Mesmo com uma atmosfera mórbida, as catacumbas sempre me passaram uma sensação de paz e tranquilidade. Talvez pelo silêncio e pelo respeito que os visitantes demonstram quando visitam o local. Ou então por terem sido consideradas milagrosas pelos frades.
- Esse lugar é bizarro. - Cory sussurrou em meu ouvido. - O que estamos fazendo aqui?
- Estou te apresentando Palermo. - Brinquei.
- Poderia ter me levado à um bar. - Retrucou, fazendo uma careta. - Vou ficar sem dormir por meses depois desse passeio.
- Para mim, esse lugar deixa claro que non somos nada. Nosso tempo aqui é passageiro. - Encarei os olhos verdes de Cory. - Por mais dinheiro, status ou poder que se tenha, no final o que vai sobrar é apenas uma carcaça magra, desbotada e triste.
- Tem certeza que está tudo bem? - Questionou, a preocupação evidente em seu olhar.
Apenas acenei com a cabeça e Cory me fitou por alguns segundos. As duas esmeraldas observavam cada mínimo movimento que meu rosto fazia, tentando decifrar algo que eu não estava dizendo. A intensidade de seu olhar fraquejava meus ossos. Era como se esperasse que eu fosse quebrar a qualquer momento e quisesse garantir que estaria ali para pegar os pedaços.
Seus dedos ásperos acariciaram minhas bochechas macias. Cory segurou meu queixo, levantando minha cabeça a fim de manter o contato visual, tentando decifrar palavras no meu silêncio. Observei suas pupilas dilatarem e o verde de seus olhos ser substituído por um tom cinza, quase preto.
Sua expressão ficou séria e ele travou os lábios, formando uma linha fina de pele rosada. Cory soltou meu rosto e me encarou por alguns segundo antes de emaranhar as mãos nos cabelos, puxando os fios loiros para trás.
- Eu sei que você não tem motivos para confiar em mim, - ele suspirou. - Mas será que pode me dizer o que está acontecendo?
Meu corpo inteiro tremeu, ressoando o pedido sincero de Cory. Uma onda de choro se formou em minha garganta, prendendo minha voz lá no fundo. Meus olhos arderam quando tentei segurar as lágrimas que haviam se formado.
Como eu explicaria pra ele o que está acontecendo? Como ele poderia entender algo sem ter conhecimento do meu mundo? Como ele poderia me ajudar se eu não posso contar a verdade?
Um longo suspiro escapou de meus lábios, junto com algumas lágrimas. Cory prontamente às secou com a ponta dos dedos e me puxou para perto, me prendendo em um abraço forte. O corpo quente e grande dele acalmava lentamente o turbilhão de emoções que sacudia o meu.
Ficamos alguns minutos assim, envolvidos um nos braços do outros. Com respirações e batimentos cardíacos sincronizados. A sensação de segurança me dominando e relaxando meu músculos a cada segundo.
Lentamente ele afastou nos afastou, encostando a testa na minha e fechou os olhos com força.
- Tudo bem se não quiser me contar. - Ele disse baixinho, quase um sussurro. - Vou estar do seu lado enquanto você precisar.
- Grazie. - Respondi com toda sinceridade possível. - É bom saber que tenho alguém do meu lado.
Seus olhos se abriram e ele me encarou confuso e surpreso.
Não é como se todos estivessem contra mim, mas Cory confiava mais em mim do Romeo. Consequentemente, eu me sentia mais segura com ele do que com meu próprio marido. Como isso é possível? O que há de errado comigo?
Minha mão foi tomada pela sua e ele guiou nosso caminho para fora das catacumbas. Seguimos até uma cafeteria próxima e ocupamos uma mesa mais ao fundo do lugar. Cory puxou uma cadeira para que eu me sentasse e se acomodou no lugar à minha frente.
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Despedaçados [COMPLETO] - (Série Vespri Siciliani - LIVRO UM)
Literatura FemininaÉ fato que as pessoas mudam ao decorrer da vida. Mudam de aparência, de gostos, de estilos, de modos. Mudam por fora e por dentro. Mas nem sempre as mudanças são boas. Muitas vezes elas despertam o que há de pior dentro de alguém. Helena DiFontana s...