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04 de dezembro de 2042, quinta-feira.

     As pessoas acham que a vida de um adolescente de classe alta não pode ser ruim, mas posso te provar que pode. Sou filho de um ator famoso aposentado e de uma ex empresária. A mídia acha que minha família é perfeita, já que a única coisa que eles veem é apenas uma máscara que minha mãe sustenta. Ela foi quem ''descobriu'' meu pai, em uma peça de teatro em 2019. Logo meu pai começou a fazer pequenas atuações em seriados de TV, pouco tempo depois ele estava atuando no remake de uma série famosa como um dos personagens principais. Não demorou para que minha mãe tivesse meus irmãos, Alexandre e Talita, os famosos gêmeos da família Salvatore, os ''mais educados, inteligentes e respeitados do país''. O nascimento dos gêmeos causa alvoroço até hoje, o meu nascimento a mídia fingiu que se importava, postando notícias do tipo ''Nasce a mais nova estrela dos cinemas!'', ''A chegada do terceiro filho do casal mais querido do Brasil'' e por aí vai.

Estou sentado na primeira fileira de cadeiras, fingindo que estou prestando atenção na aula de Geografia. Estou no terceiro ano do ensino médio. A Rosângela, professora, parou por um instante sua aula para dar bronca em algumas meninas que estavam no fundo da sala que conversavam um pouco alto demais sobre maquiagens. Feito isso a aula seguiu normalmente.

Toca o sinal para o intervalo, não iria conseguir ficar mais 5 minutos escutando a Rosângela falando como foi o término do seu terceiro casamento para as meninas, eu sabia que elas só faziam esse tipo de pergunta para a professora se empolgar com o assunto e esquecer de dar a aula. Depois ficam se perguntando do porquê tirou uma nota tão baixa na prova.

   Atrás das arquibancadas na área de natação sentado ao chão é onde você me encontraria caso por algum motivo fosse me procurar na hora do intervalo. Sempre fico os 30 minutos de sossego aqui, arrancando a grama que crescia lentamente, chutando pequenas pedras ou até desenhando pentagramas no meio da quadra de areia. A próxima aula é de Inglês, a única qual eu realmente prestava atenção de verdade.

Chego na porta da sala com 2 minutos de atraso, acabei me empolgando com o pentagrama que desenhei desta vez.

Estava realmente muito bonito. Pensei.

Antes que você pense que eu sou satanista ou algo do gênero, não, eu não sou. Só gosto de observar a reação de pânico ou a de ''Deus me livre'' que as pessoas fazem ao ver um pentagrama gigante de perto. Observo que tem um garoto sentado na cadeira onde eu sempre sento, de braços cruzados. Não sei o nome dele, não me interessava. Por algum motivo ele olhava diretamente nos meus olhos, com a sombrancelha direita levemente arqueada. Dei de ombros. Antes que eu começasse a me dirigir para outra cadeira o professor sussurrou perto de mim.

— Jean, troquei as posições dos alunos hoje, quem sentava atrás vai sentar na frente e vice-versa. Preciso controlar a galera do fundão hoje.

Como resposta, acenei a cabeça afirmando e me encaminhei para a penultima cadeira da terceira fileira ao lado do Luiz, um garoto de pele escura que eu trocava cumprimentos pelo corredor. Estava usando fones de ouvidos e rabiscando algo na capa branca de seu caderno enquanto mudava a música no seu celular com a mão esquerda.

     A hora se passou. Não entendia o porquê das aulas boas passarem voando, aula de história, geografia e português isso não acontece. Os alunos guardavam seus materiais e saiam da sala, eu fazia a mesma coisa, mas sem pressa alguma. Enquanto arrumava a bolsa para colocar nas costas, consegui ver um pequeno amontoado de gente no estacionamento da escola pela janela, não fiquei olhando por muito tempo por talvez já imaginar o que estava acontecendo. Essa escola só tinha filho de gente famosa ou importante demais. Provavelmente algum pai ou mãe de um dos alunos veio busca-lo.

Peguei meu guarda-chuva no armário, ainda estava molhado pela chuva de mais cedo. Caminhei para o estacionamento para pegar a moto que estava estacionada perto da parede, longe das demais. Não subo de imediato, espero chegar na saída para montar, quando estou quase partindo escuto um grito:

— Jean!

Olho para trás, saindo da multidão, está o meu irmão, Alexandre. Seus cabelos negros estavam bagunçados, ele usava uma jaqueta jeans, uma blusa branca sem estampa, uma calça também jeans e algum tênis bem chamativo de marca. A multidão continuou o seguindo, até que o ele disse:

— Gente,  já tirei foto com todos vocês, agora peço licença para conversar com meu irmãozinho aqui. – apontou para mim – Então se me permitem, nos deixem a sós por favor.
Dito e feito, ao terminar de falar todas as pessoas foram se locomovendo para seus respectivos carros, motos e
bicicletas.

— O que você faz na minha escola? – pergunto, retirando o capacete e retirando meu cabelo da frente dos olhos.

— Elas tem que parar com essa mania de me puxar pela roupa, se continuar assim eu vou acabar saindo nú. – diz o filho do meio, pegando seu espelho do bolso da jaqueta e tentando arrumar o estrago que as pessoas tinham feito na sua roupa. – Calma aí, maninho. Se você não se lembra eu também estudei aqui. – guardou seu espelho no mesmo lugar de onde retirou e me deu um abraço de lado, o qual eu não retribuí.

— Sim, lembro. Também lembro que foi aqui onde você começou a se drogar. – dei as costas para Alexandre e coloquei a mochila em uma posição mais confortável.

— Fala mais alto, as pessoas precisam saber disso.

— Não quero arruinar a reputação da nossa família só pelas merdas que você faz.

— Então cale a boca. Eu vim aqui na maior paz, te buscar para levar pra casa e você me recebe assim.

— O que você quer? Você só volta aqui quando tem interesse em algo.

— Ah que isso, eu vim te acompanhar até em casa, mas também não vou negar que vim aqui com outros interesses. - riu. - Eu estava com uma garota da sua turma, ali atrás.

— Óbvio que estava – revirei os olhos – quem é a coitada dessa vez?

— Lívia – meu irmão sorriu

— A filha da atriz da novela das nove?

— Ela mesmo.

— Não estou surpreso.

— Eu estava com ela faz um tempo ali atrás – apontou para a sala de dispensa,  se gabando.

— Mais uma figurinha para seu álbum, meus parabéns. – eu disse, colocando o capacete de volta e dando partida.

Alexandre riu. Colocou seu capacete no braço e deu partida atrás de mim.




Admiro quem consegue fazer xixi assim que se posiciona na frente do vaso, porque eu já desperdicei um minuto apenas me concentrando aqui dentro do banheiro. Isso fez eu me lembrar na época que eu tive um problema de saúde, tive que tomar um remédio que deixou meu xixi verde neon durante dias.

Deitei na cama com esperança do sono da tarde aparecer, mas com esse calor insuportável não dá para tirar um cochilo sem acordar grudando de suor. Esse é o momento em que eu arrependo de ter escolhido o quarto sem ar condicionado. Posso ter a opção de mudar de quarto, mas minha mãe faria eu mesmo transportar as coisas. Podia também pedir para instalarem um ar, mas daí iria ter muita poeira durante dias. É melhor ficar acordado mesmo.
Levanto e fico parado na janela, gostaria de dar uns passeios fora do condomínio porém não posso sair sozinho na rua por conta dos fãs malucos do meu pai e dos meus irmãos.

Já teve casos de garotas que me deixaram literalmente nú no meio da rua. Ainda tiveram a ousadia de leiloar a minha roupa com o título no anúncio ''peças que passaram pela mesma lavanderia que as roupas dos gêmeos Alexandre e Talia Salvatore''

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