ELAS (Completo)

Capítulo 35 - Foda-se

Desço do ônibus perto do meu prédio, o expediente acabou e fui chamada na sala do chefe, reclamação por mau atendimento, vê se eu mereço um capeta daqueles na minha vida, praga ruim.

Que ódio.

Já no meu andar vejo de longe Ravi encostado na parede ao lado da minha porta.

Mais puta que pariu eim?
Quem mais vida?
O próprio Lúcifer?

Dou uma revirada de olhos violenta e ando até minha porta, minha paciência diária se esgotou, ele escolheu um péssimo momento.

Já na porta, a centímetros dele, enfio a chave na fechadura.

_Você precisa me ouvir.
Na mesma posição, com as mãos no bolso, ele gira em minha direção.

_Vai sonhando.
Abro a porta e entro, quando vou fechar na sua cara, seu pé impede o ato.

_Me escuta.
Ele fala pela brecha da porta, enquanto coloco toda minha força sobre ela para que ele não consiga abrir.

_Vai embora, já não basta sua namorada indo no meu trabalho pra me prejudicar?

_A Lorena fez algo contra você?

Suas palavras fazem a dor idiota voltar, mas a raiva a espanta para longe.

_É seu babaca, imbecil, a mimada da sua namorada, agora sai da minha porta, me deixa em paz.
Grito sem me importar por ser madrugada.

_Ela não é minha namorada.
Corrige tarde demais.

_Que se foda, quero que vocês dois se explodam e depois queimem seus restos até virarem cinzas para depois o vento levar para o quinto dos infernos.
Desabafo com raiva.

_Uau.
Sua resposta contém um pouco de diversão, me irritando mais.

_Deve ser engraçado mesmo fazer os outro de idiota, também tirei sarro de mim mesma por acreditar que você não era o babaca que parecia ser.
Cuspo irritada.

_Desculpa por te fazer pensar que você não é importante, eu não tive nenhuma intenção...

_Transou com ela?
Pergunto interrompendo suas explicações.

Sei que a resposta será desastrosa, em nenhum momento ele negou, só quer explicar o que realmente aconteceu e parece que não vou gostar nada de ouvir.

_Hadassa...
Ele começa novamente, com aquele mesmo tom apaziguador.

_Transou com ela?
Pergunto mais alto, deixando claro que não quero ouvir mais nada.

_Sim, mas...

_Sai da minha porta.

Ouvir sua confissão me tira qualquer vontade de ouvi-lo, ele mentiu, me fez de idiota, se tornou um babaca de marca maior e sei que me deixei levar porque no fundo pensei que ele ainda fosse aquele garoto, gentil e atenciosa, o garoto que fazia tudo por mim. Outra lição aprendida, me dê nota dez dessa vez vida.

Seu pé sai da brecha da porta, a tranco e vou direto para o quarto, a raiva me faz querer quebrar tudo, mas penso o quão caro foi para deixar o quarto exatamente da forma como eu queria. Droga. Que raiva.

(...)

_O mesmo cara?
Pergunto a Dandara que balança levemente seu corpo no ritmo da música. Ela troca olhares com o mesmo cara da outra noite.

Estamos em umas das muitas boates do pai de Katrina, as meninas como sempre já estava espalhadas, aproveitando a noite como podem. Só que antes de me largar por aí e achar meu objetivo quero deixar Dandara encaminha para o dela.

_Sabe o que ele disse no outro dia?
Me pergunta sem desviar os olhos dele.

_O que?
O cara encostado em uma das paredes da boate, toma sua bebida tranquilamente enquanto brinca de jogo de olhares com a mulher ao meu lado.

_Que ele faria tudo que eu quisesse.
Uí, interessante. _mas eu teria que pedir.
Dandara completa.

Olho dele para ela, o cara parecia ter sacado sua insegurança, está fazendo um jogo sensual, com certeza querendo vê até onde a coragem da minha amiga vai. Gostei dele.

_E o que você pediu?
Ela finalmente tira os olhos dele e os fixa em mim.

_Nada, não consegui pedir nada.
Ela sai do campo de visão do cara e se senta em um dos bancos do mini bar. _Quer dizer, o que eu poderia pedir, não faço idéia.

Tenho vontade de rir da sua ingenuidade porém me controlo, Dandara sempre expôs o que pensa e não vou rir por ela confiar em mim.

_Tenho várias coisas em mente e olha que nem pensei mais a fundo.
Digo me aproximando dela. _Deixa eu te contar uma coisa sobre os homens.
Me sento ao seu lado. _Os que pouco falam, muito fazem e isso é raro garota, então ouça seu corpo, seus desejos e simplesmente diga em voz alta.
Dou de ombros, mostrando o quanto é simples.

Ela pensa um pouco e segundos depois a vergonha toma seus rosto, vejo um leve tom rosado em sua pele negra tamanha a sacanagem que ela deve ter pensado, ah eu sabia, abro um sorriso malicioso.

_Não tenho sua ousadia amiga e seu eu chegar lá, falar e ele rir da minha cara.
Ela faz uma careta assustada.

Taco minha mão na testa em sinal de frustração.

_Confia em mim quando digo que não vai acontecer.
Falo o mais sério possível para que ela acredite. _se quiser vou lá falar com ele, sondar a situação, se te fizer sentir melhor.
Ofereço.

_Vai da em cima dele?
Sua pergunta é receosa.

_Não, não tô afim de levar fora hoje.
Dou um piscadela e saio da pequena área vip.

Ando tranquilamente até o cara, ele continua focado aonde estava olhando, apesar de não estar vendo Dandara.

_Oi.
Paro na sua frente e vejo que é mais alto do que parece.

_Oi.
Ele me olha de relance depois volta seu olhar para onde estava.

Ele realmente não queria saber de outra coisa.

_Se ela não vier você vai fazer algo, certo?
Pergunto me colocando ao lado dele. Sei que ele sabe que me refiro a ela, já que me viu ao seu lado.

_Vou fazer qualquer coisa para tê-la, mas prefiro que ela perca a timidez, sou paciente.
O cara toma seu whisky tranquilamente com a paciência de um monje.

_Não a machuque, vai ser difícil arrastar seu cadáver.
Meu tom de aviso faz claro a ameaça, saio sem esperar resposta.

Sei que ele invocará o melhor em Dandara, mas sei o quanto é doloroso ter o céu, pra depois ser lançada no inferno.

Volto para Dandara que está terminando de virar um shot de tequila.

_Um conselho de amiga, não se negue isso.

Não falo mais nada, vejo ela respirar fundo várias vezes tomando coragem. Até que ela levanta, anda até a saída da área vip, vira e me olha da porta.

_Se não me encontrarem, não se preocupem em ir sem mim.
Diz timidamente.

_Sim Senhora.
Sorrio abertamente, orgulhosa de sua decisão.