Assim que Cory se foi, Antonella apareceu. Tive a leve impressão de que ela estava, de longe, vigiando para ver o que aconteceria. Quando perguntei porque a demora, ela disse que o banheiro estava cheio e que precisou retocar a maquiagem. Mas o olhar travesso em seu rosto, me dizia outra coisa.
Pedimos nossas bebidas, dessa vez uma coca com rum e limão e uma água de coco, e nos aproximamos do palco. Luzes fracas, com tons azuis, se acenderam, iluminando a banda que começou a tocar.
- Essa noite, vamos começar com uma música diferente, com uma pegada mais lenta e romântica. - O vocalista disse e tive a sensação de conhecer aquela voz. - Em homenagem a uma pessoa, uma amiga - sua voz hesitou - que fiz hoje.
Assim que começou a cantar, luzes em tons amarelados iluminaram o vocalista e meu coração disparou dentro do peito. Com a mesma camisa e jeans rasgados, mas agora com os cabelos amarrados e um boné, Cory deu sentido à melodia, cantando com uma voz rouca e macia.
Ele era realmente muito bom. Suas músicas, em um estilo country misturado com uma balada rock, animavam o público e faziam diversas mulheres suspirarem. Ele não se transformava ao subir no palco, não assumia a pose estrela da música. Cory continuava com o mesmo jeito sereno que demonstrou no bar.
A noite passou em um estalar de dedos e eu mal me dei conta. A voz, assim como os olhos verdes de Cory, me hipnotizou de uma forma complexa. Meu corpo estava ali, parado no meio da multidão, mas minha mente estava a milhas de distância. A sensação de familiaridade aumentava a cada nova música que ele cantava.
Por um momento, esqueci de Romeo e dos nossos problemas, esqueci da máfia e das disputas, esqueci todos os meu anseios, mágoas e tristezas. Ali, eu era apenas uma garota comum que estava se divertindo.
Eram quase 4h da manhã quando Antonella puxou meu braço, quebrando o feitiço que Cory mantinha em mim. Ela me mostrou o celular, que piscava a medida que Enrico insistia em chamar. Fomos em direção à entrada da casa de show, procurando um lugar um pouco mais silencioso para atender a ligação.
- Por que ele está ligando uma hora dessas? - Perguntei.
- Non sei. - Antonella encarava o aparelho vibrando. - Eu non disse que iríamos sair.
- Você postou alguma foto? - Ela me olhou assustada, arregalando os olhos. - Cazzo, Antonella! Atende logo.
- Pronto. - Sua voz saiu rouca. - Calmati, Enrico! Estamos bem.
Antonella ficou alguns segundos em silêncio, apenas ouvindo o que meu irmão resmungava do outro lado. E então, me estendeu o telefone. Senti minhas pernas fraquejarem antes de pegar o aparelho. Inspirei fundo, tomando coragem e atendi.
- Ciao, Enrico.
- Non, Helena. Sono io. - Romeo falou sério, com a voz grave, do outro lado da linha.
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Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
ChickLitÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...