Capítulo 11 - Fuga

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Entro no quarto e solto a respiração, deixo o cacho de uva e a água em cima da cama, rapidamente pego meu celular e abro no grupo das meninas.

Sei que vou contra tudo que acredito, fugir nunca foi do meu feitio, mas o lance aqui é mais complicado do que parece.

Eu : Meninas, reunião urgente.

Emma : O que houve?

Melinda : Sou toda ouvidos.

Katrina : Diga.

Eu : Preciso sair daqui, esta ficando perigoso demais.

Emma : Perigoso vocês morrerem de transar?

Eu : Não, perigoso eu sair quebrada, já sei como é, e não to com saudades.

Katrina : Do que precisa?

Melinda : Pode vim aqui pra casa.

Eu: Exatamente disso, de um lugar pra ficar, só enquanto arranjo um emprego, vai ser rápido.

Melinda : Ei, não precisa de pressa. Cuida, você vem hoje?

Katrina : É triste deixar um cara desses pra trás, mas entre você e ele, você sempre né.

Eu : Exato Ka. Não Mê , vou só amanhã, vai ficar muito óbvio pra ele que estou fugindo e não quero criar cena.

Melinda : Certo, já vou preparar o quarto pra você ficar.

Emma : Amiga vai da certo, terça você tem uma entrevista, quem sabe mês que vem já estamos alugando nossa casa.

Eu : Deus queira.

Termino de combinar com Melinda a minha saída amanhã, tenho seu endereço e a garota insistiu em pagar um Uber, se eu não aceitasse era arriscado dar briga.

Começo a comer minha pequena janta, escutando o silencio da casa, ele deve ter saído. Tento fazer de tudo pra passar tempo, porque estou completamente sem sono. Jogo, leio e converso no celular, mas quando confiro as horas, ainda são onze da noite e sigo sem sono.

Abro a notificação da menagem que acaba de chegar, e olha só, quem é vivo sempre aparece.

Cesar : Oi amor, como você ta ?

Oi amor?

Solto uma gargalhada sem som, que cara ridículo.

Eu : Morta.

Bloqueio seu contato logo em seguida, sem esperar suas longas desculpas, paciência zero.

Segundos depois um novo SMS chega.

Cesar : Porque me bloqueou? tenho motivos pra ter sumido, me escuta.

Um sumiço de quase dois meses no minimo ele teria que está em coma em algum hospital, o que tenho certeza que não rolou, ser feita de idiota não me cabia mais.

Eu : Cara, vai se foder e me esquece.

Bloqueio suas mensagens e ligações em geral e apago seu numero. Para casa do caralho, por favor.

Arrumo minha mala e deixo a roupa que vou sair em cima do raque, dou uma ajeitada na pequena bagunça que deixei no quarto, finalmente me deito pra dormir, sem o menor sucesso.

Viro de um lado para o outro, não acho nenhuma posição confortável, uma hora desisto de dormir , pego meu celular e vejo coisas aleatórias na internet.

Quando dou por mim já são quase três da manhã e minha bexiga está estourando, saio do quarto devagar sem fazer barulho, tento a todo custo não esbarrar em nada, mas fica difícil com o breu a minha frente.

Chego na porta do banheiro e tento abri-la sem fazer barulho, mas a cada investida ela estrala, maldita porta de PVC, xingo a desgraçada de todos os palavrões possíveis.

Respiro aliviada quando finalmente sento no sanitário, termino o que tenho de fazer no banheiro e encaro novamente o breu, ando devagar com os braços elevados procurando antecipar qualquer esbarrão.

Mas isso é inútil quando bato com força meu dedinho mindinho do pé em alguma quina da casa.

_Puta que pariu.
Levanto meu pé e pressiono o dedo tetando amenizar a dor. _Ai, ai, ai.

_Podia ter ligado a luz.
Logo em seguida a TV da sala é ligada e mostra Ravi esparramado no sofá.

_Desculpa, não quis te acordar.
Falo chorosa ainda sentindo o dedinho.

Porra, isso doeu.

_Eu não estava dormindo, não quis estragar sua tentativa de passar despercebida.

Ravi está com um dos braços de trás da cabeça e outro descansando em seu peito com o controle remoto na mãe, ele também usava apenas de cueca box preta.

Que visão meus amigos, que visão.

_Pois é, não deu muito certo.
Digo ainda massageando o dedo.

_Vem cá, deixa eu ver.
Ele sai da pose que estava e se senta.

_Não foi nada de mais, até já passou.
Minto, o dedo ainda latejava.

_Hadassa, vem aqui.
Ele insiste me encarando. Bufo e vou batendo o pé, que não foi atropelado, parecendo uma criança birrenta. Sento ao seu lado.

Ele toca a panturrilha da perna atingida com delicadeza e coloca minha perna em cima das suas coxas.p

_Onde foi?
Pergunta se referindo ao pé e começa uma leve massagem.

_É sério, não foi nada.
Insisto. Nossa, que delícia.

_Hadassa.

_No mindinho.
Respondo um pouco contrariada, só que amando a massagem.

Ele continua a massagem silenciosamente, me olhava enquanto tocava o dedinho intercalando a pressão. Até que estou tão distraída pela visão, as sensações que suas mãos me davam que não consego parar seu movimento a seguir, ele puxa o dedo de uma vez, o fazendo estralar.

Que dor.

_Puta merda Ravi, ai, isso doeu.
Puxo meu pé e toco o pobre dedo.

_Você sabe que se não fizesse isso tinha perigo de inchar e doer mais.
Sua voz é calma.

_Tem razão, mas não deixa de doer mesmo assim.
Digo emburrada, odeio admitir mas a dor vai aliviando.

_Deixa de ser chorona.

Mostro a língua rapidamente pra ele enquanto faço uma careta fingindo irritação.

Instantes depois o déjà-vu invade meus pensamentos, éramos assim anos atrás, ele sempre cuidava de mim, percebia detalhes em mim que as pessoas deixavam passar, me repreendia sem pensar duas vezes quando estava prestas a fazer alguma coisa que poderia me ferrar de alguma forma.

Éramos extremamente sinceros um com o outro, até metermos sexo no meio.

Sem perceber estou encarando, limpo a garganta e levanto.

_Vou indo, preciso acordar daqui a pouco.
Digo apontando o quarto atrás de mim.

Ele assente e não diz nada.

Volto para o quarto e deito na cama, dessa vez sem esperança de dormir, penso em tudo que está acontecendo e vejo que ir embora amanhã vai ser o melhor a se fazer. Não dá pra viver prendendo o fôlego assim.

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