Capítulo 11 - Realmente há o amanhã?

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Madrugada de Sábado, 24 de Agosto de 2019

Estou caminhando em direção a minha casa, vejo as árvores que emergem do solo, com suas raízes protegidas para que o concreto das calçadas não interfira em seu crescimento e evolução, ouço pássaros piando nos galhos e sinto uma paz perturbadora. Me aproximo da porta de casa e me surpreendo ao entrar e encontrar tudo severamente organizado, me olho no espelho ao lado da estante e estranho o fato de estar com os cabelos ruivos e espetados. Não me lembro de ter feito esse penteado.

- Filho, você já está de volta, que bom, me ajude aqui – escuto uma voz familiar vindo da cozinha, forço meus pés a marcharem em direção ao cômodo e sinto meu coração acelerar perigosamente ao notar a figura feminina com os longos cabelos negros soltos como um véu, minha boca seca e meus olhos se enchem de lágrimas. Ela está aqui.

- Mãe? Você... Eu tenho que... – as palavras me faltam e fico estagnado no mesmo local, observando a mulher mover os objetos à sua frente, fazendo sabe-se lá o que, algo que não pude focar no momento, ocupado demais em absorver a imagem da pessoa que vinha me fazendo tanta falta.

Ela se vira para mim e dá o mais belo sorriso que já vi em minha vida, sua expressão é imaculada e alegre, um brilho intenso jaz em seus olhos e não impeço as lágrimas de escorrerem por minha face.

- Eu estou morta, Ejirou, isso não faz mais diferença – sua fala me quebra totalmente e sinto o ar faltar nos meus pulmões, em um milésimo de segundo que levo para piscar os olhos, tudo muda. Ela não está mais ali, a casa está um verdadeiro campo de guerra, tudo não passou de uma breve ilusão da minha mente doentia. Isso é um sonho? Um pesadelo? Talvez quem sabe, apenas mais um delírio, saio da casa imediatamente e me ponho a correr com meus olhos transbordando e a boca cerrada em agonia, as pessoas me olham, mas não veem através de mim, não conseguem enxergar a minha dor, a minha frustração.

 Me pego no meio de uma ponte e olho para baixo, observando atentamente os carros que passam a toda velocidade, preocupados demais em chegar aos lugares que precisam estar, com sua família, com seus amigos, com seus amores. Eu tenho quem me espere em casa? A resposta provavelmente é sim, mas não alivia o peso em meu peito. Por que uma pessoa só me faz tanta falta? Por que eu simplesmente não sigo em frente?

 Talvez eu deva mesmo seguir em frente, mas aqui, em cima dessa ponte, se eu me jogasse seria o fim, da dor, do medo, da insatisfação... No final, eu sou apenas um egoísta, não consigo aceitar que a morte leve a pessoa que me trouxe ao mundo, portanto, forçarei a vida a se desfazer de mim também. Subo no batente do viaduto e olho para baixo estremecendo ao sentir o vento que sopra violento em minhas costas, como um incentivo para o desequilíbrio que me levará a algum lugar desconhecido. Fecho os olhos e me preparo para cair, mas uma voz distante clama meu nome como se não houvesse amanhã, mas será que realmente não há?

Acordo levantando-me bruscamente, tentando puxar um pouco de ar para os pulmões que parecem estar totalmente desprovidos de qualquer oxigênio, respiro ofegante tentando acalmar as batidas do meu coração, levo a mão ao peito e aperto a camisa entre os dedos procurando suportar a impotência que se espalha pelo meu corpo, o ambiente se torna cada vez mais apertado, ou talvez eu quem esteja sufocando como se afundasse em um rio profundo de águas agressivas e tortuosas, minha mente trabalha tão rápido que sou incapaz de distinguir a realidade, eu sinto que estou prestes a morrer, talvez eu vá morrer, devo morrer?

- Kirishima – ouço a mesma voz que havia escutado em meu sonho, é Bakugou quem se senta ao meu lado e procura se inteirar sobre o que se passa comigo neste exato momento. A vergonha me deixa inerente ao seu chamado, me sinto um fracassado inútil e me sinto constrangido por proporcionar essa visão deprimente ao loiro. Ainda não consigo respirar e inclino meu corpo ainda mais para frente, temendo que meu rosto contraído em agonia seja visualizado por completo. Levo a mão esquerda ao rosto, deixando o nó em minha garganta queimar pelo pranto que ameaça surgir, mantenho a mão direita sobre o peito temendo que meu coração exploda batendo tão furiosamente. – Ejirou, porra, fala comigo.

Depressed || KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora