Desde o almoço de domingo eu não encontrará Giovanni. Algumas vezes ouvia sua voz pela casa ou o via de longe, mas era como se ele estivesse me evitando e eu não sabia realmente porque. Apesar de não poder fazer muito, a situação toda me incomodava e eu estava desesperada para encontrá-lo perdido pela casa e lhe dizer umas boas verdades. Giovanni estava agindo como uma criança e isso me incomodava. Sempre me incomodou.
"- Alessa, vá chamar Giovanni para começarmos o jogo. - Enrico pediu.
- Já chamei, mas ele non quer descer. - Alessa respondeu com a vozinha triste.
O dia estava frio e chuvoso, então resolvemos pegar um jogo de tabuleiro para brincarmos. Mama estava doente e pediu que não fizéssemos muita bagunça, pois sua cabeça doía. E, como sempre, para mostrar que era responsável, Enrico decidiu o que faríamos, controlando toda a situação.
- Por quê ele está de birra agora? - Meu irmão perguntou olhando para Romeo.
- Oh, non. Nem pense nisso. - Romeo levantou-se do sofá, balançando as mãos. - Eu non briguei com ele. Non dessa vez.
Em um canto da sala, eu me encolhi. Eu sabia porque Giovanni não queria brincar conosco e a culpa dele estar emburrado era minha.
- Se ele non quer descer, vamos começar o jogo. - Enrico falou.
Depois de duas partidas e um filme, tia Angela nos chamou para o lanche. Novamente Giovanni não quis se juntar a nós. E assim seguimos durante mais dois dias. Ele se trancava dentro do quarto todas as manhãs e só descia para as refeições depois que todos já havíamos terminado. Quando queria, Giovanni sabia como controlar as pessoas e fazer com que sentissem pena dele. E foi exatamente isso que fez comigo.
Depois de dois dias remoendo minha culpa, tomei a coragem necessária para enfrentá-lo. Enquanto todos se divertiam no jardim, subi sorrateiramente até o segundo andar e parei em frente ao quarto de Giovanni e Romeo. Respirei fundo e dei três batidinhas na porta.
- Giovanni? - Chamei. - Sou eu, Helena. Posso entrar?
Silêncio.
- Giovanni? - Chamei de novo, batendo mais uma vez na porta. Silêncio. - Per favore? - Tentei uma última vez.
Sentindo a derrota tomar conta de meu corpo, apoiei a testa na porta. Fechei os olhos com força, lutando contra a vontade de chorar. O barulho da chave destrancando a porta chamou minha atenção e levantei a cabeça imediatamente. Do outro lado, Giovanni me encarava sério.
- O que você quer Helena?
- Me desculpar. - Admiti, derrotada. - Non queria te deixar triste.
- Mas deixou, Helena. - Ele fixou o olhar em mim, fazendo com que eu me sentisse insignificante. - Você non pode sair falando coisas sem se preocupar com os sentimentos dos outros.
- Scusa, eu non queria...
- Non se trata de querer ou non. - Giovanni assumiu a postura de um adulto. - Você me magoou e nem se desculpou depois. Levou mais de dois dias para vir aqui.
Meu olhos encheram de lágrimas e meus lábios começaram a tremer, uma tentativa inútil de segurar o choro. Eu magoei meu amigo e não sabia como consertar as coisas, não sabia nem o que tinha feito de errado. Por mais que eu me desse bem com Romeo, eu também gostava de Giovanni e não gostava de ficar brigada com ele.
- Va bene. - Giovanni sorriu, abraçando-me. - Eu te desculpo.
Um sentimento de alívio e rancor passou pelo meu corpo. Alívio porque, finalmente, meu amigo me desculpará e agora podíamos nos divertir juntos. E rancor porque eu não tinha feito nada de mais e estava sendo julgada injustamente."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
ChickLitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...