Capítulo 42 - Coquetel?

126 27 0
                                    

Olho o resultado do look completo no espelho na parede do meu quarto, o vestido preto ostentava uma saia preta de tule que batia bem acima do meu joelho, a junção com a tiara de renda preta me dava uma ar de princesa má, meu cabelo sustentava um volume lindo. Meu primeiro look é o meu favorito. (look 3 ⬆️)

Respiro fundo tentando controlar o nervosismo, o grande dia chegou, a inauguração do ateliê, tudo corria perfeitamente, Emma se arrumava no outro cômodo da casa e as meninas com quem conversamos ontem prometeram chegar na hora.

Sorrio para o meu reflexo e emito um "conseguimos" sem som, os últimos meses foram puxados, nunca trabalhei tanto, nunca me senti tão exausta e nem tão feliz e satisfeita, o fato de estar investindo finalmente em algo para mim me dava forças para não parar, a não ouvir meus pés latejando ou o ardor em minhas costas, ou a vontade de aproveitar um final de semana fazendo vários nadas e sim continuar fazendo horas extras. Me olhando agora nesses espelho não tenho dúvidas de que tudo valeu a pena.

Meus pensamentos voam até a Ravi, não, não fui atrás dele e já fazia um semana que conversamos pela última vez, nesses sete dias tive vontade de ir mas algo me impedia, sei que ele tem razão, ele não mentiu só omitiu a verdade para buscar a maldita gravação. Talvez seja a lembrança do que vi que fazia minha mente entrar em colapso. Preferi não pensar muito, é mais fácil assim.

Saio dos meus pensamentos e vou até meu celular que chama a minha atenção quando começa a tocar, atendo sem olhar o visor, com certeza é alguma das meninas.

_Pode dizer.
O arfar forte indicava uma certa angústia na pessoa do outro lado da linha me fazendo saber que não é nenhuma das meninas. Sem nem ouvir uma palavra e ao sentir o gelo se alastra na minha espinha, sei que vem coisa pesada por aí.

_Hadassa, é o Theo.
Sua voz embargada me deixa mais preucupada. _Ravi sofreu um acidente e tá na UTI.

Meu corpo paralisa, não consigo responder, uma dor quase física que se inicia no peito se espalha por todo meu corpo, só me dou conta que estou chorando quando as lágrimas me impedem de enxergar.

_O que?
Não sei se meu fio de voz foi ouvido.

_Voce pode vim não pode?
Ah certa urgência em sua voz. _Preciso resolver outros assuntos.

_Em que hospital ele está.

Ele me passa o endereço e antes de desligar se desculpa, Emma entra no meu quarto com uma cara triste e um pouco chocada, ela sabe.

_Liam me ligou, ele tá desesperado e me pediu para ir com você.
Minha amiga disca algo no celular e o coloca no ouvido.

_Dandara, a Katrina não atende, liguei pra avisar que eu e Hadassa vamos atrasar um pouco, o assunto é urgente, quando puder te ligo.
Ela desliga após a conversa rápida.

Não falamos muito, Emma se encarrega de chamar o carro, não consigo raciocinar, nem eu sei a dimensão dos meus sentimentos mas são suficientes para me deixar em choque.

Ravi corre risco de vida e não sei o que pensar sobre isso, só sei que acima de qualquer coisa preciso vê-lo.

***

Já nos corredores de um grande hospital particular, que me tranquiliza um pouco saber que ele está tendo um bom tratamento,  tentamos encontrar a área das UTI's, Liam nos espera lá.

Quando finalmente o vimos sei que é mais sério do pensei, nunca vi Liam tão triste e preucupado, Emma o abraça e noto seus olhos vermelhos e inchados indicando que chorou, a situação é grave.

Preciso vê-lo.

Me aproximo de Liam que assim que me vê me abraça.

_O que aconteceu?
Pergunto baixo perto de seu ouvido. Meu amigo aperta mais ainda minha cintura, faço o mesmo com ele.

_Ele perdeu o controle da moto, eu e Théo estávamos logo atrás.
Nos desvencilhamos e ele me encara.
_Não faço ideia do que aconteceu, Ravi é a pessoa mais improvável de perder o controle de uma moto.

Isso é um fato, Ravi tem experiência e conhecimento suficiente para nunca perder o controle de uma moto, alguma coisa me diz que tem coisa por trás disso, isso aumenta minha urgência em vê-lo.

_Preciso ver ele.
Olho ao redor procurando com quem falar.

_Não é assim princesa, tem horários e o estado dele não é dos bons.

Como assim o estado dele não é bom? Ele poderia morrer? A dor dessa ideia me faz recuar, olho ao redor e vejo uma porta e nela está escrito UTI, não penso muito quando ando até ela, preciso vê-lo, a urgência de um tempo que pode ser curto me faz vê o quão insignificante foi as razão que me manteram longe dele, porque a dor que podia me paralisar se não fosse meu objetivo, dizia com todas as letras que a última coisa que quero é Ravi longe e agora ele pode ir para sempre.

Ignoro quando Emma e Liam me chamam, só entro na área aparentemente restrita, abro a outra porta e vejo os vários leitos, ando lentamente procurando por ele, o seu é o último, as cortinas que separavam os leitos impedia que eu fosse vista.

Me permito chorar quando o vejo imóvel, cheio de aparelhos ligados a ele, seu rosto está machucado, seus braços também, a perna esquerda engessada, a realidade cai pesada sobre mim fazendo minhas pernas cederem, me seguro em uma mesinha com alguns instrumentos fazendo barulho.

Engulo meus soluços de choro, respiro fundo tentando me acalmar, ele não ia morrer, Ravi não podia morrer.

_Você não pode estar aqui, não é horário de visitas e esse lugar é restrito.
Uma mulher fala quando nota minha presença.

_Desculpa, precisava vê-lo.
Ele me olha solidária.

_Certo, mas tem que sair agora.
Sua voz é gentil. Concordo com ela, mas antes de me segui-la para longe dele, me aproximo da cama, me inclino e deposito um selinho leve em seus lábios.

Te proíbo de morrer.

Penso quando o encaro uma última vez. Olho para a mulher e a deixo me levar.

Quando volto para onde estão Emma e Liam, sento em uma das poltronas ali, abaixo minha cabeça e choro, descarrego tudo e não me importo de estar sendo ouvida ou olhada com pena. Sou abraçada por Emma, que diz em voz baixa que vai dá tudo certo.

***

Não sei quanto tempo passa, Liam me trás um chá e tomo devagar, tanta coisa se passa na minha cabeça que não sei no que focar, como ele perde o controle assim? Como é possível?

Peço aos céus que ele saia dessa, nem posso pensar se o pior acontecer.

_Onde está meu filho?
Saio dos meus pensamentos quando ouço a voz de dona Adelaide, mãe de Ravi.

_Ele está na UTI Dona Adelaide, a enfermeira disse que o médico vem daqui a pouco nos dizer como ele está.
Liam explica calmamente.

_Quero ver meu filho.
Sua voz é desesperada, chorosa.

_A senhora poderá vê-lo quando autorizarem, nada pode ser feito lá dentro.
Liam tenta acalma-la.

Mais lágrimas caem quando vejo o seu desespero, Ravi sempre foi um ótimo filho é mesmo se não fosse, não imagino sua dor com a possibilidade de perder o filho.

_Ele vai sair dessa Dona Adelaide.
Ela olha para mim e não leva muito tempo para me reconhecer.

_Oh, minha querida, vocês voltaram a se falar?
Pergunta em meio a tudo que está acontecendo, em sua voz havia esperança.

_Sim, já faz uns meses.
Digo e ele me lança um sorrisinho fraco.

_Fico feliz, meu filho sempre foi louco por você.
Sua afirmação faz a dorzinha dentro de mim passar um pouco.

Ele precisa voltar pra mim. Porque também sou louca por ele.

ELAS (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora