Capítulo 1

418 23 0
                                    

Após três anos em Roma, era bom finalmente voltar para casa. Sentia falta dos cheiros e da tranquilidade da Sicília, da recepção calorosa e de ser reconhecida por todos. Foi bom estar algum tempo longe dos problemas e poder focar em mim, estudar coisas novas e conhecer pessoas de fora desse mundo, do meu mundo.

A máfia, ou a famiglia, nunca me incomodaram. Meus pais sempre me alertaram de todos os riscos, sempre andei com diversos seguranças, conhecia todas regras e minhas obrigações. Os DiFontana controlam a província de Palermo e fazem parte do carroselo, mantendo as tradições sicilianas. E como manda a tradição, é hora de me casar e fortalecer as alianças.

- Anda Helena, vamos logo! Precisamos decidir milhões de coisas antes de ver o seu vestido. - Minha mãe me alertou, entrando no quarto e abrindo as cortinas.

Eleonora DiFontana é uma mulher de gênio forte, sempre consegue o quer. Única herdeira dos Bellini, família que controlava a província de Trapani, casou-se com o signore de Palermo, Maurizio DiFontana, meu pai. Assim, os DiFontana conseguiram controlar parte do norte da Sicília e firmar seu posto dentro do carroselo. Afinal, tudo gira em torno do carroselo.

- Va bene, mama. Já acordei. - Disse, me espreguiçando e levantando da cama. - Vou me arrumar e já desço para irmos.

- Buongiorno, principessa! - Mamãe disse, e me deu um beijo. - Estava com saudades. Agora, ande depressa. Se non Antonella vai escolher todos os detalhes do seu casamento.

- Eu confio nela, mama. Se tem alguém que conhece meus gostos, é Antonella.

Antonella Salvatore é minha melhor amiga desde sempre. Ela esteve presente em todos os momentos importantes e sempre me tirava das enrascadas, mesmo que a maioria fosse culpa dela. Ela ficou a cargo de escolher os detalhes desse casamento, afinal eu estava me formando e não largaria a faculdade para escolher flores.

Depois de pronta, desci e passei na cozinha rapidamente. Apenas uma xícara de café e um pedaço de bolo já me dariam energia para aguentar horas de conversas sobre o evento do ano, meu casamento. Dona Eleonora já me esperava no hall de entrada quando cheguei mastigando meu pedaço de bolo e lambendo os dedos.

- Per Dio, Helena! Non faça isso. Sente-se e coma como uma dama. - Mamãe me repreendeu. - Imagina se os Sartori chegam aqui e você está lambendo os dedos, toda lambuzada de chocolate?

- Os Sartori estão aqui? - Perguntei, sentindo um frio na barriga.

- Estão pra chegar a qualquer momento. Angela e Alessa querem ajudar com os preparativos.

Um misto de ansiedade e nervosismo tomaram conta de mim. Eu não via os Sartori desde os 16 anos, quando passamos as férias de verão juntos. Conversava e encontrava com Alessa de vez em quando, afinal ela era uma mistura de amiga e quase prima. Mas o signore Sartori e seus filhos eu não via há anos.

Mamãe me puxou para o carro e foi me contando o que estava pronto, o que faltava escolher e outras coisa que não prestei atenção. Minha cabeça estava longe, em lembranças de infância, de crianças correndo e sorvetes. Eu não o via desde os 9 anos, quando, durante as férias, ele precisou ir embora para fazer a mesma viagem que meu irmão fez. A viagem que o transformaria em homem, como ele mesmo dizia.

Quando o carro parou em frente a uma loja de vestidos, a porta foi aberta e uma mão me puxou com força para fora. Em seguida, braços finos e macios, com cheiro de lima, me apertaram.

- Quem é a minha noiva favorita no mundo inteiro?! - Antonella gritou no meu ouvido.

- Ciao pra você também, sua louca. - Apertei meus braços em volta dela e demos pulinhos igual duas crianças.

Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)Onde histórias criam vida. Descubra agora