6. Um pulo para o passado

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Jimin.

Meu corpo tremia e eu não conseguia ver mais nada além das fotos do meu rosto, que agora estavam borradas pelas lágrimas que eu deixei cair antes mesmo de perceber.

As imagens de anos atrás, voltaram com clareza na minha mente. Pequenos lapsos de memória brilhavam. Meu primeiro beijo, o modo como ele me fez amá-lo e como depois me manipulou a ponto de me fazer acreditar que eu, um omega, tinha que o obedecer sempre e que esse era meu trabalho, meu motivo pra viver. E eu cedi, eu acreditei.

Até aquele dia...

Jungkook se abaixou na minha frente, tomando a visão que eu tinha de um eu distante. Senti suas mãos acariciarem meu rosto. Ele não perguntou nada, só continuou com o carinho, e me ajudou a levantar.

ーVamos embora ー Ele disse. Assenti e limpei o rosto. Minha cabeça estava uma bagunça, e aposto que a dele também.

Andamos um do lado do outro e eu olhava para tudo, como se cada detalhe pudesse me livrar da ideia de que ele viria atrás de mim. Que ele faria comigo o que eu já não suportaria mais.

Vi um canteiro de rosas bem pequenas, crescendo junto ao meio fio. O quanto ela deve ter sido forte, para florescer depois de quebrar o concreto, duro e inflexível? Jeon andava na minha frente, e enquanto eu olhava a flor, ele a esmagou, sem nem ao menos se dar conta de sua presença. Eu engoli em seco.

ーSerá que vamos sempre lutar, até sermos esmagados? ーA frase foi dita em um sussurro, não imaginei que ele ouviria.

ー As plantas mais fortes, sempre voltam a crescer ーEu o fitei, surpreso. Ele entrou no carro e eu o segui.

Enquanto o automóvel foi se distanciando, a fachada do prédio abandonado foi ficando para trás, e eu rezava para que nunca tivesse que voltar ali.

ーPode me deixar na minha antiga casa? ーPedi. Jungkook me olhou, surpreso.

ーTem certeza? ーEle insistiu e eu assenti. Precisava ver minha mãe ー Tudo bem.

O caminho foi silencioso, e por mais que minha mente estivesse gritando várias coisas sem sentido, me mantive distante. Não ia deixar isso me consumir como da última vez. Prometi não deixar o medo comandar minha vida.

As ruas do meu bairro foram se aproximando, enquanto a noite fria vinha junto. Pensei que tinha chance da minha mãe ter saído de novo. Mas não me importava, precisava de casa. Do lugar onde foi meu refúgio por anos. Ao estacionar no meu prédio antigo, olhei para Jungkook, uma última vez.

ーObrigada e desculpa ter atrapalhado ーEle sorriu, e foi tão meigo. Não era um sorriso de alegria, ou de deboche. Era como se ele quisesse dizer "Tudo vai ficar bem, Jimin".

ーQuero que esteja no escritório amanhã bem cedo, vou avisar ao Wang para vir te pegar. Precisamos conversar, você sabe...ー Ele se interrompeu e eu assenti.

ーEu sei. Não se preocupe, eu só preciso de um tempo. Até amanhã ー Desci do carro e entrei, vendo alguns vizinhos me olharem espantados. Geralmente eu cumprimento um por um, mas hoje, eu nem os via direito.

Peguei a chave reserva, embaixo do tapete de entrada. Quando fui girar a chave, percebi que a porta estava já destrancada. Uma tensão tomou conta de mim. Girei a maçaneta devagar.

Minha mãe estava sentada no sofá, bebia um café recém feito e assistia alguma coisa na tv. Respirei aliviado. Mas meu alívio durou pouco, logo ao vê-la, me senti como uma criança que morre de medo do bicho papão.

ー Mãe! ー Minhas lágrimas voltaram. Ela me olhou surpresa e quando notou meu estado, se levantou, esticando os braços. Corri ao seu encontro e a abracei. Ficamos alguns momentos assim, o cheiro dela ainda é o mesmo desde que eu nasci, era tão reconfortante. Ela pode ser muitas coisas, mas ainda era minha mãe.

.ESCAPE. (jikook, ABO) .Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora