de animais tão ou mais felizes do que ela e não pôde deixar de imaginar a mesma cena com um menininho de cabelos castanhos e olhos verdes... Alguma coisa lhe dizia que iria ter um menino, porque sua vó sempre dizia que gravidez de menino causava mais sofrimento.

"Os homens já nos fazem sofrer antes mesmo de nascer", dizia ela.

Na época Lynn não era capaz de entender o significado dessas palavras, porém agora tinha a noção exata de toda a sua veracidade.

Lynn olhou para o céu com preocupação. De repente, o céu havia ficado escuro e um vento muito forte começou a soprar, fazendo seus cabelos e a cortina esvoaçarem com fúria.

O jardineiro colocou os animais para dentro do canil e Ceci também correu para dentro de casa quando sentiu as gotas de chuva molhando sua cabeça.

Em pouco tempo, havia se formado um temporal terrível, com relâmpagos estrondosos e clarões assustadores.

- Mamãe, estou com medo! – exclamou Ceci correndo em sua direção.

- Calma, meu amor... Mamãe protege você – disse Lynn abrindo os braços para a filha.

Desde menina, Lynn tinha medo de tempestade e à medida que os relâmpagos ficavam mais fortes, ela dava um pulo na cama, deixando Ceci mais nervosa ainda.

- Por favor, ligue pro papai vir para cá, mamãe!!! – implorou Ceci encolhida ao lado dela na cama de casal.

Lynn pegou o telefone instintivamente e ligou para Edward. Só se deu conta de que estava associando a paternidade de Ceci a Edward no momento em que ele atendeu o telefone.

- Lynn?

- Edward... Perdoe-me... Está chovendo muito forte! – exclamou Lynn atordoada.

- Sim, eu sei – replicou Edward sem entender onde ela queria chegar.

- Estamos sem energia elétrica! – tornou a exclamar ela com a voz rouca.

- Sim, eu sei. Também estou – volveu ele mansamente – Deve ter caído algum poste de luz na rua...

- Ceci está morrendo de medo! – declarou Lynn solenemente, imaginando por quanto tempo aquela conversa besta se alongaria.

- Deixe-me falar com ela.

Lynn passou o telefone para a filha e abraçou as pernas na cama, sentindo um pouco de ciúme.

- Paizinho! Eu estou com medo! Venha para cá, por favor! – soou a voz lamurienta de Ceci que tinha lágrimas nos olhos.

- Querida... Não precisa ter medo da chuva, ela é boa para a natureza, eu já lhe expli...

Edward foi interrompido pelo grito angustiado das duas do outro lado da linha quando um relâmpago ensurdecedor acompanhado de um clarão inundou o ambiente. Ele ficou preocupado com a gravidez e pediu para Ceci passar o telefone de volta para a mãe.

- Sim? - disse ela com uma voz chorosa.

- Lynn... Você quer que eu vá para sua casa? Posso ir ou tem algum problema?

- Não por mim... Mas pelo bebê... Eu ficaria mais tranquila se você viesse para acalmar a Ceci... – disse ela hesitante enquanto olhava a tempestade enfurecida através do vidro da janela.

- Sim... Eu estou indo só por causa do bebê e de Ceci. Que outro motivo poderia ter? – resmungou ele possesso com os comentários sem propósito de Lynn.

- Nenhum! – exclamou ela rapidamente, sentindo-se estupidamente tola e infantil.

- Certo, em pouco tempo estarei aí.

Mais uma trovoada ressoou e Ceci e Lynn se abraçaram, encolhidas na cama, tremendo de medo. Lynn sentia-se tola, mas aquela era uma fobia que sempre tivera, e sua montanha russa emocional apenas servia para agravar todas as suas emoções descontroladas devido aos hormônios da gravidez.