Um pulsante latejar em minha cabeça me desperta. É como se milhões de martelinhos estivessem batendo nela, causando uma dor horrível. Tudo está tão vago e pesado que meu cérebro não processa se estou realmente consciente ou não.
A sensação é a mesma de quando operei, há muitos anos atrás, e precisei tomar uma anestesia geral. Quando acordei, tive essa mesma impressão. É como se estivesse acordando não apenas de um sono, mas quase que da morte.
"Há quanto tempo estou deitada aqui?"
Me remexo sobre um colchão duro e minha cabeça reclama. Não há uma única fonte de dor. Tudo lateja, me fazendo acreditar que me mover pode tornar as coisas ainda piores.
"Preciso despertar, preciso levantar..."
Abro os olhos lentamente, mas tudo está tão escuro que não tenho certeza se realmente os abri. O medo vai se apossando de mim enquanto me dou conta de que não estou em um hospital.
"Onde, diabos, eu estou?"
Tateio o colchão em busca da borda e empurro os cotovelos até me sentar, ignorando as marteladas em minhas cabeça. Antes de deslizar os pés para fora da cama, tateio o corpo me examinando. Ainda estou usando a calça de linho e o suéter, mas minhas botas sumiram. Estico as pernas para fora da cama, sentindo o chão gelado e úmido sob meus pés.
Uma fisgada repuxa a lateral da minha barriga e preciso de um minuto para recuperar o fôlego. Respiro profundamente. O cheiro acre do ambiente invade minhas narinas e revira meu estômago.
Deslizo as mãos pela cama, tateando o ambiente até encontrar uma parede para me apoiar enquanto fico de pé. Impulsiono o corpo, me forçando a levantar e, cautelosamente, dou um passo após o outro.
Aos poucos, meus olhos vão se acostumando com a escuridão e, do outro lado do que julgo ser um quarto, distingo uma porta pelo leve feixe de luz que passa por debaixo dela. Sentindo uma dor agoniante, caminho até a porta e forço inutilmente a maçaneta.
- Ei! Tem alguém aí? - Bato na porta. - Per favore, eu preciso sair!
O silêncio vem como resposta. Estou sozinha e não tenho a menor ideia de como cheguei até aqui. Fico parada por um momento, tentando me lembrar de algo, qualquer coisa, mas o latejar em minha cabeça me desconcentra. O medo começa a se apossar de mim mais uma vez.
"Que lugar é este? Como cheguei até aqui?"
Meus olhos se enchem de lágrimas e minha garganta se fecha com o choro.
Meus pensamentos se voltam para Romeo. Minha última lembrança é de estar com ele no restaurante e ir ao banheiro. O gosto amargo do suco de melancia enche minha boca e revira meu estômago de novo.
- Eu estava passando mal e fui ao banheiro. - Balbucio baixinho, ouvindo o eco da minha voz no silêncio do quarto.
E de repente... "De repente a porta se abriu e ele estava lá para me ajudar".
- Giovanni! - Dou tapas na porta até minhas mãos doerem. - Giovanni, você está aí? GIOVANNI!!
Grito com tanta força que meus pulmões ardem e uma nova fisgada na lateral do corpo toma uma respiração à força. A dor é tão forte que me obriga a agachar e, na esperança de mandá-la embora, envolvo minha barriga com os braços.
- Per favore, babino. Fique quietinho. - Sussurro para a escuridão.
Segurando o choro, volto lentamente para a cama, me guiando pela parede, e me deito sobre o colchão. O cheiro de mofo vai se impregnando em meus sentidos, fazendo meu nariz coçar.
Limpo as lágrimas que escorrem com as costas das mãos e tento ser forte. "Preciso ser forte por meu bambino", é o que me mantém firme. Não quero que a dor e o desespero me vençam. Me encolho no colchão duro e tento me acalmar.
Algum tempo depois, o silêncio ensurdecedor é quebrado. Passos do lado de fora do quarto chamam a minha atenção e, no instante em que a maçaneta da porta gira, eu me sento na cama. A claridade que entra no quarto, assim que a porta é aberta, machuca meus olhos. Como reflexo, fecho-os antes de identificar quem está do outro lado.
Enquanto minha visão se acostuma à claridade repentina, os passos se aproximam de mim e uma voz familiar reverbera pelo ambiente, enchendo meus ouvidos com alegria.
- Scusa pela escuridão, Helena.
- Giovanni! - Pulo cama e me jogo de encontro ao seu corpo.
Ele me abraça forte e acaricia lentamente o topo da minha cabeça. Aperto seu corpo contra o meu, sentindo a segurança de estar em seus braços. Nesse momento esqueço a dor e o medo, e me aconchego no colo de Giovanni.
- O que está acontecendo? Por que estou aqui? Cadê Romeo? - Despejo meus anseios sobre ele.
- Tudo no seu tempo, Helena. - Giovanni beija minha testa. - No momento preciso manter você segura.
- Segura do quê? - Questiono. - Romeo pode me manter segura.
- Claro que pode. - Ouço desdém em sua voz. - Tanto pode que eu te trouxe até aqui e ele nem imagina onde você está. E tudo aconteceu bem debaixo do nariz dele.
Empurro o corpo de Giovanni e me afastando dele apenas o suficiente para tentar encarar seu rosto na escuridão.
- Giovanni, o que está acontecendo?
- Vocês terão um menino. - Ele diz, com a voz fria e sem emoção. - Alguém para assumir o lugar de Romeo caso aconteça algo com ele.
- P-por que...? - Por que ele está dizendo isso, quero perguntar. Mas Giovanni interrompe minha fala.
- Ainda tem pessoas querendo matar seu marido, Helena! Dio, será que você non enxerga isso? - A raiva dele ecoa pelo quarto de um modo que nunca vi.
Essa é a primeira vez que sinto a raiva ser destilada em suas palavras. Mas, há algo mais em seu tom de voz. Algo como ressentimento, inveja...
- Giovanni. - Tento firmar minha voz para que ela não entregue meus anseios. - O que está acontecendo?
- Cazzo, Helena! - Ele se afasta de mim e começa a andar pelo quarto. - Se descobrirem que é um menino, vão executar você e o bebê. E só depois atacar Romeo.
- Q-quem...? - Gaguejo.
- Os capos que querem tirá-lo do poder. - Giovanni levanta a voz. - Estou te escondendo para te proteger.
- Grazie. - Balbucio. - Mas precisamos avisar Romeo, ele deve estar preocupado.
- Sì, claro. - Giovanni murmura. - Mas por enquanto fique aqui, é mais seguro.
E antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele se vai. Giovanni sai apressadamente do quarto, me trancando aqui dentro outra vez. O desespero volta a tomar conta de mim.
"Se ele fez isso para me proteger, já era para Romeo saber disso. Non seria necessário avisá-lo", meus sentidos gritam para mim.
Aquele conhecido frio na espinha sobe por minha coluna. Consigo sentir em meus ossos que algo está errado, mas não consigo identificar o quê.
Minha cabeça começa a fervilhar com o que Giovanni disse. "Vão tentar me matar antes de atacarem Romeo. Significa que ele nunca esteve a salvo. Mas quem? E como Giovanni pode saber? Mas, se ele sabe... Por quê non avisou Romeo?".
O latejar volta a ressoar em minha cabeça e junto com ele, aquela dor que me rouba a respiração mais uma vez.
Minha garganta começar a se fechar, impedindo o ar de preencher meus pulmões. Tateando as paredes, tento chegar até a cama para me sentar, mas minha pernas estão tão bambas que desabo no chão.
A escuridão começa a girar em torno de mim, levando minha consciência como a água descendo por um ralo.
Não tenho forças para lutar. Deixo a escuridão me consumir juntamente com a dor que se apossa de meu corpo. Algo quente escorre por meu rosto e um último suspiro escapa dos meus lábios.
- Scusa, bambino. - E então tudo volta a ficar preto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
Romanzi rosa / ChickLitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...