Capítulo 1 - Estopim

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A vida com certeza é uma mulher com fome, sono e de Tpm, cruel, só isso explica a merda em que me encontro hoje, o que vou fazer daqui pra frente está me tirando o sono e me deixando muito, mas muito stressada.

Continuo a fitar o teto do meu pequeno quarto, já estou aqui a quase três, quatro, cinco horas, não sei dizer, pensando e pensando e quanto mais penso mais fico longe de uma conclusão.

MANO, Puta que pariu...

Tudo tinha que ser tão complicado? Invejo muito aquelas garotas de vida fácil, família normal, romances normais, vida profissional normal, onde o ciclo da vida flui naturalmente, nossa, que inveja.

O quarto pequeno onde estou e chamo de "meu", fica na casa dos meus pais, eles discordam, nada aqui é meu, minha mãe sempre diz.

Meu pai é um bêbado que passa o dia fora, porém consegue trazer uma certa quantia no final do mês, minhas mãe tem uma pequena venda de produtos femininos na área de casa, quase não dava lucro, já que ela espantava as clientes por ciúmes e pegava umas coisas para si, e tem meu irmão, o príncipe da casa, o casula, ele tinha tudo do bom e do melhor, minha mãe sempre dizia que pra mim ter alguma coisa aqui teria que comprar, já meu irmão, tinha tudo sem muito esforço.

A situação nessa casa sempre foi meio fodida, mas de uns meses pra cá tá tudo desmoronando, se eu sair por aquela porta terá uma discussão, não consigo mais ter uma conversa com ninguém aqui, não consigo mais conversar com minha própria família.

Minha mãe me acusa de me insinuar para o seu marido, vulgo meu pai, é a situação mais inacreditável de toda a minha existência, ter que discutir isso com ela e tentar colocar na sua cabeça o quanto isso é escroto sempre me faz querer vomitar e sair correndo daqui, pra nunca mais voltar.

Isso justifica minhas roupas largas e compridas, não posso usar um short na minha própria casa.

Meu pai fica de fora, não sei nem se ele sabe que esse debate existe, ele só fala comigo pra perguntar se arranjei um emprego ou não.

E quando finalmente arranjo, a vaca da gerente me explora até o último segundo, trabalhei mais de doze horas naquela sorveteria pra receber uma miséria, chegava em casa de madrugada morrendo de medo de ser assaltada, teve um dia que não deu mais, explodi feito uma panela de pressão, fazendo um belo estrago, no final das contas fui posta pra fora e ameaçada de perder todos os meus direitos.

Não aconteceu, ainda bem, pelo menos uma coisa boa em meio a tanta merda.

Agora estou desempregada, sendo acusada de uma escrotisse sem tamanho, sem dinheiro, com contas pra pagar, sendo cobrada pelo meu pai, ouvindo piadinhas do meu irmão e para a cereja do bolo, meu "namorado" some, sim, simples assim...

Sumiu.

César e eu nos conhecemos em um aplicativo de "relacionamento", quando no fim das contas só queríamos transar mesmo, ele era bom de cama, então ficamos nesse lance por umas três semanas até que ele começou a fazer promessas, no começo não acreditei mas com o passar do tempo fui caindo feito um patinho, nos rotulamos de namorados a uma semana atrás e nesse momento não faço a mínima ideia de onde meu namorado se meteu.

Já mandei mil mensagens, liguei, perguntei aos amigos se sabiam dele e nada, nenhuma resposta, resolvo esperar, nesses vinte e quatro anos de vida aprendi que não se corre atrás de quem não quer falar com você. Se esse babaca queria me dar um toco, problema dele, que se foda.

Já tenho muita coisa pra me preocupar.

Preciso de um emprego pra alugar um cantinho pra mim e sair desse lugar, começar a tomar um rumo na vida.

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